Em maio de 2022, Salvador ganhou um novo espaço de lazer, integração à natureza e, principalmente, que reverencia a história e a religiosidade do local. O Parque Pedra de Xangô é o primeiro parque do Brasil com nome de um orixá, divindade do Candomblé e da Umbanda; se tornando símbolo da ancestralidade. Assista:
O local é sítio natural sagrado afro-brasileiro, uma área remanescente de quilombo e de aldeamento indígena. O destaque maior é para a Pedra de Xangô, símbolo sagrado e elemento cultural afro-brasileiro, tombada em maio de 2017 como Patrimônio Cultural do Município de Salvador.
Além disso, o local possui um lago artificial e um memorial da Pedra de Xangô. Segundo Maria Alice Silva, pesquisadora da área de questões afro-brasileiras, a criação do Parque Pedra de Xangô reforça a preservação da Mata Atlântica na Bahia.
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“O candomblé cultua a natureza. Para os adeptos das religiões de matriz afro-brasileira, a natureza é sagrada. Então, esse parque tem uma importância imensurável. Foi uma luta de 17 anos para que hoje possamos estar contemplando o Parque Pedra de Xangô e nessa luta muitas foram as caminhadas, muitos foram os ritos afro-brasileiros para mostrar a sociedade soteropolitana que ali é um sítio natural sagrado e que precisa ser preservado”, destaca a pesquisadora.
A formação rochosa de 8 metros de altura e aproximadamente 30 metros de diâmetro é considerada um monumento natural, um marco na história de resistência daqueles que sofreram com a escravidão em Salvador, pois, servia como passagem e esconderijo de quilombolas perseguidos.
Xangô é um orixá cultuado em religiões como o Candomblé e a Umbanda / Márcio Vasconcellos
Através do Movimento do Povo de Santo, em 2016, o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) contemplou a criação do Parque Pedra de Xangô, a área de proteção ambiental municipal Vale do Assis Valente e o Parque em Rede Pedra de Xangô, com a finalidade de preservar todas as áreas verdes ainda existentes no entorno.
A pedra está envolvida por uma vegetação remanescente de Mata Atlântica, o que reforça o caráter sagrado do local. Além da preservação ambiental, o espaço também preserva a herança de uma cultura afro-brasileira que é símbolo do povo soteropolitano, como explica a pesquisadora Maria Alice Pereira da Silva.
Quilombo de luta contra o racismo religioso
“É um lugar efervescente, uma verdadeira insurgência. Um lugar onde o povo negro luta contra a invisibilidade, que demarca território. O Parque Pedra de Xangô é um quilombo que luta contra o racismo religioso, que luta contra o racismo ambiental e é referência para o Brasil e para o mundo”, afirma Maria.
Ela comenta a importância do reconhecimento do espaço. “Em mais de 500 anos de discriminação racial ter o primeiro parque com nome de um orixá significa que nós existimos, nós resistimos e vamos continuar lutando para que a memória, a cultura afro-brasileira permaneça viva e seja reconhecida como um elemento fundamental na formação da cultura na civilização brasileira”, diz.
O monumento reafirma sua relevância também pela história de mais de dois bilhões de anos marcados na pedra. A construção deste parque faz parte da salvaguarda histórica e, além de ser o primeiro espaço de lazer com um nome de um orixá, também é um marco identitário da região de Cajazeiras 10.
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Edição: Vanessa Gonzaga