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Entenda a relevância do Teatro Nacional para a cultura e a arquitetura de Brasília

Casa de espetáculos mais importante da cidade, fechada há 7 anos, finalmente será restaurada

Brasil de Fato | Brasília (DF)* |
Vista aérea do Teatro Nacional Claudio Santoro, localizado na zona central de Brasília - Divulgação/Secec-DF

A semana que antecedeu o Natal começou promissora para os amantes da cultura e da arquitetura da capital do país. Após uma longa e agônica espera, as obras de restauração do Teatro Nacional Claudio Santoro (TNCS), um dos edifícios mais icônicos e importantes de Brasília, finalmente começaram, na última terça-feira (21).

O pontapé foi dado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), que havia homologado, dias antes, o resultado final do edital de concorrência elaborado pela Novacap, que selecionou a Porto Belo Engenharia para a realização da reforma da Sala Martins Pena. Foi um longo trâmite jurídico, em meio a idas e vindas e complexidade de planejamento e execução da obra.

Com aporte de aproximadamente R$ 54 milhões, a empresa será responsável pela reforma das instalações prediais, sobretudo, elétrica e climatização; recuperação estrutural; restauração de pisos, revestimentos, esquadrias e de imobiliários, incluindo revestimento acústico; além de atualização tecnológica e de segurança das estruturas e dos mecanismos cênicos, respeitando os requisitos de acessibilidade.

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“Essa será a grande obra da cultura, porque é uma ação que transcende Brasília, já que o Teatro Nacional é um símbolo da cultura nacional", destacou o secretário de Cultura do DF, Bartolomeu Rodrigues. A previsão inicial é que esta primeira reforma tenha duração de seis meses. 

Fechamento e início das obras

Em janeiro de 2014, no rastro da tragédia da Boate Kiss, no Rio Grande do Sul, o Teatro Nacional foi fechado por recomendação do Corpo de Bombeiros e do Ministério Público, por não atender a normas de acessibilidade e segurança vigentes. Foram identificados 132 não conformidades, à época. No mesmo ano, a então Secretaria de Cultura realizou licitação e posterior contratação do projeto executivo de reforma.

Nos anos seguintes, a crise econômica do país e uma delicada situação financeira do Distrito Federal tornaram inviável a realização da obra como um empreendimento único que demandaria a execução do valor integral previsto no projeto.

O governo Ibaneis Rocha (MDB) decidiu então fatiar a obra por etapas, começando pela Sala Martins Pena. As Salas Alberto Nepomuceno e Villa-Lobos e o Espaço Dercy Gonçalves, ficarão para etapas posteriores.


Segunda maior sala de espetáculos do Teatro Nacional, a Sala Martins Pena possui capacidade de 407 lugares; possui um painel acústico projetado por Athos Bulcão / Divulgação/Secec-DF

Projetado por Oscar Niemeyer, mas esculpido pelo talento de outros grandes nomes, é a principal casa de espetáculos da cidade, sendo a única sala de ópera e balé. A novela da reforma se arrasta, entre outros motivos, por causa da complexidade e do alto custo de uma reforma completa, que chegou a ser orçada em R$ 200 milhões. Por ser um bem tombado individualmente, o Teatro Nacional como um todo requer uma reforma sob rígidas normas de restauro.

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No final de 2019, a Secretaria de Cultura captou, junto ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (FDD) do Ministério da Justiça e Segurança Pública, R$ 33 milhões, que seriam destinados à reforma da Sala Martins Pena. Após assinatura de convênio com a Novacap para elaboração do processo licitatório de obras, formou-se um Grupo de Trabalho, com um mutirão de técnicos, engenheiros e gestores das duas pastas. No entanto, a falta de documentos e as inconsistências técnicas no projeto originário desenharam um verdadeiro périplo para entregar o projeto básico, que deveria ser aprovado pela Caixa Econômica Federal para liberação do recurso.

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Foram mais de 400 plantas refeitas, e a equipe atendeu a mais de 2 mil pedidos de ajustes. Com o tempo exíguo e a urgência da reforma, o GDF resolveu desistir, em dezembro do ano passado, do Fundo, por meio de distrato, e resolveu aportar diretamente o recurso para o restauro. Assim, ao longo de 2022, correu o processo licitatório, que tem seu desfecho agora, com a assinatura da ordem de serviço para que a empresa selecionada inicie as obras.

Relevância cultural e arquitetônica

Presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil seção DF (IAB-DF), Luiz Sarmento, que também é servidor concursado do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), afirma que o Teatro Nacional "é a edificação de uso público que melhor reflete a noção de síntese das artes que foi norteadora da construção de Brasília". 

"No Teatro Nacional há uma composição que envolve arquitetura, paisagismo, esculturas e obras de arte integradas à arquitetura, como os painéis em relevos que adornam as fachadas laterais da pirâmide, assim como as salas Martins Penna e Villa Lobos, além dos painéis em azulejos. Grandes nomes da cultura nacional foram agenciadas para construir esse bem: os arquitetos Oscar Niemeyer e Milton Ramos, o designer Sérgio Rodrigues, os artistas Athos Bulcão, Alfredo Ceschiatti e Marianne Peretti. Os jardins são de Burle Marx. Antes do fechamento podíamos ver (e ouvir, principalmente) a orquestra sinfônica com belos painéis da artista Betty Bettiol ao fundo. O logotipo da orquestra foi desenhado por Tomie Ohtake", descreve.

