ELEIÇÕES 2022

PT de Pernambuco vai afastar dirigente que não seguir orientação de apoiar Danilo Cabral

Avaliação é de que apoio a outros candidatos enfraquece não só campanha de Danilo, mas também de Teresa Leitão e Lula

Brasil de Fato | Recife (PE) |
Segundo Secretaria Geral do PT Pernambuco, há dirigentes e detentores de mandato apoiando candidaturas de Marília Arraes, Miguel Coelho, Anderson Ferreira, e até a Jair Bolsonaro - Reprodução

Depois de ter expulsado em julho 11 dirigentes e detentores de mandato, o Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores (PT) de Pernambuco decidiu, na última sexta-feira (9), afastar os petistas que continuam endossando candidaturas fora da Frente Popular.

A avaliação da Secretaria Geral é de que o apoio a outros postulantes poderia prejudicar não só o pleito de Danilo Cabral (PSB) ao Governo, mas respingar também no da petista Teresa Leitão para o Senado e nos dos deputados federais e estaduais. Poderia ferir, inclusive, a campanha nacional do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O secretário geral do PT Pernambuco, Sérgio Goiana, disse ao Brasil de Fato que há dirigentes, vereadores, prefeitos e vice-prefeitos usando o nome do partido para declarar apoio a outros concorrentes ao Governo - desde Marília Arraes (Solidariedade) e Miguel Coelho (União Brasil) a Anderson Ferreira (PL) - até ao próprio presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição. 

“A gente falou: ‘se quiserem optar por outra candidatura, se afastem ou se desfiliem do cargo’. Infelizmente isso não aconteceu, as pessoas começaram a fazer faixa, convocar caminhada, passeata, dizendo ‘o PT de tal município apoia candidato A ou B’. Não dá para ter um partido que tem uma posição e ter dirigentes dele tomando um rumo diferente do encaminhado pela instância estadual e nacional”, avalia Sérgio.

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A aliança com o PSB foi selada no encontro estadual do PT no dia 15 de maio, ocasião em que se deliberou o apoio à Frente Popular de Pernambuco, com a indicação da então deputada estadual Teresa Leitão para senadora. “Tudo isso acordado com a direção nacional do partido”, completa o secretário.

“Precisamos dos votos do PSB, e o PSB precisa dos votos do PT. Não podemos estar com duas conversas, fazendo de conta que estamos apoiando o outro. Só vamos eleger Teresa se tivermos um Danilo forte. Essa é a grande questão: o governador puxa o senador - historicamente é dessa forma”, defende. 

“Temos a senadora indicada na chapa, que não pode se prejudicar por conta de uma situação dessa. E ao mesmo tempo tem Lula: se temos acordo nacional e os dirigentes não estão cumprindo no Estado, evidentemente que vai ter prejuízo na campanha de Lula.”

Sérgio completou que o diretório estadual abriu mão de uma candidatura própria ao Governo tendo em vista o projeto nacional de ter Lula como presidente. “A prioridade é a eleição de Lula. Então que a gente faça esse sacrifício. O centro do PSB nacional é aqui em Pernambuco, então temos que ter essa compreensão na política. Prefiro ter o Presidente da República que 27 governadores do PT. Pela política macro, a gente consegue sair da miséria e fome pela presidência, e não pelo Governo do Estado”, discorre.

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O afastamento dos dissidentes foi decidido por votação de 22 membros da executiva do partido. Foram favoráveis 16 dirigentes; os outros 6 não votaram no período estabelecido. A sigla ainda está fazendo a apuração dos nomes e ainda não fechou um número de quantos serão afastados. 

“O levantamento tem que ser feito de forma muito minuciosa e não estamos revelando os nomes porque eles precisam primeiro ser comunicados. (...) Eles serão afastados, todos permanecem filiados ao PT. Depois das eleições vamos discutir pela expulsão ou não. Tem todo um procedimento estatutário, tem que dar direito à defesa. Não pode expulsar ninguém a bel prazer. Por esse motivo não dá para fazer isso em campanha eleitoral.”

