Racismo

Delegado expulsa de DP advogado negro da OAB que questionava "prisão violenta" na Cracolândia

Flávio Campos, que é assessor do vereador Eduardo Suplicy (PT), foi empurrado até sair do prédio

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Flávio Campos integra o Núcleo de Direitos Humanos da OAB e é assessor do vereador Eduardo Suplicy - Foto: Arquivo Pessoal

Na tarde desta quarta-feira (26), o advogado Flávio Campos, que integra o Núcleo de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados de São Paulo (OAB-SP) e é assessor do vereador Eduardo Suplicy (PT), foi expulso, aos empurrões, da 77ª Delegacia de Polícia (DP), pelo delegado Severino Vasconcelos.

Campos questionava uma prisão efetuada por Cavalcante na Cracolândia, no centro de São Paulo. "Essa mulher foi detida na Alameda Nothmann, próximo da delegacia. O Vasconcelos e um agente da Guarda Civil Metropolitana arrastavam ela pelo braço, no meio da rua, foi uma prisão violenta. Eu fui questioná-los, pois estava acomanhando um grupo de trabalho da Defensoria Pública ali na região", relatou Campos, em entrevista ao Brasil de Fato.

No caminho até a 77DP, que fica a 50 metros do local, Campos conta que a mulher gritava tentando se defender. "Arrastaram ela até a delegacia. Ela repetia que não era bandida e nem criminosa. Nós fomos acompanhando e pedindo para que eles parassem com a violência, mas o delegado não nos dava atenção e foi ficando nervoso."

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Já na delegacia, Campos assumiu a defesa da mulher e aguardava Vasconcelos chamá-la para prestar depoimento. "Ele chegou na sala e mandou todo mundo sair. Eu disse que ficaria com minha cliente. Ele falou que eu sairia, que não ficaria ali, que eu não tumultuaria. Então, passou a me empurrar. Ele foi me empurrando, me empurrando até me colocar pra fora. Ele não me bateu porque eu não me opus", narra o advogado.

Segundo Campos, o delegado acusava a mulher por tráfico de drogas e dizia que ela tinha cachimbos e pedras de crack. No entanto, nada foi encontrado e ela foi autuada como usuária. Horas depois, foi solta.

"Tem sido recorrente ali na região, a prisão de usuários. Eles acreditam que a prisão estimula a pessoa a buscar um tratamento. Isso é mentira, a busca por tratamento vem após uma série de tratamentos, conversas com psicólogas e família, além de outros processos", afirma o advogado.

Para Campos, o tratamento teria sido outro se fosse um advogado branco. "O racismo é o ponto de partida, não é um elemento. Essa história é sobre racismo. Eu sou negro, mas sou assessor de parlamentar. Pra eles, eu sou um negro meio embranquecido. Mas continuo sendo negro, o delegado nunca me tratará como trata um branco."

Outro lado

Procurada, a Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP) não se manifestou até o fechamento desta matéria. Caso o faça, o texto será atualizado.

Edição: Nicolau Soares