DO PARÁ PARA O MUNDO

Do campo para os palcos: filme 'Fala da Terra' conta história de coletivo de jovens do MST

Produção retrata a resistência do grupo teatral de camponeses que nasceu na região do massacre de Eldorado dos Carajás

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Cena do filme "Fala da Terra" (2022), dos cineastas Bárbara Wagner e Benjamin de Burca - Reprodução

A resistência camponesa em poesia, canto e encenação, em um palco que não poderia ser mais simbólico: no sudeste do Pará, mesma região onde 21trabalhadores rurais foram mortos pela polícia, em 1996, vinte anos depois do que ficou conhecido como massacre de Eldorado dos Carajás, florescia o Coletivo Banzeiros. 

O grupo, formado por jovens do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), utiliza diferentes linguagens artísticas para ensinar.

"Eu sou esse jovem que não conhecia o MST e eu fui para o Movimento através das linguagens artísticas, sabe? Assim, eu me apaixonei pelo MST por causa disso. Então, o MST trabalha muito bem com a juventude isso, né? Desde o sem-terrinha a gente já começa a explorar o lado artístico E a juventude não é diferente", destaca Alan Leite, que integra o coletivo Banzeiros.

"A gente tem várias pessoas aqui que experimentam a as artes e que dialogam com a sociedade a partir das artes, vários músicos e atores, camponeses atores e artesãos. E quem também pratica agricultura está sempre construindo as feiras reforma agrária. Então são linguagens, são práticas que aproximam a sociedade do MST", complementa.

Agora, a atuação do Coletivo Banzeiros se expandiu para outra linguagem: o cinema. "Fala da Terra", de 2022, é uma produção dos cineastas Bárbara Wagner e Benjamin de Burca. Os artistas trabalham juntos há 10 anos, retratando protagonistas que resistem na vida real, por meio da cultura. Mais do que representações, os filmes da dupla são encontros, onde colaboração é método de trabalho. 

"O que faz toda a diferença, na verdade, que também marca o meu trabalho e de Bárbara, é essa perspectiva de trabalhar em colaboração e levar todas os forças, pessoas e todas as experiências para chegar em um resultado que todo mundo até tem uma ideia, mas ninguém sabe o que vai acontecer, né? É meio arriscado, mas é é lindo. Então, o filme também mostra que o diálogo através da arte é muito importante", afirma Benjamin.

Bárbara também ficou satisfeita com o resultado: "foi muito bonito ver o movimento se dirigindo, né? Então, ver a Maria Raimunda ensinando, por exemplo, a própria filha, que é a Maria Luiza, que está no filme, a ter mais a ter mais raiva na hora em que ela está falando, denunciando as violências da região. Teve um momento da peça deles que a gente traduziu com a câmera os rostos dos camponeses".

Em junho, o filme estreou no 'New Museum', em Nova Iorque, e, em seguida, passou a ser exibido no Masp, em São Paulo. Para Alan, do Coletivo Banzeiros, esse foi um destaque na contramão do estigma associado aos sem-terra no país. 

"A gente precisa ocupar esses espaços. O MST é a arte, sim. Então, a gente precisa ocupar os espaços que sempre foram da elite burguesa e o Coletivo Banzeiro é feito por sonhadores que pretendem construir o movimento sem-terra, principalmente na região amazônica, que é uma área muito conflituosa para se colocar um grupo de teatro, né? Ganhar essa notoriedade é romper cercas dessa região", ressalta Alan.

O filme é um curta-metragem, com duração de dezessete minutos. "A gente eh torce muito pra que o filme consiga né? Nessa duração curta que ele tem, a gente dialogou de forma tão densa, com tantas camadas de informação. Que o filme possa traduzir também ajudar a travar essa luta, que a gente consiga salvar um pouco do que resta, do que é protegido pelos pelos assentamentos, pelos povos originários daquela região e que querem uma Amazônia sustentável e um país um país menos violento, menos desigual", acrescenta Bárbara. 

O filme 'Fala da Terra' está em exposição na sala de vídeo do Masp, em São Paulo, até 13 de novembro. 

 

Edição: Douglas Matos