Disputa ministerial

Meio Ambiente, Agricultura, Cidades ou Planejamento? Para onde vão Tebet e Marina

Aliadas de Lula durante a campanha eleitoral ainda não têm cargo definido no novo governo

Brasil de Fato | Curitiba (PR) e Lábrea (AM) |

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Lula e a esposa Janja entre Simone Tebet e Marina Silva: "frente ampla" disputa espaço no governo - Ricardo Stuckert

O presidente-eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reuniu-se nesta sexta-feira (23) com a senadora Simone Tebet (MDB-MS) e a deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP). As duas, que fizeram campanha por Lula no segundo turno das eleições presidenciais, devem virar ministras no novo governo. Não se sabe, contudo, que pasta cada uma delas vai chefiar.

Lula já anunciou, ao todo, 21 ministros. A expectativa é que seu governo tenha 37. Permanecem abertas ainda as vagas para ministérios relevantes do governo federal, como do Meio Ambiente, da Agricultura, do Planejamento e das Cidades.

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Tebet – que foi candidata a presidenta na última eleição, recebeu a terceira maior quantidade de votos e declarou apoio a Lula logo no início do segundo turno – já foi cotada para assumir essas quatro pastas. Inicialmente, porém, a senadora teria demonstrado interesse de chefiar o Ministério do Desenvolvimento Social, que acabou ficando com o ex-governador do Piauí Wellington Dias (PT).

A indicação de Dias foi confirmada na quinta-feira (22). Ao anunciá-lo na pasta, Lula afirmou que precisava de alguém do estado nordestino no Desenvolvimento Social. "Tem duas coisas importantes no Piauí: foi o estado que começamos o combate à fome, na cidade de Guaribas, e o estado que tive mais votos nessa eleição", justificou.

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Nesta sexta, então, o presidente teria oferecido a Tebet o comando do Ministério do Meio Ambiente. A nomeação dela, contudo, só seria possível se Marina Silva, ambientalista histórica, aceitasse outro cargo no governo.

Até o momento, não há uma definição sobre esse assunto.

E Marina?

Marina é outro nome tido como certo no novo governo Lula. Ontem, depois de o presidente-eleito anunciar 16 novos ministros, a ex-senadora e deputada-eleita usou suas redes sociais para desejar sorte aos indicados, que devem ser colegas de trabalho.

Marina comandou o Ministério do Meio Ambiente durante mais de cinco anos, nos dois primeiros mandatos de Lula. Após ela se reaproximar politicamente do ex-presidente, naturalmente, passou a ser novamente cogitada para o cargo.

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Lula, entretanto, discute a criação da Autoridade do Clima em seu novo governo. O órgão seria supra ministerial, ligado diretamente à Presidência e trataria de questões relacionadas ao aquecimento global principalmente em âmbito internacional.

Se esse órgão for mesmo criado, Marina tende a assumi-lo, caso ela aceite. Abriria-se, portanto, o espaço para Tebet chefiar o Meio Ambiente.

Acomodações

Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, não vê com bons olhos esse arranjo político para que Tebet seja acomodada no novo governo. Para ele, Marina é o "nome natural" para o Meio Ambiente. "Em qualquer lugar do mundo, qualquer presidente em qualquer país, gostaria de ter o luxo de saber que há uma Marina Silva à disposição para assumir esse ministério", afirmou.

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Astrini acredita que Tebet poderia, sim, contribuir com a agenda ambiental do país, mas em outra pasta, incluindo a da Agricultura. "Ela falou muito bem sobre o assunto, se comprometeu com o desmatamento zero", lembrou. "Mas a agenda do meio ambiente deveria ficar com alguma pessoa que tem tradição e reconhecimento."

Para a cientista política Ananda Marques, a escolha do cargo para Tebet depende também de suas pretensões eleitorais em 2026. Segundo Marques, Tebet gostaria de ocupar um ministério que lhe desse visibilidade pensando já nas próximas eleições – e isso é legítimo.

Marques ressaltou que é legítimo também que o PT barre exigências da senadora considerando o atual peso político de Tebet.

"Tebet querer um ministério para ter visibilidade eleitoral e concorrer de novo em 2026 é coerente, faz todo sentido. Mas faz sentido também o PT barrar e oferecer um espaço equivalente ao seu tamanho eleitoral hoje", escreveu Marques, em uma rede social.

Edição: Nicolau Soares