Coluna

A grande tarefa do governo Lula: superar as notas de repúdio e esfacelar o bolsonarismo

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Grupos de extrema-direita não podem ser naturalizados na sociedade - Ricardo Stuckert
É o momento de resgatar as pessoas para o diálogo, para dentro do campo democrático

Há algum tempo os apoios e as críticas às notas de repúdio, sobre temas variados, eram uma vertente das forças progressistas, que tinham dificuldades de ganhar espaço nas redes sociais, além de estarem escanteados da agenda político institucional após o Golpe de 2016. Certamente, não era a única atuação dos setores de esquerda, mas as polêmicas giravam em torno da sua eficiência.

A vitória eleitoral de Lula, em 2022, abre espaço para o fortalecimento de ações políticas para além das notas de repúdio. Superar as notas de repúdio implica em fazer política, encarar as contradições, construir condições mínimas de avançar em pautas civilizatórias, mesmo que para isso, seja necessário se articular com grupos opositores há pouquíssimo tempo atrás. Mais do que isso, é ter responsabilidade, não com a governabilidade, mas com o povo brasileiro e com a realização da política para além do parlamento. A ideia de superar as notas de repúdio nos impele a garantir outras ações: 

  1. A polítização social será fundamental neste próximo período, algo muito criticado nos governos petistas anteriores, que construíam a política pública e jogavam-a no colo da meritocracia, não do projeto de governo. Quantos universitários brasileiros, na década passada, não acharam que o estudo fora do Brasil, ao longo de sua graduação, se deu por mérito próprio, ao invés de atribuir isso a um programa político de governo chamado “Ciência sem Fronteiras”. Não por acaso, nos últimos 5 anos, nenhum graduando, por mais brilhante que fosse, conseguiu estudar fora, amparado amplamente pelo Estado brasileiro. Exemplos como este existem aos montes e só a incidência na organização e na comunicação com a sociedade civil dará conta desta tarefa.    

  2. Avançar sobre os grupos de extrema-direita no parlamento e nas ruas. Grupos de extrema-direita não podem ser naturalizados na sociedade. O discurso fácil da liberdade de expressão absoluta não existe em nenhum lugar civilizado do mundo. Não há liberdade de opinião quando o outro é afetado em sua forma de existir. Os atos golpistas pós-eleitorais, com manifestações alucinadas e caricatas de setores, inclusive, armados da sociedade, dão amostra que a mera política ampla de alianças parlamentares e as notas de repúdio às afrontas democráticas, para quem realiza atos nazifascistas, não são mais suficientes. A reação deve ser exemplar e não comporta vacilações. Não se pode subestimar o fato de um país como o Brasil, ser aquele em que mais cresce o número de células nazistas no mundo, conforme estudos recentes.   

  3. A incidência mobilizadora na sociedade civil é crucial para o avanço de uma sociedade democraticamente pujante que derrote, de maneira contundente, os elementos militarizantes e fascistizantes deixados nesses últimos anos. É o momento de resgatar as pessoas para o diálogo, inclusive as que compuseram o bolsonarismo, para dentro do campo democrático. No entanto, o ingresso na arena dialógica, só será possível aniquilando o núcleo duro radicalizado da extrema-direita no Brasil. O uso da máquina de governo na campanha Bolsonaro junto às prefeituras, à Polícia Rodoviária Federal, aos militares e a alguns setores empresariais dão conta que não será tarefa fácil, nem rápida, mas fundamental de ser enfrentada.

Nos resta recuperar nossa energia, manter a mobilização em alta, identificar no bolsonarismo o espaço de maior enfrentamento para o próximo período e não esmorecer, abrindo flancos para a construção de força própria da classe para os períodos vindouros. Por mais úteis que sejam, ficou claro que as notas de repúdio não serão suficientes para derrotarmos o bolsonarismo na sociedade. Não esqueçamos Gal: “É preciso estar atento e forte”. 

*Gladstone Leonel Júnior é Professor Adjunto da Faculdade de Direito e do Programa de Pós-Graduação em Direito Constitucional da Universidade Federal Fluminense. Doutor e Pós-Doutor em Direito pela Universidade de Brasília. Realizou o estágio doutoral na Facultat de Dret, Universitat de Valencia, Espanha. Membro da Secretaria Nacional do IPDMS – Instituto de Pesquisa, Direitos e Movimentos Sociais. Leia outros textos.

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Glauco Faria