VENDE-PÁTRIA

Reino Unido apostou no governo Bolsonaro para explorar gás e petróleo no Brasil

Documentos oficiais revelam envio de R$ 345 milhões para criar "oportunidades" para britânicos no mercado energético

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Bolsonaro reuniu-se com Boris Johnson, em mais de uma ocasião, quando o britânico exercia o cargo de primeiro-ministro do Reino Unido - - Michael Santiago /AFP

Documentos desclassificados pela imprensa britânica mostram que o governo do Reino Unido investiu R$ 345 milhões para “a abertura econômica e a infraestrutura sustentável do Brasil”. As verbas começaram a ser destinadas no final de 2018, após a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro. 

O "Fundo Bilateral de Prosperidade para o Brasil" foi dividido em quatro partes, mas a parcela voltada para o setor energético foi orçada em R$ 154 milhões, quase metade do total, e vai até o março de 2023.

O dinheiro britânico foi projetado para criar um “mercado de energia mais competitivo e eficiente” no Brasil e pressionar pela “liberalização do mercado de gás”, o que sugere abrir caminhos para a privatização. 

No primeiro balanço do projeto, as autoridades britânicas publicaram um relatório indicando a necessidade de "delinear as etapas da entrega do programa de uma maneira que crie e identifique explicitamente as oportunidades para empresas internacionais, inclusive do Reino Unido, entrarem".

O Brasil integra a lista dos 20 países com as maiores reservas provadas de petróleo do mundo, com 11,89 bilhões de barris, segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Com a descoberta do pré-sal, em 2007, e levando em consideração as reservas prováveis e possíveis, o valor quase dobra e atinge 20,273 bilhões de reservas petrolíferas no subsolo brasileiro.

Em maio deste ano, o Brasil estava produzindo 2,8 milhões de barris de petróleo por dia e 132 milhões de m³ de gás, sendo que os campos operados pela Petrobras foram responsáveis por 94,2% da produção total de combustível, de acordo com a ANP.

Apesar da eficiência da maior estatal brasileira, Bolsonaro colocou à venda oito refinarias da Petrobras, que representam mais de 30% da capacidade de refino nacional, e prometeu vender mais estatais se reeleito.

Leia também: Governo Bolsonaro insiste em vender três refinarias da Petrobras antes da eleição

Documentos obtidos por meio da Lei de Liberdade de Informação pelo Desclassified UK oferecem detalhes da colaboração do Reino Unido com a extrema direita do Brasil e mostram como o Brasil de Bolsonaro representou uma oportunidade para os negócios britânicos. Autoridades britânicas se reuniram com a família Bolsonaro nos meses que antecederam a eleição de 2018.

Em abril de 2018, após a prisão do ex-presidente Lula (PT), a então secretária do Tesouro do Reino Unido, Liz Truss, veio ao Brasil e teve reuniões com ministros e autoridades sobre assuntos como “privatização”. Em uma das notas do briefing de Truss, observa-se que há um novo “interesse pelo mercado aberto” no Brasil, que “tem enormes reservas de petróleo e gás”.

Truss também visitou o Instituto Millenium, uma think-tank neoliberal fundada em 2005 por Paulo Guedes, atual ministro da economia.

À época da visita de Truss, Guedes já era o principal assessor econômico de Bolsonaro “e defensor da privatização de empresas estatais e da reforma da previdência”. Vários itens de discussão da Truss com o Instituto Millenium permanecem confidenciais.

Os britânicos comemoraram a vitória de Bolsonaro em 2018, dizendo que “houve um impulso maior nas reformas econômicas liberais”, e o presidente de extrema-direita iniciou “um esforço para reformar o setor de energia”.

Edição: Thales Schmidt