Comida de Verdade

Conheça a horta urbana da ocupação Maria da Penha em Guarulhos (SP)

A produção comunitária garante alimento saudável e ajuda financeira para as famílias

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A ocupação Maria da Penha produz alimentos saudáveis dentro de uma proposta de hortas comunitárias do MTST - Pedro Stropassolas
É uma luta muito maior por todos os direitos. E alimentação está no centro

Jorge passou a morar no terreno da ocupação Maria da Penha, em Guarulhos (SP) já com 3 dias da entrada das famílias. Ele, a esposa e o filho ficaram desempregados na pandemia. Logo, a família passou a plantar e montar canteiros ao lado do barraco recém-erguido. 

Foi daí que veio o convite para construir a horta comunitária, que hoje abastece 14 cozinhas coletivas da ocupação do Movimento de Trabalhadores Sem-Terra (MTST), em Guarulhos.

"Eu mesmo levo e distribuído nas cozinhas. Tem coentro, alface, rúcula. E o que sobra, a gente deixa para o outro dia, se tiver a noite, servimos também na janta à noite, e assim vamos sempre continuando", explica Jorge Jesus Araújo, morador do Maria da Penha. 

Em outubro, fará 1 ano que Marisângela vive na ocupação. Assim como Jorge, ela também coordena a horta comunitária no local.

"Nós jogamos o produto orgânico e sempre cuidando. Chegando à terra, tem que estar sempre limpando nos pezinhos para vir com mais força, ter mais força e sempre colhendo e doando nas cozinhas comunitárias" destaca Marisângela.

A horta é regada duas vezes ao dia. Os matinhos que crescem entre as verduras também são podados diariamente. Em uma fileira menor, há também as plantas medicinais. Novalgina, hortelã, poejo e outras variedades, que ajudam a cuidar das crianças adoecidas.

"Eu fico muito feliz de poder ajudar às mãezinhas aqui dentro também com essas [plantas] medicinais que a gente tem. É pouco, mas o pouco que a gente tem, já ajudei muita criança aqui dentro. E estamos aqui para ajudar. Plantar mais e mais", afirma Marisângela. 

Hortas nas ocupações

O coletivo de hortas do movimento é recente. Surgiu há 2 anos, aproximadamente. Hoje, praticamente todas as ocupações do MTST que são em terrenos têm hortas orgânicas. 

Elas surgem como um processo natural de organização coletiva das famílias. E na pandemia ganharam força em um contexto de volta dos baixos índices de insegurança alimentar no país. 

"O setor [de hortas orgânicas] surge dessa percepção do movimento que a luta por moradia não se dá de forma isolada. É uma luta muito maior por todos os direitos. E alimentação está no centro", defende Laís Valieris, do setor de Hortas do MTST em São Paulo. 

Alimentação 

São 7 pessoas no barraco de Vitor que se alimentam dos frutos que vem da horta. Desempregado, as verduras e hortaliças orgânicas são importantes para que o pai economize um bom dinheiro no fim do mês. 

"Faz uma saladinha boa, que faz bem para o organismo e para a saúde. Tem a couve que faz bem pra saúde também, tudo que tem aqui na horta faz bem para todo mundo da ocupação, todo mundo come aqui. E está todo mundo feliz pela horta, que está crescendo bem e rendendo para nós. Nós estamos economizando bastante na feira", afirma Vitor Daniel, morador da ocupação Maria da Penha. 

Ocupação

A ocupação Maria da Penha está localizada no Jardim São João, em um terreno de 200 mil metros quadrados. Segundo o MTST, a área estava abandonada antes da entrada das cerca de 1000 famílias e pode ser destinada a moradia, segundo o plano diretor de Guarulhos. 

"Esse terreno está há mais de setenta anos abandonado. Deve mais IPTU do que o valor praticamente dele. Então aqui é uma área que era largada, não tinha nada e agora você vê vida, alimento, as pessoas unidas em prol de alimentar as outras. Não só isso, todo mundo se ajuda aqui dentro, o trabalho coletivo é muito forte dentro das ocupações do MTST e é isso que a gente sempre quer mostrar para o povo, que o povo unido consegue tudo", destaca Bruna Cássia, do setor de hortas do MTST em São Paulo. 

"Não entro numa luta para perder. Entro para ganhar e vencer. E é isso que eu passo para todos que eu converso, que todos sejam vencedores e não chute o balde, que vá em frente e se Deus quiser, vai dar tudo certo. Já deu. Eu tenho fé na luta", salienta Marisângela. 

Edição: Daniel Lamir