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Donald Trump perde força com eleição de meio de mandato nos EUA

Ex-presidente republicano, que tentou golpe em 2021, esteve presente nas urnas com indicações e apoios

Brasil de Fato | Los Angeles (EUA) |
O ex-presidente Trump - AFP

Mesmo com o provável ganho de controle da Câmara e do Senado, os republicanos são os grandes perdedores das eleições de meio de mandato dos Estados Unidos. O desempenho do partido foi muito aquém do esperado.

Com mais de 45 milhões de votantes, o pleito se encerrou na última terça-feira, 8 de novembro. Até o momento, os republicanos contam com 48 cadeiras no Senado, e os democratas com 46 – são necessárias 51 cadeiras para ter o comando desta Casa. Já na Câmara dos Representantes, o partido Republicano mantém 211 cadeiras, contra 195 do Democratas – o controle da Câmara vai para as mãos do partido que conquistar pelo menos 218 vagas. Em ambos os casos, a "onda vermelha", prevista pelas pesquisas, não se concretizou e abriu uma verdadeira crise no partido Republicano.

Em conversa com a reportagem do Brasil de Fato, a cientista política Wendy Schiller, professora da Brown University, afirma que este pleito foi um divisor de águas para os republicanos: "As eleições de meio de mandato de 2022, nos Estados Unidos, são diferentes de outras eleições porque é realmente um ponto de virada para o Partido Republicano, que tem que decidir o retorno a Donald Trump, seu indicado em 2020, que perdeu a disputa para Joe Biden", disse. 

Para o também cientista político Kirby Goidel, professor da Texas A&M University, o destaque dessa eleição também está ligado a Trump, mas por outro ângulo. "Na história moderna da política americana, esta é a primeira vez que temos uma eleição em que muitos dos candidatos que estão concorrendo a uma vaga dizem que não aceitam os resultados das eleições de 2020, e eu não consigo pensar em nenhum período em que tenhamos visto algo assim".

Os pesquisadores concordam que o papel desempenhado pelo ex-presidente nesta eleição de meio de mandato foi atípico. "Acho que nunca vimos um candidato perdedor participar tão ativamente de campanhas como Trump fez agora: mesmo ele tendo sido derrotado em 2020, usou sua influência política para tentar eleger os 'seus' candidatos", explicou Wendy.

Trump, porém, saiu diminuído – o desempenho tímido do partido leva a crer que a sobrevida política do ex-presidente está por um fio. O empresário, porém, não aceita recuar com a sua candidatura, pelo menos não até agora.

Essa insistência de Trump faz Goidel acender um alerta. "Estou preocupado, porque nossa política se tornou um partidarismo afetivo tão desagradável, que a antipatia pelo outro lado é tão profunda a ponto de, cada vez mais, republicanos e democratas enxergarem uns aos outros não como indivíduos bem intencionados, que apenas têm uma diferença de opinião. Eles se encaram como inimigos, [uma] ameaça ao Estado", conta.

A professora Wendy tende a ser mais otimista nesta questão: "Acho que todas as democracias são frágeis, mas parece que estamos tendo uma participação muito boa nesta eleição de meio de mandato e, quando você tem muita gente votando, e tudo corre bem, e as pessoas são declaradas vencedoras, e nós seguimos em frente, é difícil dizer que a democracia está morrendo. Isso significa que muitas e muitas pessoas votaram e as pessoas em quem elas votaram venceram a eleição, e agora estão no cargo. Então, se tudo isso acontecer pacificamente, não acho que a democracia esteja morrendo".

Se por um lado esta eleição faz pulsar a democracia nos Estados Unidos, por outro ela engessa o sistema. "Como o controle do Senado tende a trocar de mão durante as eleições de meio de mandato, passando para o lado da oposição, nenhuma grande nova legislação costuma ser aprovada nos dois últimos anos da administração de um presidente", explicou Wendy.

Goidel concorda: "fica difícil governar nos últimos dois anos, pela forma e pelo poder de aprovação do Congresso em relação a novas regras".

Por fim, a professora Wendy defende que o governo Biden use de toda seu poder executivo para tentar se defender, e insiste que nada disso seja analisado em miudeza: "é esperado que os dois últimos anos sejam mais devagar, então esta não é a eleição para ser interpretada como um referendo sobre Trump ou o partido de direita nos Estados Unidos, até porque a população tem outros interesses para reivindicar nas urnas, como a economia e o custo da qualidade de vida no país."

Edição: Thales Schmidt