"Incoerência", critica vereadora expulsa do PT

Em compensação, Fany Bernal reclama da forma que ela e outros 10 colegas foram expulsos do partido na primeira leva, em julho. Vereadora por mandato coletivo em Garanhuns e ex-presidente do PT no Agreste Meridional, Fany também aponta como contradição a nova decisão de afastar quem apoia candidatos majoritários fora da Frente Popular, enquanto haveria dirigentes declarando voto a deputados de outras legendas.

 “Deputados que inclusive não têm nem identidade ideológica com o projeto do nosso presidente Lula. Ele vai precisar não só que sejam eleitos os governadores, mas principalmente os deputados federais. Isso para mim é incoerência”, pontua.

Narrando a linha do tempo da sua expulsão, ela relembra a plenária onde foi decidido que o PT não teria candidatura própria, no Recife, e diz que só participaram da reunião alguns delegados e parlamentares da sigla. “Por exemplo, não foi nenhum delegado do Agreste que eu tenha conhecimento.” 

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Na plenária do Agreste Meridional, Fany conta que fez discurso em tom de autocrítica sobre a aliança com o PSB que, na sua visão, estaria “acabando com todos os partidos, inclusive com o PT”. "Eu fiz uma fala trazendo que a gente entendia toda a hierarquia do partido, mas que nosso diretório ainda não tinha chegado a um posicionamento, e que a base deveria ter sido consultada”. 

Ela reforça que até então não havia declarado voto a Marília. “Esse posicionamento já tinha sido externado em gestos de outros parlamentares e diretórios. Aqui no nosso entorno, quatro parlamentares e um presidente de diretório fizeram eventos para ela na pré-campanha. Eu caminhei com ela, tirei foto com ela, mas fui a única que não fez evento.”

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Depois da plenária, Fany chegou a colocar a possibilidade de se afastar do partido para não prejudicar as candidaturas, em reunião com o presidente estadual do partido, Doriel Barros, que teria assegurado que não seria necessário. Na sequência, soube por colegas que o PT havia deliberado a expulsão de alguns partidários, incluindo ela. A equipe de reportagem do Brasil de Fato Pernambuco tentou contato com o presidente Doriel Barros, mas não obtivemos resposta até o fechamento desta matéria. O espaço segue aberto.

“Os critérios que foram colocados para a expulsão foi que eram parlamentares ou dirigentes - e no meu caso, eu era os dois -, e que a ideia era evitar que a militância aderisse à candidatura de Marília e houvesse uma debandada de lideranças políticas para o palanque dela em outro partido”, fala.

Eles elaboraram o manifesto “Optei Marília”, declarando a decisão de apoiar a candidatura da ex-deputada federal. “O manifesto [é um mecanismo] previsto no Estatuto do partido, uma forma legal que a gente tinha de se manifestar. Ele tomou grande proporção e acabou sendo a desculpa utilizada para as nossas expulsões.”

“Alguns dias depois do lançamento, recebemos as notificações, sem acesso à denúncia. Temos o direito de nos defender sabendo da nossa denúncia. Eu sou advogada de formação e solicitei acesso aos autos. Apresentei minha defesa oral, mas o direito a ter um advogado dos outros companheiros foi cerceado. Eu me coloquei para fazer a defesa deles, mas o presidente decidiu que cada notificado iria fazer sua defesa pessoal. Outra violência que a gente entende nesse espírito democrático”, critica.

A expulsão foi oficializada em julho. Fany decidiu entrar com recurso à instância superior do PT e o processo está em trâmite. “Cheguei a considerar judicializar o procedimento, isso é algo que não está descartado, pelo tanto de violência e desrespeito que houve. Mas inicialmente decidi continuar com o procedimento administrativo nas instâncias internas”, diz.

No entanto, Fany deverá continuar sem partido no mandato coletivo de vereadora pelos próximos meses. Segundo ela, as demandas administrativas só serão analisadas depois das eleições, “muito provavelmente em janeiro e fevereiro”. 

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Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Vanessa Gonzaga