Direitos Humanos

Falece Haydée Gastelú, uma das fundadoras das Mães da Praça de Maio na Argentina

Uma emotiva carta assinada pela organização da Linha Fundadora das Madres se despediu de Haydée

Brasil de Fato | Buenos Aires, Argentina |

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Nascida em 1928, Haydée era filha de um dos primeiros socialistas de sua cidade, San Justo - Reprodução

Haydée Gastelú de García Buela, uma das primeiras mães a marcharem pelos familiares desaparecidos durante a ditadura argentina, faleceu aos 94 anos, nesta terça-feira (20). Ela esteve presente na primeira ronda na Praça de Maio, onde se situa a Casa Rosada, no dia 30 de abril de 1977. Buscava o paradeiro de seu filho Horacio e sua nora. Ambos foram sequestrados no ano anterior pelos militares.

Foi, assim, uma das quatorze primeiras mães que se organizaram entre a dor e a convicção da luta pela verdade e a justiça. Nos anos mais duros da ditadura argentina, o cerco midiático foi rompido – através da mídia internacional – graças a essas rondas que as mães faziam em torno da praça, uma vez que a reunião estava proibida pelos militares. Então, começaram a caminhar.

Nascida em 1928, Haydée era filha de um dos primeiros socialistas de sua cidade, San Justo, e com ele foi às suas primeiras mobilizações de 1º de maio. Casou-se com Oscar "Coco" García Buela, com quem teve três filhos: Alicia, Horacio e Diego.

Em janeiro de 1976, antes do golpe de estado de 24 de março, Horacio cumpria o serviço militar obrigatório, nessa época vigente no país. Era classificado como "observado" e suas cartas eram interceptadas. Em agosto do mesmo ano, já em plena ditadura, foi sequestrado na porta da casa de sua companheira, com ela, no bairro de Banfield. 

Naqueles tempos, Haydée costumava ser vista em frente ao edifício da Armada Argentina em busca de informações sobre Horacio e sua nora.

Haydée pôde encontrar os restos de Horacio em 2001 graças ao trabalho da Equipe Argentina de Antropologia Forense. Também soube que seu filho havia sido assassinado no Massacre de Fátima, uma chacina que vitimou 30 pessoas entre 19 e 20 de agosto de 1976.

Ao anunciar a morte de Haydée, a Secretaria de Direitos Humanos descreveu-a como "exemplo de resistência, memória e luta incansável pelos direitos humanos, após 25 anos de busca, Haydeé conseguiu encontrar o corpo de seu filho Horacio, morto no massacre de Fátima, e os responsáveis foram julgados e encarcerados."

As integrantes da organização Mães da Praça de Maio Linha Fundadora, da qual Haydée era presidenta, publicaram uma carta para despedir-se desta mãe que dedicou sua vida a lutar pelos direitos humanos. Confira a íntegra da missiva:

Muito querida Haydée:

Você é a mãe da Alicia, do Horacio, do Diego, esposa de Coco: uma linda família. O Horacio foi tirado de você pela última ditadura da igreja cívico-militar e o perdemos para sempre. Somente seus restos recuperados lhe devolveram alguma paz e até mesmo um pouco de felicidade. 

Desde aquele dia fatal, você se tornou uma firme e incessante buscadora da Justiça e da Verdade. Serena e sábia, seu grande coração fez de você a companheira de tantas Mães, e a mãe de tantas irmãs de desaparecidos. 

Você acabou de nos deixar, Haydée, e nós já sentimos sua falta. Faça-nos sentir novamente seu abraço, Mãe, e nada nos impedirá de seguir sua mesma busca.

Descanse em paz, Haydée. Caminhamos com sua luz.

Suas companheiras, as Mães da Praça de Maio Linha Fundadora e grupo de apoio.

Edição: Thales Schmidt