Sem isolamento

"É bom que o Brasil está de volta", diz presidente alemão

Em Brasília para a posse de Lula, Frank-Walter Steinmeier saúda "nova era política" no Brasil

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A participação na posse não marcou o primeiro encontro entre Lula e Steinmeier. Os dois já se encontraram em outras ocasiões, como numa viagem de Steinmeier ao Brasil em 2006 - Foto: Divulgação

O presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, disse neste domingo (01/01), em Brasília, que, com a posse de Luiz Inácio de Lula na Presidência da República, "não começa apenas um novo ano, mas também uma nova era política" no Brasil.

Steinmeier chegou a Brasília na véspera para participar da cerimônia de posse, marcando uma reaproximação entre a Alemanha e o Brasil após quatro anos de distanciamento e crises durante o governo de Jair Bolsonaro.

Falando a jornalista alemães, incluindo uma equipe da DW, Steinmeier, disse que "É bom saber que o Brasil está de volta aos palcos internacionais".

"Aqui no Brasil não começa apenas um novo ano, mas também uma nova era política. Fico feliz de poder estar na posse do presidente Lula em Brasília. O Brasil vive tempos difíceis. E o presidente eleito vai assumir essa responsabilidade neste momento difícil", disse.

"Nós precisamos do Brasil, precisamos da liderança política brasileira, que o país desempenhe o seu papel. E não apenas na economia, como também na proteção climática global. E eu fiquei feliz de constatar que o presidente eleito quer desempenhar esse papel com o Brasil. É bom estar de volta ao Brasil. É bom saber que o Brasil está de volta aos palcos internacionais”, concluiu o presidente alemão.

No sábado, Lula e Steinmeier também tiveram um encontro amistoso.

A participação na posse não marcou o primeiro encontro entre Lula e Steinmeier. Os dois já se encontraram em outras ocasiões, como numa viagem de Steinmeier ao Brasil em 2006, quando o alemão ocupava o cargo de ministro das Relações Exteriores do governo da ex-chanceler federal Angela Merkel.

Em 2012, quando Lula já havia deixado a presidência e Steinmeier passou a ser líder da oposição ao governo Merkel, os dois participaram em Berlim de um debate promovido pela Fundação Friedrich Ebert, entidade ligada ao SPD, a sigla do atual presidente alemão.

Em 2015, quando Steinmeier havia voltado a ocupar o posto de ministro, eles se encontraram novamente, desta vez no Brasil.

A viagem de Steinmeier ao Brasil deve durar três dias. No dia seguinte à posse, o presidente alemão vai viajar a Manaus acompanhado da ministra alemã do Meio Ambiente, Steffi Lemke.

Em um comunicado divulgado em dezembro, a Presidência alemã afirmou que, com a visita à Amazônia, Steinmeier vai reafirmar "o apoio alemão à proteção da floresta tropical” e destacar "sua importância para a política climática internacional”.

Apesar de, como chefe de Estado, o presidente possuir atribuições executivas, seu papel é quase apenas simbólico. A Lei Fundamental (Grundgesetz) da Alemanha lhe garante a competência de assinar acordos e tratados internacionais, mas a política externa cabe ao governo, chefiado pelo chanceler federal.

Reaproximação após Bolsonaro

Os gestos de Berlim em relação a Lula, incluindo a participação de Steinmeier na posse, contrastam com a deterioração das relações entre Brasil e Alemanha durante a presidência de Jair Bolsonaro.

Nos últimos quatro anos, os dois países se distanciaram, especialmente em temas como proteção ambiental. Nem Merkel nem o atual chanceler federal Olaf Scholz visitaram o Brasil enquanto Bolsonaro ocupou o Planalto e o brasileiro também não foi convidado para realizar uma visita de Estado ao país europeu.

Bolsonaro também protagonizou vários ataques verbais ao governo alemão, especialmente quando Berlim cobrou mais proteção ambiental no Brasil. O governo brasileiro também promoveu mudanças unilaterais na gestão do Fundo Amazônia, que conta com recurso da Alemanha e Noruega, provocando críticas dos dois países e paralisando o programa. Diante do desmonte de políticas ambientais no Brasil, Berlim também congelou o envio de recursos para programas ambientais no país sul-americano.

Em 2019, a então chanceler federal Angela Merkel, disse ver com "grande preocupação" a situação no Brasil sob Bolsonaro. Em 2020, o governo alemão ainda admitiu que a cooperação com o governo federal brasileiro em áreas como política ambiental e assistência aos povos indígenasestava sendo cada vez mais difícil.

Embora os atritos entre os dois países não tenham sido tão explícitos como os enfrentados pela França com Bolsonaro, o Partido Social-Democrata (SPD), que participava da coalizão de Merkel e atualmente lidera o governo alemão, não escondeu sua preferência por Lula. Em novembro do ano passado, Scholz chegou a se encontrar com o petista em Berlim após o resultado da eleição alemã, quando ainda negociava a formação do governo atual. Diversas figuras do SPD também manifestaram solidariedade a Lula enquanto o petista esteve preso.