Violência

Estudante é atropelada em manifestação contra cortes orçamentários nas federais

Caso ocorreu nos arredores da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Momento em que o carro atinge a jovem estudante - Reprodução/Twitter

Uma estudante da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Minas Gerais, foi atropelada na manhã desta terça-feira (18), nos arredores da instituição, durante uma manifestação dos alunos contra os cortes federais destinados às universidades.  

A maioria dos estudantes usava roupas e acessórios vermelhos e símbolos do movimento União da Juventude Comunista (UJC).

O Brasil de Fato entrou em contato com a estudante atropelada, que preferiu não se identificar. Ela relata que participava da manifestação convocada pelo DCE UFV - Sem Tempo para Ter Medo em uma das entradas da universidade, que estava bloqueada "por um cordão humano, bandeiras, faixas e cartazes".

Por volta das 10h25, "um motorista enfurecido saiu do carro, proferiu ameaças, como 'vou fazer vocês vocês de boliche'. Ele foi instruído que ainda havia uma entrada que estava aberta e que ele poderia fazer o retorno por ela, inclusive foi  explicado para ele o caminho que daria um desvio de 10 minutos apenas, ele permaneceu muito nervoso e disse que iria passar por ali sim, logo depois ele retornou ao carro e acelerou, como mostram os vídeos que estão circulando", relata a estudante.

"Neste momento, eu estava na frente do carro, que acelerou de uma vez sem dar a chance de sequer escapar da frente. Como eu estava no meio, não tinha jeito de sair pelas laterais, me dando a única opção de subir no capô por medo de ser passada por cima e me arrastou presa no capô, enquanto eu gritava e batia no capô pedindo para ele parar o carro, assim como todos os alunos que estavam próximos tentando diminuir a velocidade do carro e pedindo para parar."

"Outras pessoas que estavam em volta também foram atingidas. Depois de mais de 25 metros, o carro freou bruscamente, e foi quando caí e bati a cabeça no chão, não cheguei a machucar muito por que por sorte eu segurei o parabrisa para ter em algum lugar para me firmar."

A estudante depois foi levada ao hospital pela guarda da universidade, onde ficou em observação até 14h30.

Outro estudante que estava no local afirmou que o responsável pelo atropelamento disse, antes de ocorrido, que "passaria por cima" dos manifestantes e que não estava "nem aí se alguém fosse atropelado".

O homem, então, "tomou distância para pegar impulso e depois começou a arrastar uma galera". Nisso, "uma das estudantes ficou agarrada ao carro e foi arrastada por mais de 30 metros. Em reação, os estudantes que estavam no local começaram a correr atrás e chutar o carro. Quando o homem parou, a jovem caiu e ele fugiu", disse o estudante ao Brasil de Fato, que preferiu também não se identificar.

Em seguida, a Polícia Militar de Minas Gerais chegou ao local para comunicar a ilegalidade da manifestação, já que não havia sido previamente informada às autoridades.

A PM também teria informado que nenhum boletim seria feito até a jovem que foi arrastada se manifestar. No momento, ela estava em um posto de saúde próximo ao local para ser atendida, já que estava com ferimentos. Ainda na sequência, a PM solicitou os dados e tirou fotos do documento de um dos jovens que chutou o carro do responsável pelo atropelamento.

O Brasil de Fato enviou pedido de posicionamento para a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) de Minas Gerais, mas até o momento não houve uma resposta. O espaço segue disponível para pronunciamento.

Cortes orçamentários 

Em 30 de setembro, às vésperas do primeiro turno das eleições, o governo de Jair Bolsonaro (PL) publicou o Decreto 11.216, que versa sobre um contingenciamento no orçamento do Ministério da Educação.  

A medida significa um bloqueio de R$ 328 milhões nas verbas já previstas para este ano. Somados aos montantes já bloqueados ao longo do ano, as universidades podem terminar o ano com R$ 763 milhões a menos.  

Na ocasião, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) declarou que a medida inviabilizaria o funcionamento das universidades federais, e o caso ganhou repercussão.  

Com a notoriedade atingida e os protestos contra o contingenciamento, o ministro da Educação Victor Godoy afirmou, em coletiva de imprensa, que não haveria redução do orçamento. O decreto, no entanto, segue em vigor.

"Quero deixar claro que não há corte do Ministério, não há redução do orçamento das universidades federais, não há por que dizer que faltará recurso ou paralisação nos institutos federais. Nós tivemos uma limitação na movimentação financeira baseada na Lei de Responsabilidade Fiscal", disse o ministro.

"Se a universidade tiver de fazer um empenho maior do que o limite legal estabelecido pelo governo, pode me procurar, e vamos ajustar com o Ministério da Economia. Há previsão para isso."

Edição: Nicolau Soares