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Garimpeiros seguem invadindo Terra Yanomami, revela operação do Ibama

Relatos indicam que mais barcos estavam subindo em direção aos garimpos e não o contrário; veja vídeos inéditos

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Grande área de garimpo com dezenas de barracões na região do rio Uraricoera na Terra Indígena Yanomami - Bruno Kelly/Amazônia Real

Uma operação desencadeada nesta semana na Terra Indígena Yanomami pela fiscalização do Ibama, com apoio da Funai e da Força Nacional, é a primeira incursão de agentes do governo no território desde o início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva com o propósito de “retomar o território” e debelar o garimpo que levou a uma tragédia humanitária entre os indígenas durante o governo de Jair Bolsonaro.

Pela primeira vez, o governo passou a reocupar bases que, nos últimos anos, haviam sido abandonadas pelo Estado ou tomadas pelos garimpeiros dentro do território. O primeiro ponto reocupado é estratégico no rio Uraricoera. Por ali passam barcos usados para o abastecimento de diesel e alimentos de inúmeros garimpos.

A ação do Ibama, que começou sob sigilo nesta segunda-feira (6) e foi revelada pelo órgão nesta quarta-feira (8), revela que a invasão garimpeira ao território indígena ainda está longe de ser resolvida, apesar de vários vídeos e mensagens disseminados em redes sociais e grupos de garimpeiros indicarem que uma parte dos invasores já começou a deixar a terra indígena. Mas a realidade encontrada pelos fiscais do Ibama, segundo apurou a Agência Pública, foi bem diferente.

Líderes indígenas da região relataram aos fiscais que, nos últimos dias, mais barcos estavam subindo em direção aos garimpos com combustíveis e alimentos do que no sentido contrário. A informação foi confirmada pelo Ibama, que já conseguiu apreender três embarcações com cerca de 5 mil litros de combustível que seria usado para o abastecimento dos garimpos.

Além do combustível, os barcos apreendidos carregavam “cerca de uma tonelada de alimentos, freezers, geradores e antenas de internet”, como informou a assessoria do Ibama e do MMA (Ministério do Meio Ambiente). O volume de produtos demonstra a disposição dos garimpeiros de permanecerem nos locais de extração do minério.

Objetos encontrados pelo Ibama durante operação nesta terça-feira (7) – (Vídeo: Ibama)

Mensagens em grupos de garimpeiros também indicam que as atividades do garimpo seguem normais em outras partes da terra indígena, como na região de Mucajaí.

A incursão do Ibama no território Yanomami, batizada no Ibama de “Operação Xapiri”, referência a espíritos da floresta na cultura Yanomami, foi acompanhada de perto pelo presidente substituto do órgão, Jair Schmitt, que viajou a Boa Vista (RR). Durante a ação, os fiscais ambientais destruíram um helicóptero, um avião, cujas ligações com um empresário de Boa Vista (RR) serão investigadas, um trator de esteira, usado para abrir estradas na mata, e estruturas de apoio logístico ao garimpo. Foram apreendidas duas armas de fogo. A operação teve apoio de helicópteros modelo B4 do GEF (Grupo Especializado de Fiscalização) do Ibama.

Fiscais ambientais destruíram aeronave durante operação nesta terça-feira (7) – (Vídeo: Ibama)

 

Trator usado pelos garimpeiros para abrir mata, encontrado pelo Ibama durante operação nesta terça-feira (7) – (Vídeo: Ibama)


A ideia da ação deflagrada pelo Ibama, Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) e Força Nacional é estrangular o fornecimento de alimentação e de diesel aos garimpos abastecidos por barcos pelo rio Uraricoera. Os motores das dragas usadas para destruir a terra Yanomami funcionam com óleo diesel. A partir do decreto presidencial que determinou o combate ao garimpo, a Aeronáutica bloqueou o espaço aéreo na semana passada. Após reclamações de garimpeiros, a Aeronáutica abriu corredores aéreos, até o próximo dia 13, exclusivos para a saída dos invasores. Mas o abastecimento pelos rios continua um problema, que o Ibama agora procura atacar.

O plano é estabelecer bases em outros rios a fim de “garantir a permanência das equipes de fiscalização por prazo indeterminado”. O Ibama informou que também “fiscaliza distribuidoras e revendedoras responsáveis pelo comércio irregular de combustível de aviação que abastece os garimpos”. O Ibama trabalha com a hipótese de que a operação de desintrusão dos estimados 20 mil garimpeiros demore “vários meses”. O Ibama tem uma preocupação especial com áreas de garimpo dominadas por facções criminosas dentro da terra Yanomami