ALIMENTAÇÃO

Vozes Populares | Por que o programa de alimentação escolar é tão importante?

Alexandre Pires, coordenador do Centro Sabiá, comenta como está a alimentação nas escolas e como deveria ser

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Mais antigo programa de segurança alimentar do país, o PNAE sofre com desmontes e é mal executado em estados e municípios - Foto: Agência Brasil
A alimentação das crianças e jovens nas escolas públicas tem piorado muito nos últimos anos

O que não falta para a garotada é energia para gastar. É aquele período gostoso em que brincar é a ordem do dia. Contudo, toda essa energia precisa ser reposta de alguma forma: por isso a necessidade de uma alimentação saudável.

Uma nutrição adequada desde cedo é essencial para que uma criança vire um adulto saudável, com menor probabilidade de ter infecções e doenças. É por isso que garantir a alimentação escolar de qualidade é tão importante. No entanto, a realidade nas escolas está longe do ideal.

“A alimentação das crianças tem sido um mingau ou uma papa, bolachas e às vezes um suco artificial, que além de trazer problemas pra saúde das crianças, não traz nutrição, não alimenta”. É isso que afirma Alexandre Pires, coordenador do Centro Sabiá, organização que trabalha para a promoção da agricultura familiar. Esse relato que ele trouxe é a situação de muitas escolas espalhadas pelos municípios de Pernambuco.

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Ele traz um panorama geral de como anda a alimentação nas escolas. "Nós poderíamos dizer que a alimentação das crianças, dos adolescentes e jovens nas escolas públicas tem piorado muito nos últimos anos. Primeiro porque há um congelamento dos recursos repassados pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para as escolas estaduais e as escolas municipais", sinaliza.

O coordenador faz uma crítica quanto ao valor destinado a cada estudante, que considera insuficiente. "Para que a gente tenha uma ideia do que é que significa esses valores: para cada estudante do Ensino Fundamental, do Ensino Médio, o Governo Federal repassa R$ 0,36. No caso das creches é R$ 1,00; e no Ensino Integral é de R$ 1,07 ou R$ 2,00. Esse valor por estudantes não cobre o custo de uma alimentação saudável".

O PNAE é a mais antiga política pública brasileira de segurança alimentar, criada há mais de 60 anos. Alexandre pontua que, em 2009, houve uma mudança positiva na lei do PNAE: 30% do repasse do programa a estados e municípios deveria ser investido na compra direta de produtos da agricultura familiar. No entanto, na prática, não é o que acontece. 

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"O Governo do Estado em 2021 recebeu mais de R$ 70 milhões do FNDE. Deveria comprar, pelo menos, R$ 21 milhões da agricultura familiar, e comprou apenas R$ 1 milhão e 600 mil. Essa é uma demonstração da ausência também de uma decisão política do governo do estado e das prefeituras", declara.

Para ele, o descaso é lamentável, uma vez que deixa de gerar emprego e renda para agricultores e para a juventude camponesa. "Ao invés disso, compram comidas da indústria de alimentos, muitas vezes alimentos industrializados, cheio de conservantes, que vem de outros estados. Isso não gera um ciclo importante e virtuoso de dinamização das economias nos territórios, das economias locais, o fortalecimento da economia do nosso estado", pontua. 

Dessa forma, o programa não tem sido executado da maneira ideal, deixando muitos estudantes com a alimentação prejudicada. Isso é agravado em um cenário em que o Brasil voltou ao Mapa da Fome, e o papel da alimentação escolar para famílias de baixa renda deveria ser também o da diminuição de custos em casa. 

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Por fim, o coordenador afirma como deve ser uma alimentação ideal: ela deve ter um olhar do nutricionista, mas sobretudo observar o contexto cultural em que as escolas estão inseridas. É importante também que seja orgânica, fresca, diversa e o mínimo industrializada possível. Tudo isso já está garantido por lei. Falta agora a execução da maneira correta. 

Ouça a versão em áudio deste Vozes Populares no arquivo no início desta matéria. 

Edição: Vanessa Gonzaga