CULTURA POPULAR

Vozes Populares | Há 18 anos, Afoxé Oyá Alaxé leva o candomblé nagô para as ruas de Pernambuco

Gabriela Sampaio, integrante do Oyá Alaxé, conta sobre a história e importância do grupo

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O Afoxé Oyá Alaxé é fruto do tradicional Ilê Obá Aganjú Okoloyá, Terreiro de Mãe Amara, datado de 1945 - Foto: Divulgação/Facebook
"O afoxé tem três pilares, que é a voz, a percussão e a dança"

O Afoxé, de origem iorubá, é um símbolo da cultura africana no Brasil. Conhecido como “Candomblé de rua”, é uma manifestação que busca levar o axé para fora dos terreiros. Algumas de suas características são as roupas, nas cores dos Orixás, os instrumentos de percussão, as cantigas em língua iorubá e a dança. 

Além disso, religiosidade e resistência andam juntas nessa manifestação da cultura popular. Em Pernambuco, existem diversos grupos de afoxé. Nesta edição do Vozes Populares, o Brasil de Fato Pernambuco apresenta o Afoxé Oyá Alaxé.

Afoxé Oyá Alaxé

Em 2004, no Bairro de Dois Unidos, em Recife, é fundado por Maria Helena Sampaio o Afoxé Oyá Alaxé, fundamentado nos preceitos do Candomblé Nagô. Oyá é a orixá popularmente conhecido como Iansã, a guerreira mais valente das Yabás, as orixás mulheres. No Oyá Alaxé, as mulheres são as guardiãs ancestrais da cultura popular e afro-diaspórica. 

Gabriela Sampaio, integrante, backing vocal, vocalista do Oya Alaxé e filha biológica de Maria Helena Sampaio fala mais sobre como o grupo se estrutura. "O afoxé tem três pilares, que é a voz, a percussão e a dança. A voz é o “Efufulele nagô”, que é ministrado por mulheres, é a música ancestral, a louvação para os orixás. Tem a ala percursiva que é “Obáokosso”, que a gente toca em referência aos orixás. E tem a ala de dança que é o “Nagô Ajô”, com a metodologia de dança criada dentro do terreiro por minha mãe e minha irmã, que sistematiza todo esse processo da dança". 

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A metodologia que Gabriela menciona é sistematizada pela sua irmã, Helaynne Sampaio, que também é professora de dança, coreógrafa e bailarina nagô. Recentemente, ela lançou o livro “Dança Nagô: herança ancestral e resistência matriarcal do Balé Nagô Ajô, corpo que dança Afoxé Oyá Alaxé”.  "Esses frutos nascem desse cuidar da cultura nesse formato expandido, que abriga outras coisas, outras pessoas, sem preconceitos, sem intolerância", afirma Gabriela. 

O Oyá Alaxé tem como regra manter viva a ancestralidade, a valorização do povo negro e, claro, a relação com a religiosidade. Sendo o afoxé uma homenagem a um orixá, ele também tenta desconstruir a ideia demonizada que muitos cristãos criaram do candomblé. 

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Trata-se de um cortejo que está presente nos carnavais, mas que não se reduz a esse momento e nem deve ser confundido com bloco carnavalesco. Para Gabriela, ser do afoxé faz parte de quem ela é. "Ser do Afoxé é uma gratidão, eu me sinto pássaro, me sinto água, me sinto vento, me sinto a própria natureza, porque eu sei o que pregamos. Não é porque sou filha biológica, mas é porque eu sinto e essa é a minha maior verdade", enfatiza.

Por fim, ela reforça a importância da contribuição de sua mãe para o afoxé e a cultura popular em Pernambuco. "O legado da nossa mestra nesse cenário do afoxé em Pernambuco é ser a primeira mulher mestra de afoxé a conduzir uma ala de percussão, por ela ter esse ensinamento vindo de berço". Segundo ela, todo o processo educativo dela foi dentro dos terreiros, e ela conseguiu trazer esses ensinamentos de dentro para fora e levar para as pessoas o significado de tudo que aprendeu junto a outras referências negras. 

Para saber mais sobre o Oyá Alaxé e acompanhar as apresentações do grupo, acesse o instagram @oyaalaxe

Edição: Vanessa Gonzaga