Cartão corporativo

Restaurante em Boa Vista recebeu R$ 152 mil de Bolsonaro e foi visitado em dia de "motociata"

Gastos totais em apenas três dias de viagens do agora ex-presidente à capital de Roraima passam de R$ 360 mil

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

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Cartão corporativo de Bolsonaro foi usado pelo menos três vezes no restaurante "Sabor de Casa", em Boa Vista - Reprodução/Google Maps

Em sua página no Instagram, o restaurante Sabor de Casa, de Boa Vista (RR) apresenta apetitosas fotos de pratos como panelada, cozido e feijoada. Entre setembro e outubro de 2021, o restaurante certamente teve trabalho preparando refeições. Só para um único cliente, foram feitas vendas que somaram R$ 152 mil, pagos em três dias diferentes. O cliente? Jair Messias Bolsonaro (PL) - ou alguém que usou o cartão corporativo do então presidente da República, que visitou a capital roraimense, por exemplo, para participar de "motociata".

Segundo dados divulgados via Lei de Acesso à Informação (LAI), o cartão corporativo de Bolsonaro foi usado para pagar ao Sabor de Casa R$ 28.500 no dia 28 de setembro de 2021; mais R$ 14.250 no dia seguinte, 29 de setembro de 2021; e incríveis R$ 109.266 em 26 de outubro do mesmo ano.

Os dados foram divulgados pelo governo já chefiado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no último dia 6, e o portal Fiquem Sabendo recebeu nesta quinta-feira (12) o link para acesso aos números, após pedido via LAI.

Milhares de refeições?

O perfil do restaurante no Facebook mostra que, em 2021, as marmitas oferecidas tinham preços entre R$ 12 ou R$ 18. O que significa que o cartão corporativo de Bolsonaro pode ter comprado entre 8.445 e 12.668 marmitas, se levados em conta os preços originais.

A foto do estabelecimento na ferramenta Google Maps (a principal desta matéria) está um pouco desatualizada, foi tirada em 2018. Imagens publicadas pelo próprio restaurante nas redes sociais mostram que de lá para cá houve reformas. Ainda assim, é improvável imaginar um ritmo de produção suficiente para cobrir toda a demanda.


Fachada do restaurante "Sabor de Casa": mesmo após reforma, estrutura simples / Reprodução/Instagram

As datas dos gastos com cartão corporativo no restaurante coincidem com viagens do então chefe do Executivo nacional a Boa Vista. Na viagem de setembro de 2021, a primeira que fez como presidente da República a Roraima, ele participou de uma "motociata" com apoiadores após desembarcar na cidade, segundo registro da imprensa local. Poucos dias depois de completar 1.000 dias de governo, o agora ex-presidente foi ao estado para inauguração de uma usina termelétrica.

Menos de um mês após a primeira viagem oficial à capital de Roraima, Bolsonaro parece ter pegado gosto (possivelmente pela comida do Sabor de Casa) e retornou. Na ocasião, visitou um dos abrigos da Operação Acolhida, coordenada pelo Exército para receber migrantes venezuelanos.

Se somadas, as despesas acumuladas nesses três dias no cartão corporativo de Bolsonaro passam de R$ 360 mil. Os gastos, claro, não se resumiram ao restaurante.

Entre 28 e 29 de setembro de 2021, o cartão corporativo de Bolsonaro foi usado para pagar outras despesas que, somadas, passaram de R$ 156 mil. Entre os gastos, não necessariamente feitos em Roraima (ele passou por outros estados no período), estão mais de R$ 75 mil em hospedagens, além de cerca de R$ 14 mil em uma única padaria de Maceió.

No mês seguinte, no dia da segunda viagem a Boa Vista, destacam-se R$ 10.200 em hospedagens, R$ 6.000 para uma empresa de produção de eventos e também despesas menos vultosas, como R$ 37,50 em uma farmácia. No total, R$ 54.664,21 gastos pelo cartão corporativo naquele único dia.

Como o agora ex-presidente não tem assessoria de imprensa constituída, não foi possível entrar em contato com sua equipe para buscar posicionamento. O espaço, porém, segue aberto para manifestações, e o texto poderá ser atualizado.

Brasil de Fato tentou contato com o restaurante Sabor de Casa por meio dos números divulgados nas redes sociais, que aparentemente seguem ativos, mas não obteve sucesso. Em caso de retorno, a reportagem contará mais detalhes sobre os gastos do cartão corporativo no estabelecimento.

Edição: Nicolau Soares