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Com mais de 1 milhão de espectadores, Lula cita Neymar e propostas de governo no Flow

Participação do ex-presidente supera com folga o público de entrevista de Bolsonaro no podcast

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |
Apresentador Igor Coelho, o "Igor 3k", recebeu o ex-presidente no Flow Podcast nesta terça-feira - Ricardo Stuckert

Até esta terça-feira (18), o recorde de audiência simultânea do Flow Podcast era de 573 mil pessoas, em entrevista de Jair Bolsonaro (PL) em agosto. A marca foi superada com folga durante entrevista com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que chegou a reunir mais de 1 milhão de pessoas.

Em conversa bem humorada com o apresentador Igor Coelho, o "Igor 3k", Lula falou abertamente sobre diversos assuntos, dos mais tranquilos aos mais espinhosos. Bolsonaro, ou "Bozo", como ele se referiu, foi um dos temas mais discutidos em pouco mais de uma hora e meia de entrevista.

"Você tem político sério de esquerda, político sério de direita, político sério de centro. Eu tava vendo um vídeo do 'Bozo', no mesmo vídeo que ele falava das meninas venezuelanas, e ele falava 'eu tenho que mentir, eu preciso mentir'", disse o ex-presidente.

"Eu fui candidato contra o Collor, contra o Fernando Henrique Cardoso, contra o Serra, contra o Alckmin, era uma coisa civilizada que você discutia o Brasil. Você vai pra televisão pra defender seu programa, 'quero propor isso ao Brasil'. Com ele é impossível! É impossível! Ele não teve programa em 2018 e não tem programa agora, e vive de mentira", complementou.

Clima descontraído

Durante todo o tempo em que esteve no ar no podcast, Lula se mostrou à vontade. Alternando discussões sobre propostas de governo e perguntas curiosas, ele não deixou questões sem resposta.

"Eu não tenho nenhuma preocupação em fazer entrevista ao vivo com quem quer que seja. O que eu tenho preocupação é dar entrevista por escrito para um cara que me odeia. Ou se for gravado, num programa de televisão, o que ele vai editar", destacou.

O ex-presidente falou, por exemplo, sobre a famosa gravata listrada com as cores da bandeira brasileira, que usou no debate da Band no último domingo e em outros momentos marcantes, como no depoimento que concedeu ao então juiz Sergio Moro em 2017.

"Aquela gravata é um símbolo para mim. Aquela gravata eu ganhei quando o Brasil ganhou as Olimpíadas, em Copenhague", disse, em referência à reunião do Comitê Olímpico Internacional que garantiu ao Rio de Janeiro o direito de sediar os Jogos Olímpicos de 2016. "Em Copenhague eu tava com aquela gravata, o Pelé tava com aquela gravata. Foi uma gravata que o Comitê Olímpico deu pra gente. Toda vez que vou encontrar um representante estrangeiro, uso aquela gravata. Ela representa minha pátria amada", destacou.

Prisão

Ao falar sobre a prisão ordenada por Moro, Lula foi taxativo: disse que aquilo só aconteceu para que ele não fosse eleito presidente da República em 2018: "Eu ganharia a eleição no primeiro turno".

O petista afirmou, ainda, que escolheu ser preso em vez de sair do país. "Eu recebi convite para ir pra fora do Brasil, pra ir para uma embaixada. Como queria provar que o Moro era um farsante, fui para Curitiba. Eu queria provar que ele era um mentiroso", disse, sobre a decisão de se entregar à polícia. "Eu saí da cadeia maior que entrei e estou aqui na disputa. Tenho certeza de que meus adversários não imaginavam que eu estaria na frente deles".

Falando a um dos podcasts de maior audiência no país, que conta com um público predominantemente jovem, o ex-presidente reforçou o pedido para que as pessoas participem do segundo turno das eleições, no próximo dia 30.

"Temos que convocar o povo que não votou a ir votar. Se você não vota, não tem o direito de reclamar. Se você votar, confiando no programa que ele te apresentou, e ele não cumprir o programa, você pode passar na rua e xingar o presidente", afirmou.

Quando perguntado sobre a declaração de voto do jogador de futebol Neymar em Bolsonaro, Lula garantiu que não vê problema. 

"O Neymar tem o direito de escolher quem ele quiser pra ser presidente. Acho que ele tá com medo, se eu for presidente, de descobrir o que o Bolsonaro perdoou do imposto de renda dele", disse, rindo. "Mas isso é um problema da Receita Federal", complementou.

Propostas

Lula disse que as pessoas mais pobres serão prioridade para o governo caso ele retorne ao Planalto no dia 1º de janeiro de 2023.

"Nós tiramos 36 milhões de pessoas na miséria absoluta, acabamos com a fome neste país, e a fome voltou agora. Ninguém quer ser pobre, ninguém quer comer mal, ninguém quer se vestir mal. Todo mundo quer ter as coisas. Por que o cara é pobre? Porque ele não teve oportunidade", ponderou.

O petista falou ainda que pretende oferecer linhas de financiamento via bancos públicos para pessoas que desejam empreender. 

"Quando eu voltar a gente vai abrir linhas de crédito muito grandes para a gente investir em micro e pequenos empreendedores. Se o cara quiser montar um restaurante, um bar, uma oficina de motocicleta, de bicicleta, ele vai ter dinheiro para começar", garantiu.

Quando questionado sobre a parceria com o antigo adversário, o candidato a vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), Lula repetiu uma frase que tem usado com frequência: "às vezes precisamos nos unir aos divergentes para combater os antagônicos".

"O Alckmin é uma figura de boa índole, está fazendo um trabalho extraordinário comigo e tenho certeza de que nós somos a dupla que vai recuperar este país para o povo brasileiro voltar a sorrir", afirmou.

Igor, o apresentador, falou que se graduou graças ao ProUni, programa criado quando Lula estava no governo. O ex-presidente se empolgou.

"Eu fico feliz que você é um cara que se formou pelo ProUni. O ProUni foi a coisa mais extraordinária. A mulher do [Fernando] Haddad, a Ana Estela, pensou nisso em um projeto para São Paulo, e aproveitamos um projeto nacional", relatou. "Eu viajo pelo Brasil, as pessoas mostram um papelzinho escrito e falam, 'Lula, sou do ProUni', sou o primeiro da minha família", emocionou-se.

O apresentador, que iniciou o programa se dizendo "nem bolsonarista, nem petista", lamentou o fim da entrevista. O encontro acabou se estendendo por cerca de 20 minutos além do horário combinado.

Edição: Thalita Pires