Educação

Estudantes em situação de vulnerabilidade social sofrem com corte de bolsas no Paraná

Na UFPR, auxílios assistenciais já foram pagos, mas demais bolsas seguem suspensas, ameaçando permanência estudantil

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Estudantes fizeram manifestação contra os cortes, no último dia 08 - Foto: Mayala Fernandes

Ruan Patrick de Oliveira, 26 anos, veio de Belém, no Pará, para realizar o sonho de cursar Terapia Ocupacional na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Cotista social e de escola pública, ele não conseguiria permanecer na universidade se o corte dos auxílios se efetivasse. Os R$ 675 de auxílio permanência e moradia pagam apenas a mensalidade da Casa do Estudante Universitário (CEU), as passagens de ônibus para frequentar as aulas e os materiais para estudo. A alimentação é garantida pelo Restaurante Universitário, onde ele faz todas as refeições do dia de forma gratuita através do auxílio refeição, concedido pela Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE) da UFPR.

"Se não cair o pagamento, eu vou fazer de tudo para não sair da universidade, porque esse é meu sonho", diz Ruan. "Vou ter que buscar trabalho em bares no final de semana, algo que não atrapalhe os estudos", fala.


"Vou fazer de tudo para não sair da universidade, porque esse é meu sonho”, diz Ruan / Foto: Mayala Fernandes

Com o bloqueio de R$ 431 milhões determinado pelo Ministério da Educação (MEC) e a consequente suspensão de bolsas e auxílios, são muitos os estudantes como Ruan que não sabem se poderão pagar qualquer conta em dezembro e mesmo se poderão continuar frequentando as aulas.

Na terça-feira (06), a UFPR publicou um comunicado à comunidade universitária alegando que, com os cortes efetuados pelo governo federal, não havia nenhuma condição financeira para realizar o saldo das contas básicas de água, luz, contratos dos serviços essenciais de conservação, limpeza e segurança, bem como o pagamento de bolsas, auxílios e o funcionamento dos restaurantes universitários, já neste mês de dezembro.

No mesmo dia, foi divulgada uma portaria que permite ao MEC utilizar cerca de R$ 300 milhões destinados inicialmente a despesas obrigatórias para as despesas discricionárias. Contudo, mesmo com a medida, o valor é insuficiente. Em nota técnica, a coordenação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) afirma que, só para cumprir seus pagamentos de novembro, seriam necessários mais de R$ 398 milhões.

Sem dinheiro para pagar as contas e permanecer na faculdade, Jorge Luiz de Souza Batista, 28, teme ter que largar o curso de Artes Visuais na UFPR e voltar para a casa da família, em Taboão da Serra, região metropolitana de São Paulo. Jorge também é bolsista da universidade e, além dos auxílios permanência e moradia, recebe a bolsa de R$ 400 para desempenhar o trabalho de tutoria de uma estudante autista.

"Com os cortes, eu não consigo pagar minhas contas pessoais, se tiver que comprar algum material para a universidade, usar transporte público, não vou conseguir. Se eu ficar doente, não vou ter dinheiro para comprar remédio", diz Jorge.

Filho de mãe aposentada, que ainda trabalha para complementar o valor do aluguel, o estudante fala que voltar para casa e causar mais despesas é a última alternativa. "Eu não posso depender de nenhum centavo dela. Inclusive, eu gostaria de já estar trabalhando para conseguir ajudá-la", afirma.


“Com os cortes, eu não consigo pagar minhas contas pessoais", diz Jorge / Foto: Mayala Fernandes

Estudantes de pós em risco

Em vídeo nas redes sociais, o reitor da UFPR e presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Ricardo Marcelo, alegou que os recursos realocados pela nova portaria, o valor de R$ 300 milhões, serão destinados para o pagamento das bolsas assistenciais do Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES). O pagamento foi efetivado na manhã de sexta-feira (09).

O reitor diz ainda que, embora esteja comemorando essa vitória, a Andifes não descansará até que as bolsas ainda não pagas sejam depositadas e até que todos os recursos retornem para onde nunca deveriam ter saído: as universidades.

Mestranda em Antropologia e Arqueologia, Yslia Alencar, 23, saiu do município de Crato, no Ceará, para se dedicar à pesquisa na UFPR. Mudou-se para a cidade no início do ano e só veio porque passou no processo de seleção de bolsa para pós-graduação, que paga mensalmente o valor de R$ 1.500.

As bolsas da Capes referentes ao pagamento dos pós-graduandos ainda não foram depositadas. Neste mês, Yslia teve que recorrer à família para conseguir pagar moradia e comprar comida. "Meu pai fez um empréstimo para tentar quitar o cartão, que é como eu consigo me virar aqui", conta a estudante.


Mestranda em Antropologia e Arqueologia, Yslia Alencar saiu do município de Crato, no Ceará, para se dedicar à pesquisa na UFPR / Foto: Mayala Fernandes

Na quinta-feira (08), o Ministério da Educação prometeu transferir para a Capes R$ 160 milhões para o pagamento de bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado. Em comunicado publicado na sexta-feira (09), a UFPR informou que o pagamento dos bolsistas de pós-graduação será efetivado até o dia 13 de dezembro. No entanto, "todas as universidades e institutos federais permanecem sem recursos para saldar seus contratos de serviços e de terceirizados, bem como o pagamento de contas básicas de água e luz".

Em nota para o Brasil de Fato Paraná, o Diretório Central dos Estudantes da UFPR afirmou que "estiveram buscando, sempre que possível, denunciar os cortes e levantar o debate sobre o quão é importante que os estudantes estejam mobilizados para barrá-los através das redes sociais, assembleias pelo movimento estudantil de Curitiba e compondo os atos, como foi o caso do último dia 08/12 na paralisação geral dos estudantes pós-graduandos, porque por mais que o corte foi revertido e as bolsas de permanência e moradia foram pagas, a gente ainda está a mercê de futuros cortes".

Fonte: BdF Paraná

Edição: Lia Bianchini