Extremismo

Bolsonaro tem aliados organizados e "neofascistas" na Europa, diz eurodeputada

Ana Miranda destaca articulação global da extrema direita e laços entre presidente brasileiro e o partido espanhol Vox

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Bolsonaro e Santiago Abascal, líder da extrema direita espanhola - Twitter Santiago Abascal

Jair Bolsonaro (PL) não está sozinho em sua cruzada reacionária. O presidente brasileiro tem uma "agenda comum" e aliança com o Vox, partido espanhol que é negacionista da emergência climática, antivacina e anti-imigrante. A avaliação é de Ana Miranda, deputada do Parlamento Europeu pelo Bloco Nacionalista Galego, da Espanha.

"Eles têm aliados no Parlamento Europeu, que é a extrema direita, e nomeadamente o partido Vox, que é amigo do Bolsonaro e são absolutamente neofascistas. Por que? Porque o neofacista hoje está organizado, compenetrado, coordenado e, sobretudo, tem uma agenda comum de relações internacionais e de apoio mútuo. Isso é preocupante", diz Miranda ao Brasil de Fato. "São antifeministas, são machistas, e eles têm umas políticas muita parecidas."

Com 52 deputados, entre 349 possíveis, o Vox é o terceiro maior partido do Congresso da Espanha. A legenda de extrema direita faz oposição à coalizão que governa o país com o presidente Pedro Sánchez, formada pelo Partido Socialista Operário Espanhol e o Podemos.

O presidente do Vox e deputado Santiago Abascal enviou um vídeo de apoio a Bolsonaro, compartilhado pelo presidente na véspera do primeiro turno. O registro teve mais de 340 mil visualizações no Twitter e Abascal afirma na mensagem que Bolsonaro é a "opção dos patriotas".

Outras lideranças extremistas de direita também enviaram mensagens de apoio para Bolsonaro, como o ex-presidente dos EUA Donald Trump e o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán.

Abascal já esteve no Brasil e se reuniu com o presidente em dezembro de 2021, no mesmo mês em que participou do Congresso Brasil Profundo, do Instituto Conservador-Liberal, criado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Em 2020, a liderança do Vox fez uma live com Eduardo Bolsonaro em que defendeu a teoria da conspiração do "marxismo cultural".

Reportagem do El País descobriu que o Vox usou recursos públicos para financiar um documentário contra o Foro de São Paulo, apesar de defender uma diminuição do gasto público. Por meio da Fundación Disenso, diversos convidados, incluindo Eduardo Bolsonaro, atacam a esquerda e o ex-presidente Lula (PT).

Por meio da aliança internacional "Fórum de Madri", o Vox articula a extrema direita global. De acordo com relato de Eduardo Bolsonaro, a aliança teve a assinatura de nomes como a futura premiê da Itália, Giorgia Meloni, e o chileno José Antonio Kast.

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Ana Miranda foi uma das parlamentares que assinou carta, com outros 50 eurodeputados, pedindo uma ação do bloco contra as "ameaças sem precedentes" representadas por Bolsonaro e destacando que isso é "crucial para dissuadir a liderança militar do Brasil de qualquer tentativa de apoiar um golpe".

A eurodeputada acompanhou o primeiro turno das eleições presidenciais em São Paulo e critica o centro e a direita do Brasil por se unirem com Bolsonaro e "ajudarem a fomentar o ódio".

"O centro de direita, ou o centro e a direita mais democrática, quando eles homologam e votam com o Bolsonaro e essa extrema direita, estão prejudicando o Brasil, as pessoas do Brasil e também a imagem internacional do Brasil", avalia Miranda.

Otimismo com o 2° turno

Após Lula (PT) ter 6,18 milhões a mais que Bolsonaro no primeiro turno das eleições presidenciais, mas não conseguir encerrar a eleição no primeiro turno como algumas pesquisas indicavam, Miranda destaca que é importante analisar o resultado levando em consideração as dificuldades de competir contra a "máquina do Estado", seus recursos e sua capacidade de "produzir vontades".

"Eu leio esse resultado profundamente otimista. Profundamente e digo por quê. A campanha de Lula, e de todos os partidos que apoiavam a Lula, foi muito boa, em um contexto de violência informativa, de ódio totalmente premeditado contra Lula, de um período em que ele vinha da prisão, com o partido mais desmobilizado, mas com uma aglutinação com tantos partidos democráticos da esquerda e do centro do Brasil e também porque está combatendo com um partido de governo e um governo tem um maquinário, um Estado inteiro", diz a eurodeputada.

Edição: Nicolau Soares