"Calma", disse Moro

Após debate, Bolsonaro se irrita, briga com repórter e é retirado da coletiva por assessores

“Ooow, ow!”, presidente interrompe jornalista e pergunta, aos berros, se ele “tem moral” para chamá-lo de mentiroso

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Episódio acontece depois do último debate dos presidenciáveis antes do segundo turno - AFP

O descontrole do candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) durante coletiva de imprensa depois do debate presidencial da TV Globo, nesta sexta (28), chegou a tal ponto que seus assessores interromperam a entrevista e o retiraram de lá antes que a situação piorasse. Não deu tempo de evitar um “você tem moral para me chamar de mentiroso?!” a um jornalista da Folha de S. Paulo e um tapinha na mesa, enquanto seu ex-desafeto, o senador eleito Sergio Moro (União Brasil), cutucava seu braço dizendo “calma”.  

A reação aos berros foi a uma pergunta sobre a fake news espalhada por ele a respeito da visita de Lula (PT) ao Complexo do Alemão. Dizendo que toda a imprensa carioca conhece o comunicador Renê Silva, organizador do evento, o repórter perguntou ao presidente por que ele insiste na mentira de que houve uma negociação prévia do candidato petista com chefes do tráfico. O jornalista nem conseguiu concluir a pergunta. 

Mas essa foi apenas a gota d’água. A irritação do presidente começou antes e escalou. Primeiro, ficou bravo quando a assessora da rede Globo avisou, no alto falante e segundo o protocolo, o tempo que faltava para o término da entrevista. “Candidato, o senhor tem um minuto”. “Peraí”, reagiu Bolsonaro: “Sou candidato ou sou presidente? Se eu sou candidato eu vou embora. Se eu sou candidato, eu vou embora”.  

Passado aquele minuto restante, Bolsonaro se recusou a deixar o púlpito. O tempo de 10 minutos para a coletiva de imprensa após o debate foi estabelecido em comum acordo com as candidaturas que, conforme determina a legislação eleitoral, devem ter o mesmo período de fala disponibilizado.  

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“Não, não, não. Eu vou continuar falando aqui. Pera aí, por favor, eu sou educado pra caramba. Se achar que está ruim, eu vou embora”, ameaçou de novo, apesar de ser exatamente o que o acordo exigia que ele fizesse. Mas seguiu, já dizendo o contrário: “Eu quero continuar falando. Eu falo com vocês uma hora, não cortem meu raciocínio”.  

“Não falo espanhol”, disse a jornalista português 

Ao ser questionado, por um jornalista português da ATP sobre a imagem do Brasil perante o mundo, o presidente disse não ter entendido a pergunta. O repórter se ofereceu para repetir, mas foi cortado pelo ex-capitão. “Se ficar repetindo, vou continuar não entendendo. Não falo espanhol e nem portunhol”, disse rispidamente. 

Mas o tema da pergunta final - que fez com que o tenente-coronel Mauro Cid subisse nas escadas do palco para retirar Bolsonaro de cena e Moro assumisse o microfone falando que insegurança pública vem “dos governos do PT” - possivelmente renderá mais um processo contra o presidente.  

Racismo e preconceito 

Depois de ter sido, mais uma vez, chamado de “chefe do narcotráfico” por Bolsonaro, o jornalista, ativista e criador do jornal Voz das Comunidades, Renê Silva, disse que vai processar o presidente. 

Organizador do encontro de Lula com lideranças comunitários do Complexo do Alemão, Silva afirmou em entrevista ao UOL considerar as falas de Bolsonaro racistas, preconceituosas e inadmissíveis.

Na ocasião, o petista vestiu um boné com a inscrição CPX, uma referência à palavra “complexo”. Tentando criminalizar o oponente, o comunicador, além de todo o território e as pessoas que ali vivem, as redes bolsonaristas disseminaram a mentira de que a sigla seria de uma facção criminosa.

Edição: Glauco Faria