NOVEMBRO NEGRO

Vozes Populares | Grupo Máscara Negra resgata e difunde cultura e história negra no Recife

O grupo realiza uma programação especial de Novembro Negro com foco na participação da juventude

Ouça o áudio:

A oficina de Teatro Negro, pontapé inicial do grupo, foi realizada no Museu de Artes Afro-Brasileira (MUAFRO) - Foto: Arquivo Pessoal/Máscara Negra
Nós enquanto pessoas negras não tivemos antes a abordagem do teatro negro

No Recife, uma experiência de aquilombamento tem se comprometido com o resgate e a difusão da cultura e história negra do continente africano e suas diásporas. Trata-se do grupo Máscara Negra, que traz uma proposta afrocentrada de arte-educação.

Esse é mais um episódio do especial de Novembro Negro, em que o Brasil de Fato Pernambuco traz coletivos culturais que fazem uma luta antirracista. 

Oficina de Teatro Negro

Em agosto deste ano, o arte-educador e historiador, Jefferson Vitorino, idealizou uma oficina de Teatro Negro no Recife, que tinha como guia: "retirar a máscara branca de cena para recuperar a sua máscara negra". Essa oficina buscava trazer referências 100% negras.

O artista usa o termo “historiator” para brincar e vincular suas duas vivências com o teatro e a História. Ele fala sobre um dos objetivos da oficina. "Um dos recursos inegociáveis foi que a oficina fosse só para pessoas negras. E isso foi importantíssimo pra gente, porque uma das coisas que coloquei também enquanto pessoal idealizadora foi que nenhuma pessoa negra se sentisse a cota", relata.  

Ele pontua que é muito comum que manifestações culturais negras sejam feitas majoritariamente por brancos, de maneira que negros viram a minoria. Ele traz, ainda, que proposta da oficina é que ela seja um espaço de construção coletiva e não de competição. "Foi muito emocionante saber que no segundo dia, nas apresentações, ninguém competiu, só celebrou". 

Na atividade, nomes como Solano Trindade e Abdias de Nascimento, que encabeçaram o Teatro Negro no Brasil, eram apresentados e discutidos. Esse foi o ponto inicial do grupo que, para além do teatro, também traz as vivências e a história negra através de outras artes. 

Leia aqui: Artigo | E por falar em Solano

Novembro Negro

Agora no Novembro Negro, o grupo de artistas que forma a equipe do Máscara Negra pensou uma programação chamada “Diásporas em Movimento”, com produção da ONG Fábrica Fazendo Arte, voltada para o resgate de jovens que estão em vulnerabilidade social através da arte, dança e propagação dos Direitos Humanos. 

Uma das ações aconteceu na Escola Municipal Edite Braga, com aula e roda de conversa sobre a história do Quilombo dos Palmares para os alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Tudo acontece com uma articulação coletiva, em que os artistas se disponibilizam gratuitamente para oferecer o conhecimento que possuem. 


A aula sobre República de Palmares foi contada a partir dos personagens centrais da história e trazida para a atualidade / Foto: Arquivo Pessoal/Máscara Negra

Jefferson fala mais sobre o porquê o grupo existe. "O John Henrik Clark, historiador negro, disse que: 'pegue aquilo que você faz de melhor e devolva para o seu povo' e acho que a essência do Máscara Negra também é isso. Nós enquanto pessoas negras não tivemos antes a abordagem do teatro negro, a abordagem da história [negra], as abordagens de uma educação efetiva e emancipadora", relata. 

Ele afirma, também, que há uma consciência coletiva de que esse tipo de aprendizado não se espera das instituições formais, a não ser que sejam por um viés branco. "A gente não está esperando nada do Estado. A gente não está, por exemplo, fazendo um discurso do tipo 'ah, a gente vai esperar pela lei tal pra ter educação afrocentrada'. Não é isso. A gente está buscando, sentando, para poder aprender, para levantar, para poder ensinar". 

Saiba mais

Isso tudo acontece junto às periferias do Recife, pois como o historiator Jefferson diz, é preciso do aprendizado do chão além do aprendizado acadêmico e institucional. Por isso, as ações buscam envolver o público em geral, não apenas os que querem produzir arte. Ele cita como exemplo um trabalhador que tira 10 minutos do seu dia para observar uma apresentação nas ruas.

Tudo isso, no entanto, acontece de maneira independente e sem incentivo público, o que implica em vários obstáculos. Por isso, quem quiser colaborar com o grupo e quer saber como chegar junto, acessa o instagram @mascaranegras.

Edição: Vanessa Gonzaga