Legislativo

Com a bênção do papa, Eduardo Suplicy (PT) é o deputado estadual mais votado de São Paulo

Com quase 800 mil votos, petista retorna ao cargo de estreia na vida pública após 40 anos

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Suplicy e o papa Francisco: encontro aconteceu na reta final da campanha - Reprodução / Redes Sociais

"Você trouxe o livro, mas não trouxe a cachaça?"

O gracejo do papa Francisco ajudou a viralizar o vídeo que mostra o vereador da capital paulista (e agora deputado estadual eleito) Eduardo Suplicy entregando ao pontífice uma cópia de Renda Básica de Cidadania - A Saída é pela Porta, uma das obras que escreveu e uma das principais bandeiras da carreira do experiente político, que volta à Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) após 40 anos.

Eleito neste domingo (2) para o cargo de deputado estadual por São Paulo com quase 800 mil votos, ele deu uma pausa nas atividades de campanha para viajar à Itália em agosto para atividades no Vaticano e na cidade de Assis. Entre as missões, entregar uma carta escrita por Lula ao pontífice.

O encontro mostrado no vídeo aconteceu em Assis, onde o pontífice recebeu grupos de jovens de várias partes do mundo. Os representantes da delegação brasileira convidaram Suplicy a integrar o grupo. "Sou jovem há mais tempo que eles", disse o experiente político. O diálogo gravado aconteceu em um breve intervalo após a fala do papa no evento.

Suplicy e o papa, porém, já tinham se encontrado dias antes, em Roma, em uma quarta-feira, dia em que Francisco comanda uma celebração aberta o público no Vaticano. O vereador tentou se aproximar para falar sobre a proposta da renda básica de cidadania.

"Eu não conseguia chegar, cada segurança que eu tentava dizia 'aqui não pode passar'. Mas aí encontrei um bispo do Rio Grande do Sul, Dom Paulo de Conto, e ele se ofereceu para me levar até o papa", contou ao Brasil de Fato. O breve encontro rendeu a foto que ilustra a reportagem.

Em tempo: no que depender de Suplicy, o papa argentino vai conhecer uma cachaça brasileira das boas: o Armazém do Campo enviou uma garrafa ao político, que já programa nova audiência com o pontífice para entregar o presente. "Pensei de entregar por Sedex, mas soube que o correio não entrega bebidas alcoólicas, então vai ter que ser numa audiência. Eu falei que pode ser feita após as eleições aqui no Brasil", completou.

Diálogo com Lula

O encontro com o papa não foi o único momento em que o nome do experiente político paulista virou trending topic na internet durante a corrida eleitoral de 2022. Em junho ele interrompeu evento de campanha de Lula e fez cobranças ao partido e ao ex-ministro Aloísio Mercadante. A imagem correu o país.

"Se o Suplicy não fosse brasileiro, se fosse de outro país, a dedicação dele nesses 40 anos de querer o renda básica, teria ganhado um Prêmio Nobel umas dez vezes. Como ele é brasileiro, e nós nunca ganhamos, nem os nossos mais importantes escritores ganharam, a gente vai aguardar para ver", disse o então pré-candidato Lula, após ouvir o antigo companheiro de partido.

Companheiros de longa data, eles já tinham conversado sobre a renda básica em 2021, quando o vereador paulista completou 80 anos. A conversa, inclusive, foi transcrita e integra a edição mais recente de Renda Básica de Cidadania - A Saída é pela Porta. Suplicy destacou o compromisso assumido por Lula de, retornando ao Planalto, trabalhar para implementação da lei que trata sobre o tema, e que foi sancionada por Lula em 2005.

Disposto e com boa saúde

Nascido em São Paulo em 21 de junho de 1941, Suplicy conquistou, em 2022, uma vaga para ocupar novamente o mesmo cargo de sua estreia na vida pública. Em 1978, ainda no Movimento Democrático Brasileiro (MDB), ele foi eleito deputado estadual de São Paulo. Ficou na Alesp até 1982, quando, já pelo PT, foi eleito deputado federal.

A decisão de se candidatar ao cargo veio após conversas com Lula e com o candidato petista ao governo do estado Fernando Haddad. "Aceitei a missão, e então farei com muito boa vontade. Estou com boa saúde, faço meus exercícios, aula de ginástica três vezes por semana e espero continuar com boa saúde, se Deus quiser, até que eu veja implantada no Brasil a renda básica universal."

Se orgulha da luta por liberdade, transparência, democracia e direitos humanos. Economista, administrador de empresas e professor universitário, ele começou a carreira política ao se filiar ao MDB, em 1977. A filiação ao PT, partido que ajundou a fundar, veio dois anos depois.

Suplicy já foi candidato a prefeito e a governador da capital paulista. Em 1988, foi eleito vereador da maior cidade do país, com mais de 200 mil votos, um recorde. Dois anos mais tarde, chegou ao Senado. Foi reeleito mais duas vezes para o mesmo cargo, em 1998 e 2006. Derrotado nas eleições de 2014, quando perdeu a vaga para José Serra (PSDB), voltou à câmara dos vereadores de São Paulo em 2016. Atualmente, está em seu segundo mandato consecutivo na câmara da capital paulista.

Entre outros cargos, foi secretário de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo na gestão de Fernando Haddad. O livro que entregou ao papa Francisco é um dos 14 que publicou, durante uma carreira política e acadêmica dedicada ao estudo de temas ligados à desigualdade social.

Edição: Rodrigo Durão Coelho