"São muitos os grandes nomes que fizeram essa obra, o que por si só justifica sua preservação. Não é qualquer dia que um país consegue mobilizar tantas pessoas talentosas e construir um teatro mas, o mais importante do teatro nacional é que ele era um espaço vivo, querido pela população, onde tantos outros talentos se apresentavam e surgiam", acrescenta Sarmento. 

Mais do que um teatro, o espaço é uma Casa de Espetáculos multiuso e já recebeu obras e nomes muito importantes da arte nacional e internacional. Entre os grandes nomes da música, da dança e do teatro que se apresentaram no Teatro Nacional Claudio Santoro, destacam-se Mercedes Sosa, Astor Piazzola, Yma Sumac, os balés russos Bolshoi e Kirov, o balé da Ópera de Paris.

Entre os artistas brasileiros, estão nomes como Paulo Autran, Fernanda Montenegro, Dulcina de Moraes, Glauce Rocha, Ziembinski, Márcia Haydé, Márika Gidali e o balé Stagium, Grupo Corpo, João Gilberto, Caetano Veloso, Maria Bethânia e praticamente todos os principais nomes da música popular brasileira.

Chamado inicialmente de “Teatro Nacional de Brasília”, a partir de 1989 passou a se chamar oficialmente “Teatro Nacional Claudio Santoro”, em homenagem ao maestro e compositor que fundou a orquestra do teatro em 1979 e dirigiu-a até sua morte em 1989.

Para Luiz Sarmento, "é simbólico que as obras comecem nessa virada de ano, que promete tantas mudanças e tudo indica que a Esplanada, reocupada, tenha a cultura e a preservação do patrimônio como um dos temas prioritários para o desenvolvimento do país". O arquiteto pondera, no entanto, que essa obra abrange apenas uma das salas do teatro e é preciso ficar atento para a qualidade da reforma. 

"Ficaremos atentos em relação à qualidade do restauro, assim como continuaremos fazendo pressão para que o teatro completo seja reabilitado e volte a receber milhares de pessoas em seus espaços de arte".

Saiba como é a estrutura

Localizado no Setor Cultural Norte, próximo à Rodoviária do Plano Piloto, é um marco do Eixo Monumental e o principal equipamento cultural de Brasília.

O Teatro Nacional possui 46 metros de altura, 136 metros de lateral, 95 metros na fachada oeste, 45 metros na fachada leste e e área total de 43 mil metros quadrados. Tem a forma geométrica de uma pirâmide, o que o torna um prédio singular na paisagem central de Brasília. Uma de suas características mais marcantes são os blocos de concreto instalados nas fachadas laterais, os poliedros. É uma criação do artista Athos Bulcão, feita em 1966.


Blocos de concreto são atração na arquitetura do Teatro / Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF

Ao todo, o Teatro Nacional possui sete espaços. O principal deles é a sala Villa-Lobos, única sala de ópera e balé da cidade. Com capacidade de 1.407 lugares, sua área possui um palco de 450 metros quadrados, com 17 metros de abertura e 25 metros de profundidade, além de dois elevadores, sete camarins e salas de ensaio.

Do lado externo, o Foyer da Sala Villa-Lobos é composto pelo piso do acesso principal do teatro, entre os níveis superior e inferior da Plataforma da Rodoviária, com mezanino. O foyer dá acesso tanto à Sala Villa-Lobos e quanto à Sala Alberto Nepomuceno. Além da escada helicoidal que leva ao mezanino, uma verdadeira obra de arte, ainda integram o Foyer obras de Alfredo Ceschiatti, Mariane Perreti, Athos Bulcão e os jardins de Burle Marx.


Foyer da Sala-Villa Lobos, no Teatro Nacional, possui paisagismo de Burle Marx e esculturas de artistas consagrados. / Divulgação/Secec-DF

Já a Sala Martins Pena possui capacidade de 407 lugares, palco de 235 metros quadrados, com 12 metros de abertura e 15 metros de profundidade, além de um elevador e 15 camarins. O Foyer da Sala Martins Pena conta com painel de azulejos de Athos Bulcão e é bastante utilizado para exposições. Possui um busto Beethoven, doado pela Embaixada da Alemanha, e destina-se principalmente a saraus, performances, lançamentos de livros, coquetéis e exposições, com área de 412 metros quadrados.

A Sala Alberto Nepomuceno tem capacidade de 95 lugares, palco de 14 metros quadrados e camarins. O Teatro Nacional também possui, no seu andar mais alto, Espaço Cultural Dercy Gonçalves. Projetado originalmente para ser um restaurante panorâmico, que chegou a funcionar por pouco tempo, o Espaço foi inaugurado em 2000 com a presença da própria Dercy Gonçalves. Tem 840 metros quadrados, dos quais 500 metros de área útil, com ampla copa e capacidade para 300 pessoas.

Ainda há Anexo do Teatro Nacional, que foi projetado por Milton Ramos, convocado por Niemeyer para detalhar e executar a obra inacabada do Teatro. Com 15 mil metros quadrados, essa área passou a abrigar a sede da Fundação de Cultura do DF e, posteriormente, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa.

*Com informações da Secec-DF.

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Fonte: BdF Distrito Federal

Edição: Flávia Quirino