Ronda política

Demora no cumprimento da ordem de prisão contra Roberto Jefferson é alvo de críticas na PF

Policiais afirmam que não havia motivos para prolongar negociações; ex-deputado atacou agentes com tiros e granadas

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Desde 2020 Roberto Jefferson (PTB) e Jair Bolsonaro (PL) alimentam uma relação com elogios mútuos - Reprodução/Twitter

Em grupos de WhatsApp, delegados e policiais federais criticaram a demora no cumprimento da ordem de prisão expedida, neste domingo (23), pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, contra Roberto Jefferson, aliado do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL). A negociação para a prisão durou cerca de oito horas. 

Nas críticas, os policiais afirmam que não havia motivos para prolongar as negociações, principalmente depois que o ex-deputado federal atacou os agentes com tiros de fuzil e granadas. Também criticaram a intervenção do Poder Executivo, por meio do ministro da Justiça, Anderson Torres, nas negociações. As mensagens foram obtidas pelo O Globo. 

Leia também: Bolsonaro já usou Roberto Jefferson em vídeo para dizer que seu governo "não roubava"

Em nota, a Associação dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) afirmou que "é totalmente inaceitável qualquer tipo de violência contra policiais federais, em especial no cumprimento do dever legal estabelecido pela Constituição Federal". 

Vídeo mostra momento em que policial tem conversa amigável

Um vídeo gravado dentro da casa do ex-deputado Roberto Jefferson, aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL), mostra uma negociação amigável entre o ex-presidente do PTB e um policial federal, após os ataques feitos a policiais com mais de 20 tiros de fuzil e três granadas. Dois deles ficaram feridos. 

"Eu quero lhe dizer uma coisa. Não atirei neles. Eles sabem disso. Eu cheguei e eles estavam embaixo, e eu com fuzil”, disse Roberto Jefferson ao policial, como mostra o vídeo obtido pelo GLOBO. 

Em meio a risadas, o policial federal chega a dizer que "o que o senhor precisar a gente vai fazer" a Roberto Jefferson e afirma que "os meninos estão bem", referindo-se aos policiais que foram atingidos pelo ataque do ex-deputado federal com tiros de fuzil e granada.  

O policial também perguntou que tipo de granada foi lançada contra os policiais, e Roberto Jefferson disse que se tratava de uma bomba de efeito moral. Em resposta, o policial diz “Ah” e ri. 

Os policiais estavam cumprindo uma determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para prender Roberto Jefferson por violar repetidamente medidas impostas pela Justiça.  

Ele foi preso em 13 de agosto de 2021 por ordem de Moraes, após ataques a ministros da Corte. Em janeiro de 2022, a decisão foi revertida em prisão domiciliar. 

Agora, no entanto, além de ser investigado por ataques ao Estado Democrático de Direito, o político da extrema-direita responderá por tentativa de homicídio. 

STF determina suspensão das redes sociais de filha de Roberto Jefferson 

No mesmo dia em que o STF ordenou a prisão de Roberto Jefferson, a Corte também determinou a suspensão das contas em redes sociais de sua filha, a ex-deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ). 

Antes de ter as contas suspensas, Cristiane Brasil convocou apoiadores para acompanharem a prisão de seu pai do lado de fora da casa onde Roberto Jefferson estava, no município de Comendador Levy Gasparian, no estado do Rio de Janeiro. "Quem estiver perto corra para lá", escreveu em seu perfil no Twitter. 


Cristiane Brasil (PTB-RJ) e seu pai, Roberto Jefferson, ao fundo / Antônio Augusto/Agência Câmara

"Meu pai hoje está enfrentando a Gestapo do Xandão sozinho, a balas, pois não vai se entregar ao totalitarismo, à ditadura do Judiciário sobre a democracia. Isso é só o estopim do que vai acontecer daqui para frente caso aconteça alguma coisa com meu pai", disse a filha de Roberto Jefferson em seu perfil no Instagram. 

"Se acontecer alguma coisa com meu pai, Xandão, a ordem partiu de você. E é você que será responsabilizado (...). É atrás de você que o povo brasileiro vai, e eu vou estar lá com eles", afirmou. 

Moraes afirma que Roberto Jefferson violou repetidamente determinações da Justiça 

O ministro Alexandre de Moraes afirmou que Roberto Jefferson violou repetidamente cumprimentos determinados pela Justiça, na decisão em que revogou a prisão domiciliar. Entre os descumprimentos, o ex-deputado federal passou orientações para dirigentes do PTB, utilizou as redes sociais, recebeu visitas, concedeu entrevistas e compartilhou informações falsas sobre os ministros e o STF. 

Por esses motivos, Moraes determinou a volta de Roberto Jefferson à prisão, no âmbito do inquérito que investiga uma organização criminosa que atenta contra o Estado Democrático de Direito. O ex-presidente do PTB estava em prisão domiciliar por questões de saúde, como havia justificado sua defesa. 


Alexandre de Moraes, presidente atual do Tribunal Superior Eleitoral / José Cruz/Agência Brasil

“No caso em análise, está largamente demonstrada, diante das repetidas violações, a inadequação das medidas cautelares (...), o que indica a necessidade de restabelecimento da prisão, não sendo vislumbradas, por ora, outras medidas aptas a cumprir sua função”, escreveu o ministro. 

Um dia antes da prisão, Roberto Jefferson publicou um vídeo nas redes sociais em que xinga a ministra do STF, Cármen Lúcia, mesmo proibido de utilizar suas contas. 

Agora, Roberto Jefferson se encontra preso no Presídio José Frederico Marques, também conhecido como cadeia de Benfica, na zona norte do Rio de Janeiro. 

Mídia estrangeira repercute ataque de Roberto Jefferson contra policiais 

A imprensa internacional repercutiu o ataque de Roberto Jefferson contra os policiais. O jornal francês Le Monde caracterizou o ataque do ex-deputado como "uma explosão de rara violência que diz muito sobre o estado de tensão que agita o Brasil, uma semana antes do segundo turno das eleições presidenciais". 

Na mesma linha, o jornal espanhol El País ligou o caso ao segundo turno das eleições, que ocorre no próximo domingo (30). “Como Bolsonaro contestou o sistema de votação, questionando a segurança do voto eletrônico, existe o temor de que não aceite uma possível derrota e que, como Donald Trump nos Estados Unidos, decida incentivar seus seguidos a se mobilizar contra os resultados”, escreveu o jornal lembrando que "muitos bolsonaristas estão armados". 

O jornal português Público disse que "a uma semana do segundo turno das eleições brasileiras, o chefe de Estado tentou distanciar-se ainda mais de Jefferson, afirmando que não tem nenhuma fotografia de ambos. No entanto, as redes sociais encheram-se de fotos em que os dois estão juntos". 

Edição: Vivian Virissimo