Justiça

Após 36 horas, acampamento bolsonarista é esvaziado em Brasília, e PF identifica mil golpistas

Outras 240 pessoas também devem responder por crimes, mas em liberdade

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As imagens mostram que os bolsonaristas não só reivindicavam um golpe de estado, o que é crime no Brasil, como também depredaram patrimônio histórico da humanidade - Marcelo Camargo/ABr

O interventor no Distrito Federal, Ricardo Cappelli, nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), confirmou nesta terça-feira (10) a desmobilização do acampamento bolsonarista instalado há dois meses no Quartel-General do Exército, em Brasília. De acordo com o interventor e secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, após mais de 36 horas, seguindo as orientações do ministro da pasta, Flávio Dino, as instalações golpistas foram totalmente desmontadas.

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Ainda ontem (9), a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) e o Exército cercaram o acampamento bolsonarista para cumprir decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Durante a madrugada de ontem, o magistrado determinou o esvaziamento do local. Os extremistas estavam acampados desde o fim do segundo turno, em outubro – que garantiu a vitória de Lula – não só em Brasília, mas em outras cidades do país. No Rio de Janeiro, São Paulo, Manaus, Salvador, Belo Horizonte e Porto Alegre os acampamentos também foram aos poucos sendo desmobilizados nesta segunda pelas forças de segurança.

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Além do desmonte das instalações do acampamento bolsonarista, a polícia também cumpriu a ordem para identificar e prender os criminosos que participaram dos atos de terrorismo na capital federal, ao longo do domingo, e estavam no acampamento. Mais de 1.200 pessoas foram levadas em dezenas de ônibus para a Superintendência da Polícia Federal em Brasília para triagem. De acordo com Cappelli, cerca de mil delas, que atentaram contra o Estado democrático de direito, foram identificadas.

Enquadrados pela lei

Ontem, a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) realizou uma visita à Academia Nacional de Polícia para verificar as condições estruturais e o tratamentos da PF aos detidos.

Há ainda pouco mais de 240 bolsonaristas que devem responder futuramente pelos crimes cometidos. O grupo, no entanto, segundo a PF, foi colocado em liberdade "por questões humanitárias". Entre eles, há idosos, mulheres grávidas ou com bebês e crianças pequenas e pessoas com doença crônicas que exigem atenção profissional, conforme descreveu a instituição. Todos os identificados, contudo, poderão responder por ao menos cinco crimes: de dano ao patrimônio público da União, contra o patrimônio cultural, associação criminosa, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de estado.

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As imagens mostram que os bolsonaristas não só reivindicavam um golpe de estado, o que é crime no Brasil, como também depredaram patrimônio histórico da humanidade, assim classificado pela Unesco, em todos os prédios da Praça dos Três Poderes. Na invasão da Esplanada, eles ainda quebraram vidraças e destruíram documentos do Supremo Tribunal Federal, Congresso Nacional e Palácio do Planalto. "A lei será cumprida", publicou o interventor na manhã desta terça.

Troca no comando da PMDF

Na noite desta segunda, o interventor federal também anunciou a troca do comandante-geral da PM do DF. O coronel Klepter Rosa Gonçalves assumirá, a partir de hoje, o cargo no lugar do coronel Fábio Augusto. A troca se soma à exoneração do secretário de Segurança Pública, Anderson Torres. Por determinação do STF, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), também foi afastado do cargo por 90 dias. No lugar dele, assumiu Celina Leão (PP), vice-governadora.

Força Nacional

Nesta terça, a capital federal também passa a contar com a força policial do Ceará, Bahia, Piauí, Alagoas, Rio Grande do Norte, Maranhão, Goiás e Rio Grande do Sul. De acordo com portaria, publicada na edição de hoje do Diário Oficial da União, as PMs desses oito estados passarão a integrar a Força Nacional de Segurança Pública. O objetivo, de acordo com o ministro Flávio Dino, é "pôr termo ao grave comprometimento da ordem pública em Brasília".

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A portaria também define que caberá ao secretário nacional de Segurança Pública da pasta e ao comandante da Força Nacional adotar as providências "visando à efetivação da medida". O prazo de atuação dos policiais militares é de até o dia 31 de janeiro, seguindo o decreto editado pelo presidente Lula.