Análise

Candidaturas militares revelam aprofundamento da politização dos quarteis

Estudo do Instituto Tricontinental revela que maior parte dos candidatos tem alinhamento ideológico com a direita

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Forças Armadas detêm poder das armas e dos quartéis, motivo pelo qual mundo político teme avanço dos militares sobre cargos civis
Forças Armadas detêm poder das armas e dos quartéis, motivo pelo qual mundo político teme avanço dos militares sobre cargos civis - Fernando Frazão/Agência Brasil

Análise do Instituto Tricontinental sobre o perfil de candidaturas militares nestas eleições aponta forte tendência para ideologias conservadoras de direita, aumento da militarização da política e da politização dos quarteis.

O Boletim especial: Militares e eleições 2022 no Brasil analisou 1.257 candidatos e candidatas que concorrem aos governos estaduais, vagas no Senado e na Câmara e nas assembleias legislativas. Esse universo corresponde a 4,35% do total de pessoas que disputam as eleições e abrange postulantes ligados às Forças Armadas, polícias militares e bombeiros militares. 

Em mais de 95% dos casos foi identificado alinhamento com ideias de direita. Segundo a análise, o cenário está de acordo com o pensamento político predominante nos meios militares. “Por isso, um hipotético ‘pluralismo ideológico’ entre as candidaturas militares exigiria, necessariamente, reformas profundas nas próprias corporações”, afirma o documento. 

A pesquisa avaliou fatores como gênero, raça, faixa etária, escolaridade, unidade federativa, cargo almejado e partido. A maior parte das candidaturas militares é masculina. Os homens representam 86% delas e as mulheres, 14%. São dados que não refletem nem mesmo a realidade dos próprios quarteis, onde a presença feminina corresponde a 27% do total.

A discrepância é ainda maior quando a comparação é feita com as candidaturas civis, que têm 33% de mulheres em disputa por cargos. O perfil revelado pelo estudo também não representa a realidade do eleitorado brasileiro formado por mulheres em mais de 50% do total.

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Ainda assim, houve determinado aumento da presença feminina entre as candidaturas militares presentes nas eleições desde ano “A ação política organizada que reivindica a equidade de gênero produziu efeitos na fração politizada das diferentes organizações militares, levando à ampliação das candidaturas femininas", diz o estudo. 

Candidaturas autodeclaradas pardas representam 46% do total e brancas, 40%. “De cada 10 candidaturas militares, 6 são negras em 2022. Todavia, é importante ressaltar que a autodeclaração de raça tem sido manipulada por candidatos e partidos, muitas vezes como forma de fraudar as ações afirmativas sobre a distribuição interna do orçamento para campanhas e fugir da legislação”, alerta o boletim.   

A região Sudeste concentra 35% do total de candidatos e candidatas militares, com destaque para Rio de Janeiro (16%) e São Paulo (11%). A região Nordeste tem 22% de candidaturas. O Norte tem 19%, Centro-Oeste 14% e o Sul 10%.   

Edição: Glauco Faria