TRAGÉDIA

Yanomamis: mais seis indígenas morrem por desnutrição e malária em Roraima

Entre as vítimas, estão uma mulher de 33 anos, uma criança e uma liderança da comunidade Surucucu

Brasil de Fato|Recife(PE) |
Yanomami sofrem com a desassistência de anos do governo Bolsonaro - Divulgação/Conselhos Distritais de Saúde Indígena (CONDISI)

Uma indígena Yanomami morreu, nesta sexta-feira (27), aos 33 anos, acometida por uma desnutrição grave. Ela estava internada na UTI do Hospital Geral de Roraima. As duas filhas dela também estão internadas no hospital infantil, com caso grave de desnutrição. 

O presidente do Conselho Distrital Indígena, Júnior Hekurari, confirmou que, além dela, outras cinco pessoas também morreram nesta sexta-feira. Entre as vítimas, estão uma criança, de nove anos de idade, e uma liderança da comunidade Surucucu. As outras vítimas são homens adultos. 

Segundo Júnior, as mortes foram causadas por malária e desnutrição. "A equipe de saúde foi resgatar, mas só resgataram quatro yanomami em estado grave de malária. Os corpos estão lá na floresta", disse Hekurari em entrevista à Rede Amazônica, publicada pelo portal G1. 

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A região de Surucucu fica a 270km de Boa Vista, capital de Roraima, e é uma das poucas comunidades que possui um polo de saúde indígena. Considerado referência no território, o espaço é precário. 

A Terra Indígena Yanomami está sob estado de emergência por causa da falta de assistência e abandono do governo federal nos últimos quatros, permitindo o avanço do garimpo ilegal. 

Há uma semana, o presidente Lula viajou até a região para conferir de perto a situação que ele mesmo classificou como desumana. Segundo o Ministério dos Povos Indígenas, 570 crianças Yanomami morreram contaminadas por mercúrio e fome. O principal responsável por esta crise é o garimpo ilegal na região. 

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As principais causas de internação dos indígenas Yanomami são diarreia, desnutrição grave, pneumonia, malária e acidentes com cobras. Até o momento, o Hospital da Criança, em Boa Vista, tem 53 crianças internadas. A Casai - Casa de Saúde Indígena - registrou o número de 700 indígenas esperando atendimento.

 


Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva confirma que haverá megaoperação para retirar garimpo ilegal da T.I Yanomami, em Roraima / Marcelo Camargo/ Agência Brasil


Remoção de Garimpeiros ilegais

Em declaração ao jornal Folha de S. Paulo, nesta sexta-feira(27), a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, confirmou que o governo planeja uma megaoperação para retirar da Terra Indígena Yanomami os garimpeiros ilegais. Ela disse que a operação fará parte de um ação ampla do governo, envolvendo diversos ministérios e órgãos federais.

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"É uma abordagem múltipla. É de saúde pública, de restauração dos modos tradicionais de vida, recuperação dessas áreas, de desintrusão das áreas, de combate ao desmatamento e de retirada do garimpo ilegal. Essa será uma megaoperação que terá de ser feita, planejada, em várias fases", afirmou a ministra.ao jornal paulista. 

STF investiga omissão do governo Bolsonaro 

O Supremo Tribunal Federal (STF) vai investigar o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) após detectar indícios de descumprimento de decisões judiciais proferidas desde 2020 e suspeitas de informações falsas prestadas à Justiça sobre medidas feitas em relação à Terra Indígena Yanomami.

"Em caso de identificação dos responsáveis, sofrerão o devido processo legal para punição", informou o gabinete do ministro Luís Roberto Barroso ao Metrópoles. Ele é relator dos processos que buscam garantir, por vias judiciais, a proteção aos indígenas do país.

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Uma das medidas que teria sido descumprida pelo governo federal é a execução de um planejamento de enfrentamento à covid-19 nos territórios indígenas, com a inclusão de ações de segurança alimentar, campanhas de vacinação e a criação de barreiras sanitárias para evitar o contágio. 

O STF também determinou a expulsão de garimpeiros e madeireiros que ocupam a Terra Indígena Yanomami e outros seis territórios. Até o momento, no entanto, os criminosos continuam nas terras. 

Edição: Douglas Matos