Eleição

MST busca “contraofensiva institucional” com 15 candidaturas próprias; conheça cada uma delas

Distribuídos em 12 estados brasileiros, 10 dos integrantes do movimento pleiteiam cargos estaduais e cinco, federais

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Segundo o MST, o foco segue sendo a ocupação de latifúndios na luta pela reforma agrária popular - MST

Nestas eleições de 2022, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) lança 15 candidaturas próprias. Elas disputam cadeiras legislativas nas instâncias estaduais e federal. Embora a disputa institucional não seja inédita para o movimento, é a primeira vez que ela acontece com essa quantidade e de forma coordenada.  

A defesa da reforma agrária, avalia o MST em um documento sobre o tema, necessita de apoio “não apenas de governos, em diferentes níveis, mas também nos espaços legislativos”. Explicando que a análise vem a partir dos 38 anos de existência do movimento e de um entendimento de que atualmente “forças neofascistas ameaçam o futuro do país”, o MST descreve o lançamento de suas candidaturas como uma “contraofensiva no campo institucional”. 

Leia também: "O futuro do Brasil está em jogo": com 15 candidaturas, MST põe peso inédito na eleição

“Nosso foco estratégico vai continuar na mesma direção, que é a ocupação de terra para a reforma agrária popular”, ressalta João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST. “Mas, agora, vamos também fazer a disputa institucional, com um debate massivo de combate ideológico e de concepções de economia que enfrentem o governo Bolsonaro e a política neoliberal da terceira via”, diz.  

Para João Paulo Rodrigues e Alexandre Conceição, também da direção nacional do MST, a escolha do movimento por dar mais peso para a disputa institucional contribui para a eleição do candidato petista à presidência e também para “a governabilidade de Luiz Inácio Lula da Silva”. 

:: Meirelles, Boulos, Marina: quem são os ex-candidatos à Presidência que apoiam Lula no 1º turno? ::

Todas as candidaturas do MST são pelo Partido dos Trabalhadores (PT), com exceção de uma, que é pelo Partido Comunista do Brasil (PCdB). Conheça cada um deles. 

Candidaturas para deputado/a estadual 

Job Martins  - Roraima 

Indígena do povo Karipuna, Job Martins dos Santos nasceu em Porto Velho (RO) e se mudou para a capital de Roraima no final dos anos 1980. Job tem 62 anos e participa ativamente de grupos de cultura, como de teatro e associações de artistas plásticos. Desde 2016 integra o MST: além de fazer parte da direção estadual do movimento em Roraima, contribui principalmente no setor de comunicação e articulação. É a primeira vez que disputa uma cadeira na Assembleia Legislativa do estado.  

Lula do Assentamento - Rondônia 

O apelido de Valceir Gomes de Lima já diz: não só ele não é o mesmo petista que pleiteia a presidência da República como é, também, um assentado pela reforma agrária. Agricultor, Lula nasceu em Colatina (ES) e há décadas vive na região norte do país. Em Rondônia ingressou no sindicato dos trabalhadores rurais e em 1989, no município Alto Alegre dos Parecis, o Assentamento Che Guevara, onde vive, foi regularizado. Nesta cidade ele foi eleito vereador em 2016. Agora, busca ser deputado estadual de Rondônia. 

Missias Dias - Ceará 

Nascido em Ipueiras (CE) numa família de agricultores, Missias é o quinto de sete irmãos. Sua trajetória se mistura com a história da luta do MST no Ceará. Com sua família se mudou para a cidade de Cratéus e cresceu na ocupação da fazenda Serrote que, mais tarde, se tornaria o Assentamento Palmares. Ainda adolescente começou a militar no movimento e hoje integra a coordenação nacional. Presidiu a Cooperativa Central das Áreas de Reforma Agrária (CCA-CA) e, neste ano, concorre pela primeira vez a uma vaga na Assembleia Legislativa cearense. 

Vânia Ferreira - Maranhão 

Pedagoga, formada pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), Gilvânia Ferreira começou seu engajamento político na igreja católica. Atuando na Pastoral da Juventude e nas Comunidades Eclesiais de Base, conheceu o MST em 1987 (três anos após o seu surgimento). Em 1989, Vânia contribuiu com a primeira ocupação de terra que o movimento fez na Paraíba. Natural de lá, da cidade de Alagoa Grande, hoje em dia Vânia reside no Maranhão, onde atua no setor de Frente de Massa do MST desde 1992. Suas propostas são em defesa, principalmente, da educação e do direito à terra. 

Rosa Amorim – Pernambuco 

Mulher negra e LGBTQIA+, Rosa nasceu no Assentamento Normandia, em Caruaru (PE), e cresceu entre cirandas, marchas e ocupações. Aos 11 anos entrou no movimento secundarista e participou de lutas pela redução da tarifa do transporte público. Em 2016 cursava teatro na Universidade Federal de Pernambuco quando, por participar de ocupações das universidades, foi suspensa da instituição. O caso deu visibilidade a ela e à luta contra o desmonte da educação pública no estado. Rosa é diretora de cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE) e integra o Levante Popular da Juventude. “Cada vez mais fazemos contraponto a esse projeto que vigora hoje no país, de que jovem não deve fazer política”, afirma.  

Lucinha do MST – Bahia 

Vera Lúcia Barbosa é natural de Eunápolis, no extremo sul da Bahia. Mas conheceu o MST, no qual atua já há três décadas, em Itamaraju. Tendo como uma de suas bandeiras principais a defesa do direito das mulheres, Lucinha tem experiência em cargos institucionais. Em 2011 foi secretária de Políticas para Mulheres da Bahia e em 2015 assumiu a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, no governo de Rui Costa (PT). Atuante na organização de manifestações em oposição ao presidente Jair Bolsonaro (PL) na Bahia, ela é secretária nacional de movimentos populares do PT.  

