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Já perdeu! O 2º turno de 2018 se repete no 1º turno de 2022

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Bolsonaro segue isolado em 30% justamente por só ter votos de quem já vota ou votou nele - Lula Marques/Fotos Públicas
Com a proximidade do 1º turno, uma virada de Bolsonaro só poderia ser fruto de algum erro grosseiro

Essa quarta-feira tivemos mais uma rodada da pesquisa Genial/Quaest e como sempre, um relatório muito completo e abrangente sobre o momento "fotografado" pela pesquisa. Mas entre tantas informações, algo passa despercebido por muita gente: a intenção de voto dos eleitores hoje, comparada com os votos dados em 2018. E é aqui que mora o maior problema da campanha bolsonarista.

Mais uma vez a pesquisa Quaest também nos mostra que Bolsonaro segue isolado em 30% justamente por só ter votos de quem já vota ou votou nele.

Em 2018, Haddad com nulos, brancos e abstenções, juntos, somaram temos 61% dos eleitores contra 39% dos votantes em Bolsonaro. Mais da metade, naquela ocasião, não votou nele.

São os mesmos 39% que aparecem em todas as pesquisas há meses, principalmente nos cenários de segundo turno que, em raras exceções, chega em 40% ou 41% (sem contar a margem de erro). Ou seja, dá para afirmar que este é o núcleo duro do bolsonarismo:  votou nele em 2018 e segue irredutível com ele até aqui.

Basta ver a pesquisa que mostra que 70% dos que votaram no presidente em 2018, seguem com ele, além de um quarto das abstenções e parcelas ,diminutas dos brancos/nulos e de quem votou em Haddad (veja gráfico abaixo).


Intenção de voto no primeiro turno de 2022 em comparação com os votos no segundo turno da corrida presidencial de 2018 / Reprodução/Genial/Quaest

Ou seja, dos 39% que ele teve em 2018, apenas algo em torno de 28% voltaram. Isso é muito pouco para vencer uma eleição. Logo, 70% do total de eleitores de 2018 não estão com ele. Era com esse público que Bolsonaro deveria ter conversado e não conversou em nenhum momento. Ele fala com a sua bolha e ninguém mais. Enquanto isso, Lula consegue ir além dos 29% conquistados pelo Haddad em 2018.

Não é por menos que a sua intenção de voto num segundo turno seja próxima do que ele teve em 2018. E isso não aparece apenas na pesquisa Quaest, mas em todas as pesquisas de qualidade disponíveis.

Se em 2018 61% dos eleitores não votaram em Bolsonaro, a Quaest mostra que, hoje, 66% dos eleitores de outros candidatos estariam dispostos a mudar de voto para garantir que Lula vencesse no primeiro turno. Isso mostra o quanto o presidente está isolado?

Por isso, os especialistas da campanha do presidente arrancavam fios de cabelo e rangiam os dentes sempre que Bolsonaro subia em algum carro de som e atacava a institucionalidade ou figuras públicas. E por isso havia uma expectativa tão alta com a PEC da compra de votos e outras tantas medidas desesperadas, como as reduções na Petrobras: era a chance que tinham para impactar outros eleitores.

O fato é que maioria dos brasileiros veem o presidente como alguém apático, com as dificuldades da população, e as manobras seriam uma forma de mudar isso, já que depender da sensatez presidencial não era uma possibilidade. Quando a família Bolsonaro cogitou fingir moderação, já era tarde demais.

Com menos de 5 dias para o primeiro turno e com a rejeição ao governo e ao presidente ainda em alta, uma virada só poderia ser fruto de intervenção do divino ou de algum erro extremamente grosseiro (algo como cometer algum delito ou ofensa grave ao vivo) do líder nas pesquisas.

Embora Bolsonaro tente aumentar a rejeição de Lula nos últimos dias de campanha na TV e rádio, isso não significa que a rejeição do presidente ou do seu governo abaixariam de forma sumária.

Antes dos votos, Bolsonaro precisa reduzir as suas rejeições justamente para falar com os 60% que não votaram nele em 2018 e com os 30% dos seus eleitores de 2018 que o deixaram. Porém, já está claro que não haveria tempo hábil para isso, mesmo que a disputa se estendesse por mais 20 dias num segundo turno.

A campanha bolsonarista deixou de depender do seu próprio desempenho e agora sofre do mesmo mal da campanha de Ciro Gomes, que também conta com fatores externos para uma virada. Quando uma campanha chega nesse ponto, onde as orações podem ter mais efeitos que as estratégias, não há muito o que fazer.

Hoje só existem duas dúvidas: acontecerá algum evento externo para beneficiar o presidente? Ele irá perder em primeiro ou segundo turno?

Em tempo: enquanto escrevia essa coluna, a coluna Radar, da Veja, revelou qual será a "solução final" de Jair Bolsonaro:

Os especialistas da campanha bolsonarista possuem as mesmas informações que as minhas. Não é por menos que o Partido Liberal, partido do presidente, vai colocar na rua um documento em que faz graves acusações contra o TSE e a segurança das urnas eletrônicas. Segundo a coluna, o documento de duas páginas é visto na campanha bolsonarista como "o plano B" do presidente, caso seja derrotado por Lula no domingo.

Edição: Thalita Pires