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Partido Novo ataca Amoêdo por declarar apoio a Lula

"Apenas exerci um direito", diz Amoêdo, ex-presidente do partido Novo, em resposta às críticas

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
João Amoêdo foi preterido pelo partido Novo para disputar a eleição presidencial de 2022 - Nelson Almeida / AFP

O empresário João Amoêdo, ex-presidente do partido Novo e ex-candidato à presidência nas eleições de 2018, declarou neste sábado (15) que votará em Lula da Silva (PT), no segundo turno da eleição presidencial.

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"Bolsonaro tem atentado contra os poderes, cooptou o Legislativo com o orçamento secreto e vem testando essa ideia de aumentar os membros do Supremo para formar maioria. Apesar das discordâncias, serei obrigado a fazer algo que nunca fiz na vida, que é votar no PT", disse Amoêdo em entrevista à Folha.

O empresário foi um crítico constante dos governos petistas e disputou a eleição presidencial de 2018 apoiado no discurso do liberalismo econômico, ficando em 5º lugar, com 2,6 milhões de votos no primeiro turno.

Amoêdo perdeu a indicação para ser o candidato do Novo às eleições deste ano para o também empresário Luiz Felipe D'ávila, quem obteve 559 mil votos e ficou em 6º lugar no dia 2 de outubro. D'ávila foi anunciado em convenção nacional do partido, que ficou marcada pela divisão entre os filiados favoráveis e contrários ao presidente Jair Bolsonaro (PL).

"Traição aos valores liberais", disse Felipe D'ávila sobre o apoio de Amoêdo a Lula e ainda sugeriu "Amoêdo: pega o boné e vai embora. Você não representa os valores liberais", escreveu o mais recente presidenciável do Partido Novo.

O novo presidente da sigla também criticou Amoêdo. "Vergonhosa, constrangedora e incoerente a declaração de voto de João Amoêdo em Lula. O PT e o Lula representam tudo o que o nosso partido sempre combateu. Essa é a prova final de que o Novo nunca mudou, quem mudou foi o João", escreveu Eduardo Ribeiro.

"É absolutamente incoerente e lamentável a declaração de voto de João Amoêdo em Lula [...] Seu posicionamento não representa o Partido Novo e vai contra tudo o que sempre defendemos", disse o Partido Novo em nota publicada no sábado (15).

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O Novo não formalizou apoio a Bolsonaro, mas publicou nota depois do primeiro turno dizendo ser contra o PT e o lulismo, mas liberando seus filiados e eleitores a votar no segundo turno de acordo com a "consciência" e "princípios partidários".

Amoêdo contestou dizendo "apenas exerci um direito" com a declaração de apoio ao candidato petista. "Tal direito não apenas dialoga com um dos pilares do Novo - a liberdade de expressão - como também encontra amparo no seu estatuto, em diretriz partidária vigente e em uma nota recente que textualmente reafirmou a liberdade de seus filiados em votar segundo suas convicções", expressou em suas redes sociais.

O partido Novo foi criado em 2011 "por cidadãos ficha-limpa", que se dizem não políticos e decidiram ingressar na política. A legenda foi oficialmente registrada em 2015 pelo Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), participando das eleições municipais de 2016 e elegendo quatro vereadores. 

Em 2018, oito deputados federais e 12 estaduais foram eleitos, assim como o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, quem acaba de ser reeleito em primeiro turno. 

O Novo destaca que seus candidatos passam por "processos seletivos" e o partido só se financia através de doações.

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Em 2020, os irmãos Eugênio Mattar e Salim Mattar, fundadores e sócios da Localiza, empresa de locação de automóveis, foram os maiores doadores de campanha do Brasil. Somados, os parentes entregaram R$ 2,5 milhões para candidaturas, sendo 110 do partido Novo.

Neste ano, novamente os irmãos da Localiza foram os líderes em doações, desembolsando R$ 2,77 milhões para diversos partidos, R$ 3,1 milhões  para 24 candidaturas, a maioria do Novo de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Paraná, segundo dados do TSE.

Apesar do apoio financeiro, o Novo diminuiu sua votação cerca de 60%, elegendo três deputados federais e cinco estaduais, não atingindo a cláusula de barreira, e podendo ficar de fora de debates televisivos nas próximas eleições.

Edição: Thales Schmidt