segundo TURNO

Eleições na Paraíba: o que muda na disputa com apoio de Veneziano a Pedro Cunha Lima

Articulação faz parte de estratégia para neutralizar o bolsonarismo no estado, diz cientista político

Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |
Pedro Cunha Lima (PSDB) e Veneziano Vital do Rêgo (MDB) em evento que confirmou o apoio do ex-prefeito de Campina Grande ao candidato tucano - Divulgação

Na manhã desta sexta-feira (7), o ex-senador e ex-candidato ao governo do Estado na Paraíba, Veneziano Vital do Rêgo (MDB) declarou seu apoio a Pedro Cunha Lima (PSDB) na disputa do segundo turno para governador.

A decisão surpreendeu muitos eleitores e eleitoras que esperavam que Veneziano, apresentado este ano como “candidato do Lula”, seguisse a declaração de apoio do ex-presidente e do Partido dos Trabalhadores (PT) ao candidato à reeleição, o governador João Azevêdo (PSB).

Tanto João como Veneziano estiveram com Lula na última quarta-feira (5) em evento realizado em São Paulo, com lideranças políticas de 19 estados brasileiros, além do Distrito Federal.

Hoje, após declarar apoio a Cunha Lima, o político do MDB disse que a decisão foi tomada com “muita tranquilidade” e “coerência” em relação ao que defendeu durante o primeiro turno: o apoio a Lula no cenário nacional, e a oposição a João no contexto local.

“Nós confirmamos nesse instante aquilo que, nacionalmente e estadualmente, sempre dissemos: o nosso apoio reiterado e firme de poder não apenas ajudar, mas confirmar e ampliar os nossos esforços comuns que é a votação do nosso presidente Lula e, em nível estadual, mantendo a coerência de quem fez campanha na oposição e não poderia desconhecer nesse momento a construção dessa aliança” declarou Veneziano à imprensa.

Do outro lado, o candidato do PSDB preferiu manter a postura neutra e não declarou voto à presidência da república no segundo turno. Em resposta à imprensa, Cunha Lima disse que “vai focar no estado”.

"Eu tenho um lado muito claro que é o lado da Paraíba, vamos focar no nosso estado, estamos empenhados em preservar essa posição em defesa da Paraíba”, afirmou.

Costura

Na opinião do cientista político e professor da Universidade Federal de Campina Grande, José Marciano, o apoio de Veneziano a Cunha Lima não deve ser entendido apenas do ponto de vista local. Segundo ele, “é preciso ampliar um pouco o olhar para a correlação de força que tem se constituído nacionalmente”.

De acordo com Marciano, a costura feita pelo candidato do MDB contribui, de certa forma, para confirmar a neutralização de Pedro em relação à disputa pela presidência da República no segundo turno e, com isso, enfraquecer o bolsonarismo na Paraíba.

“No momento que você neutraliza o apoio de Pedro a Bolsonaro, Bolsonaro deixa de ter palanque e você poderá ter uma maior amplitude dos votos que Lula recebeu no primeiro turno aqui na Paraíba. A neutralização de Pedro, ao meu ver, envolve esse acordo com o MDB da Paraíba”, explica.

O professor lembra que, no contexto nacional, figuras históricas do PSDB, como os senadores José Serra (PSDB-SP) e Tasso Jereissati (PSDB-CE), já declararam apoio ao ex-presidente Lula no segundo turno. Nesse contexto, a garantia de que o tucano paraibano se mantenha neutro e não declare apoio a Bolsonaro já ajudaria o desempenho da candidatura de Lula, que já conta com o apoio no segundo turno do candidato líder nas pesquisas João Azevêdo.

“A disputa política desse segundo turno no âmbito nacional perpassará por uma disputa eminentemente no eixo Sul e Sudeste do país. O que o Lula e o PT precisam em termo de estratégia? Ampliar a votação no Nordeste. O MDB, portanto, faz uma aliança e concede esse apoio no segundo turno com uma estratégia de neutralizar o palanque de Bolsonaro na Paraíba ao tempo de tentar construir uma hegemonia maior de votos para o candidato Lula em termos nacionais”, ressalta Marciano.

Sem palanque

Ainda sobre o esvaziamento da campanha de Bolsonaro na Paraíba, o cientista político observa que, fora do segunto turno, o representante do atual presidente no estado, Nilvan Ferreira (PL), não possui capilaridade eleitoral para tocar a campanha sozinho.

“Nilvan não tem grandes capilaridades eleitorais no estado da Paraíba, porque Nilvan não tem prefeituras. Ele seguirá pedindo voto provavelmente para Bolsonaro, mas sem palanque, sem estar em uma disputa. O eleitor de Bolsonaro vai ficar muito solto sem essa militância, sem esse engajamento, sem essa musculatura pela via das instituições fundamentais que são os partidos”, argumenta.

Disputa

No primeiro turno das Eleições 2022, Veneziano Vital do Rêgo ficou em quarto lugar na disputa para governador, com 17,6% dos votos válidos (373.511 votos).

João Azevêdo ficou em primeiro, com 39,6% e mais de 863 mil votos. Em segundo lugar, Pedro Cunha Lima teve 520.155 votos, o que representa 23,9% dos votos válidos.

 

Fonte: BdF Paraíba

Edição: Maria Franco