ARTISTAS NO MINC

"Melhor ministro da Cultura", Gil foi criticado até por artistas após convite de Lula em 2003

Artista baiano é unanimidade por sua gestão à frente do MinC, mas foi alvo de ataques quando assumiu o cargo, há 20 anos

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Gilberto Gil foi ministro da Cultura de Lula entre 2003 e 2008 e responsável pela criação dos Pontos de Cultura - Ricardo Stuckert

O cantor e compositor baiano Gilberto Gil é considerado por muitos como o "melhor ministro da Cultura" da história do Brasil, por sua atuação à frente da pasta durante os mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), entre 2003 e 2008. No cargo, Gil foi responsável pela implementação de políticas públicas para a promoção da diversidade artística, cultural e étnica, como os Pontos de Cultura.

A escolha de Lula de indicar Gil como chefe do ministério, no entanto, foi alvo de duras críticas da imprensa e até de artistas consagrados. Na maior parte dos argumentos contrários à indicação, estava a falta de experiência administrativa. As críticas, contudo, ignoravam que a atuação de Gilberto Gil no poder público remontava a 1979, quando ele assumiu o cargo de membro do Conselho de Cultura do Estado da Bahia, compondo a chamada Câmara de Música.

Em 1987, Gil tomou posse na presidência da Fundação Gregório de Mattos, órgão que correspondia à Secretaria Municipal da Cultura de Salvador. Um ano depois, lançou pré-candidatura à Prefeitura, mas após disputas no PMDB, foi postulante ao cargo de vereador, para o qual se elegeu como o político mais votado da capital baiana. Depois, filiou-se ao Partido Verde e assumiu a luta ambientalista. Em 2002, apoiou Lula contra José Serra (PSDB).

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Uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo publicada em 21 de dezembro de 2002, poucos dias antes da posse de Lula e de seu ministeriado, mostra que artistas também se manifestaram contra a indicação de Gil. Entre as principais figuras críticas ao artista baiano, estavam o escritor Deonísio da Silva, o crítico José Gomes Tinhorão e a escritora Lya Luft. O cineasta Fernando Meirelles também expressou preocupação do setor audiovisual com a escolha.

"Talvez o presidente queira mirar-se nome exemplo do companheiro Bush, que tem dois negros em seu ministérios, e nomeie Gilberto Gil para o Ministério da Cultura", afirmou Deonísio da Silva. Tinhorão, por sua vez, foi sucinto na crítica: "Coisa engraçada, ou não se acha graça ou ri".

Lya Luft afirmou: "Esperava alguém como Antonio Candido, uma pessoa com visão ampla de cultura". Em seu depoimento, Fernando Meirelles expressou preocupação: "tenho recebido muitas mensagens da Associação Paulista de Cineastas, que não vêem com bons olhos sua indicação para o cargo".

Por outro lado, artistas consagrados e respeitados até hoje, como os atores Paulo Betti e Fúlvio Stefanini e os cantores Roberto Frejat e Davi Moraes saíram em defesa de Gilberto Gil no ministério de Lula. Na reportagem, o crítico musical Mauro Dias também escreveu uma coluna elogiosa a Gil, dizendo que ele era "um criador afinado com a geração no poder".

Leia trechos da reportagem:


Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo traz opinião de artistas sobre indicação de Gil à Cultura / Reprodução/Acervo de O Estado de S. Paulo


Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo traz opinião de Deonísio da Silva sobre Gilberto Gil na Cultura / Reprodução/Acervo de O Estado de S. Paulo


Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo traz opinião de José Tinhorão sobre Gilberto Gil na Cultura / Reprodução/Acervo de O Estado de S. Paulo


Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo traz opinião de Lya Luft sobre indicação de Gil à Cultura / Reprodução/Acervo de O Estado de S. Paulo


Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo traz opinião de Fernando Meirelles sobre Gilberto Gil na Cultura / Reprodução/Acervo de O Estado de S. Paulo

Margareth Menezes é alvo de críticas

Tão logo foi cogitada como ministra da Cultura do futuro governo do presidente Lula, na semana passada, a cantora Margareth Menezes passou a ser alvo de críticas nas redes sociais por supostamente não ter experiência como gestora cultural. Conhecida nacionalmente desde os anos 80 pelo hit "Faraó – Divindade do Egito", Margareth Menezes tem mais de 10 álbuns lançados, várias indicações ao Grammy e fez mais de 20 turnês internacionais. Porém, suas credenciais para assumir a Cultura vão além da inquestionável capacidade artística.

A possível futura ministra da Cultura é fundadora e presidenta da Fábrica Social, uma ONG sediada na Bahia, que atua na área da cultura, educação e sustentabilidade. Margareth Menezes também fundou a Associação Fábrica Cultural, de combate ao trabalho infantil, exploração sexual e outras violações de direitos. A artista baiana ainda dirige o Mercado Iaô, agência de produção cultural atuante no Estado. Além disso, é embaixadora da IOV-UNESCO, grupo que visa preservar e fomentar a produção cultural em todas as suas formas.

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Neste ano, a cantora e compositora baiana foi eleita uma das 100 pessoas negras mais influentes do mundo na lista da Most Influential People of African Descent (MIPAD). O MIPAD "identifica grandes realizadores de ascendência africana nos setores público e privado de todo o mundo como uma rede progressiva de atores relevantes para se unir no espírito de reconhecimento, justiça e desenvolvimento da África, seu povo no continente e em sua diáspora."

No dia 1º de janeiro de 2023, a cantora deve participar do show da posse de Lula, ao lado de outros artistas, como Pabllo Vittar, BaianaSystem, Duda Beat, Gaby Amarantos, Martinho da Vila, Gilsons, Chico César, Luedji Luna, Teresa Cristina, Fernanda Takai, Johnny Hooker, Marcelo Jeneci, Odair José, Otto, Tulipa Ruiz, Almério, Maria Rita e Valesca Popozuda.

Edição: Nicolau Soares