ESTREITANDO LAÇOS

Brasil e França "viraram a página", diz ministro Vieira sobre tensões provocadas por Bolsonaro

Ministra francesa diz que país pretende realizar investimentos no Fundo Amazônia, suspenso pela gestão anterior

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Ministro de Relações Exteriores, Mauro Vieira recebe a ministra francesa Catherine Colonna em Brasília nesta quarta (8) - Palácio do Itamaraty

Nesta quarta-feira (8), a ministra de Relações Exteriores da França, Catherine Colonna reuniu-se com o ministro Mauro Vieira, em Brasília, rompendo um jejum de quatro anos sem encontros ministeriais entre ambos países. Para Vieira, a visita de Colonna simboliza a revitalização da parceira entre Brasil e França. 

"Viramos a página dos últimos anos e colocamos as relações no nível elevado que ambas sociedades esperam e desejam", declarou o ministro brasileiro fazendo referência às tensões provocadas durante a gestão de Jair Bolsonaro, que suspendeu reuniões com autoridades francesas e desrespeitou a primeira-dama, Brigitte Macron. 

O encontro foi visto como uma etapa preparatória para a visita do presidente Emmanuel Macron ao Brasil, prevista ainda para este ano e que deve coincidir com a realização da Cúpula da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) que reúne, além do Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela.

"O presidente está muito feliz em vir ao Brasil", disse a ministra francesa. Colonna reiterou que a visita "poderia acontecer" durante o encontro dos países que compartilham a Floresta Amazônica.

Ampliar a cooperação em áreas como ciência, tecnologia e inovação cultural é um objetivo comum entre os dois países, segundo o chanceler brasileiro. 

Um dos pontos, segundo o ministro Mauro Vieria, será reforçar o programa de desenvolvimento e nacionalização de helicópteros e o programa de desenvolvimento de submarinos.

Em 2022, o comércio bilateral atingiu US$ 8,4 bilhões, com aumento de 16% em relação a 2021, segundo o Palácio do Itamaraty. Em termos de investimento, o Brasil é hoje o segundo principal destino dos investimentos franceses entre os chamados "países emergentes" e o primeiro sócio comercial do país na América Latina.

Na coletiva de imprensa com Colonna, o chanceler brasileiro também falou sobre a importância de retomar espaços de discussão entre Amapá e Guiana Francesa para garantir a proteção da fronteira de mais de 700 km. 

Meio ambiente 

A ministra Catherine Colonna anunciou que a França e a União Europeia (UE) estudam contribuir para o Fundo Amazônia, que havia sido suspenso pelo ex-presidente brasileiro. "A França estuda a contribuição bilateral, bem como através da União Europeia", anunciou Colonna. 

Antes de reunir-se com o ministro Vieira, Catherina Colonna também se encontrou com a ministra do Meio-Ambiente, Marina Silva.

"O Brasil quer retomar seu protagonismo nas discussões internacionais sobre o meio ambiente", e acrescentou "reforcei o compromisso do Brasil de zerar o desmatamento ilegal até 2030", declarou o ministro Mauro Vieira. 

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Na última semana, após reunir-se com Lula, o chanceler alemão Olaf Scholz comprometeu-se a enviar 200 milhões de euros para o projeto de preservação do ambiente no Brasil. O Fundo Amazônia foi criado em 2008, no segundo mandato de Lula, com doações da Alemanha e da Noruega, mas foi suspenso por Bolsonaro em 2019.

Acordo Mercosul - União Europeia

A ministra recordou que a UE espera alguns "compromissos" dos países sul-americanos com políticas ambientais para avançar com as negociações de um pacto comercial entre o bloco europeu e o Mercado Comum do Sul (Mercosul). Já o ministro Vieira disse que Brasil fará o possível para concretizar o acordo. 

O presidente Lula também já havia dito que um dos seus objetivos é selar o acordo entre Mercosul e União Europeia ainda no priemiro semestre deste ano. 

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Ainda sobre assuntos comerciais, em entrevista à Folha de S.Paulo, Colonna disse que a França apoia a entrada do Brasil na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). "O Brasil é um dos principais atores globais. O retorno do país ao cenário global é fortemente esperado", disse.

Guerra na Ucrânia 

O Brasil voltou a demarcar sua posição de neutralidade em relação à guerra entre Rússia e Ucrânia

"Não será com armas que resolveremos conflitos, mas com diálogo e busca de soluções aceitáveis para ambos lados. O Brasil está pronto para contribuir com este esforço", disse Mauro Vieira.

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Em resposta, a ministra francesa disse que no conflito existe um "agressor e uma vítima" e que por isso não seria possível colocar Moscou e Kiev em pé de igualdade.

Colonna disse que a ideia de criação de um grupo de países que negocie a paz entre Rússia e Ucrânia é bem-vinda, mas disse que a solução pode ser alcançada "com o simples respeito à Carta das Nações Unidas e ao direito internacional".

Ainda nesta quarta, a ministra francesa deve reunir-se com o presidente Lula e depois segue viagem a São Paulo para se encontrar com governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), a filósofa Djamila Ribeiro e com empresários brasileiros.
 

Edição: Thalita Pires