Valdir Misnerovicz - Goiás 

Geógrafo gaúcho, José Valdir Misnerovicz mora no Assentamento Canudos, do MST, em Palmeiras de Goiás. Ali, ele desenvolve um projeto de produção agroecológica. Foi por meio da militância na igreja católica que Valdir se aproximou de outros movimentos e ajudou a fundar o PT no município. Integrou, também, o departamento rural da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Em Goiás, onde vive desde 1999, ele busca, agora, ser eleito como deputado estadual.   

Antônio Marcos Bandeira – Tocantins 

Filho de camponeses da região do Bico do Papagaio, Antônio Marcos começou a militar no MST em 2004. De lá para cá, já foi membro da direção nacional e, atualmente, aos 41 anos, atua no setor de direitos humanos do movimento e cursa a graduação em Direito. Em 2018 ele disputou uma vaga na Assembleia Legislativa de Tocantins e, agora, tenta uma vez mais. 

Marina do MST – Rio de Janeiro 

Nascida no Paraná, Lucia Marina dos Santos vive na capital carioca desde 1996. Quando chegou no Rio de Janeiro, já integrava o MST havia sete anos. No Rio, fez graduação em serviço social e mestrado em geografia. Tendo sido articuladora da Via Campesina e da Coordenação Latino-americana de Organizações do Campo (CLOC), Marina tem como bandeiras primordiais a luta por soberania alimentar, agroecologia e o combate aos agrotóxicos. 

Adão Pretto Filho – Rio Grande do Sul 

Conhecido como Adãozinho, ele é um dos nove filhos de Adão Pretto, um dos fundadores do MST e que, já falecido, foi o primeiro sem-terra a ocupar uma cadeira de deputado estadual, eleito em 1986 para compor o parlamento gaúcho. Adão Pretto Filho atualmente tem 34 anos e começou sua militância jovem, já no campo institucional. Foi secretário da Juventude do PT, coordenou campanhas de seu pai e seu irmão, Edegar Pretto (que agora concorre ao governo do estado gaúcho). Trabalhou no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Rio Grande do Sul em 2006 e, em 2011, dirigiu a Secretaria de Cultura e Esporte da prefeitura de Viamão (RS). Foi nessa cidade que se elegeu vereador em 2016. 

Candidaturas para deputado/a federal 

Valmir Assunção - Bahia 

Um dos fundadores do MST na Bahia, Valmir Carlos Assunção esteve à frente da primeira ocupação do movimento no estado e foi, também, o primeiro negro e nordestino a compor a direção nacional do movimento. Nascido em Itamaraju, no extremo sul baiano, ali ajudou a construir o PT local, partido pelo qual foi eleito deputado estadual em 2006. Entre suas pautas principais, estão a destinação de terras devolutas para a reforma agrária, a regulamentação do plantio de eucalipto e o combate à intolerância religiosa. Se licenciou do cargo de deputado para assumir a Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza durante o governo de Jacques Wagner (PT). Em 2010, foi eleito deputado federal pela primeira vez e repetiu o feito nas eleições seguintes. Agora, busca o quarto mandato.  

Ruth Venceremos – Distrito Federal 

Erivan Hilário, pernambucana de 38 anos, é mais conhecida como Ruth Venceremos e começou a militar no MST quando tinha 13 anos. Drag queen, produtora cultural e educadora, Ruth atua no movimento antirracista, além de ser diretora do coletivo LGBT Distrito Drag, que ajudou a fundar. Em 2019 foi condecorada com o Prêmio Direitos Humanos do Governo do Distrito Federal. Se eleita, afirma que vai defender, na Câmara dos Deputados, pautas relacionadas ao respeito à diversidade, reforma agrária, alimentação saudável e cultura. 

João Daniel – Sergipe 

Foi na igreja católica, na Pastoral da Juventude, que João Somariva Daniel iniciou, aos 17 anos, o seu ativismo. Filho de pequenos agricultores, ele saiu do interior catarinense para se somar ao MST em Sergipe. Ali, foi eleito deputado estadual em 2010 e, quatro anos depois, deputado federal. Em 2018 foi reeleito, sendo o quinto mais votado da Câmara dos Deputados. Neste ano, tenta ocupar a cadeira novamente.  

João Abelhão - Rondônia 

João Cerqueira de Souza, apelidado de João Abelhão, nasceu no Paraná e se mudou para Rondônia ainda menino, aos 12 anos. Inspirado por seu pai, se envolveu no ativismo desde jovem. Hoje com 57, é agricultor assentado pela reforma agrária. Atuante na política partidária desde os 20 anos, já passou pelo PT e pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) e, agora, se candidata a deputado federal pelo PCdoB.  

Dionilso Marcon – Rio Grande do Sul 

Nascido em Rondinha, cidade do norte do Rio Grande do Sul, Dionilso Marcon é o único deputado federal gaúcho que vive num assentamento rural.  Filho de pequenos agricultores, viveu acampado por cerca de quatro anos até que o Assentamento Capela, em Nova Santa Rita (RS), foi regularizado. Iniciando sua trajetória política em 1987 na Pastoral da Juventude, ele já fez parte do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e da direção estadual do MST, além de ter presidido a Cooperativa Central dos Assentamentos do RS. Neste ano de 2022 Marcon finaliza seu terceiro mandato na Câmara dos Deputados e busca mais uma reeleição.

Matéria atualizada em 20/9 às 11h23

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho