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Salles afirma que "infelizmente" não conseguiu "passar a boiada"

Deputado federal afirmou também que "percentual de Yanomami são fugitivos da Venezuela"

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
O “passar a boiada” foi dito por Salles durante uma reunião entre ministros de Bolsonaro, em abril de 2020 - Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

O deputado federal Ricardo Salles (PL-SP) afirmou que "infelizmente" não conseguiu "passar a boiada", em entrevista ao UOL, nesta quinta-feira (9). A declaração do ex-ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro vem no momento em que o atual governo, do presidente Lula (PT) implementa estratégias para derrubar o garimpo ilegal na região amazônica, que cresceu na gestão passada. 

"Infelizmente, não. [passou a boiada] Minha fala na reunião ministerial, embora seja, por alguns, propositalmente manipulada, eu falei que todos os ministérios [...] do Brasil precisam, e já passou da hora, de fazer um esforço muito grande de desburocratizar. [...] Isso que quis dizer com passar boiada, e se tivesse acontecido, Brasil estaria em situação muito melhor", afirmou Salles, tentando explicar sua polêmica frase, à época vazada. .  

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O "passar a boiada" foi dito durante uma reunião entre ministros de Bolsonaro, em abril de 2020. Na ocasião, Salles disse que a pandemia de covid-19 era uma oportunidade para o governo "passar a boiada", já que o foco naquele momento era a questão sanitária. A declaração foi entendida como a oportunidade para o governo enfraquecer os mecanismos existentes de controle ambientais.   

"Estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de covid-19, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas. De Iphan, de Ministério da Agricultura, de Ministério do Meio Ambiente, de ministério disso, de ministério daquilo", disse na ocasião.

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Durante a entrevista ao UOL, Salles se eximiu de responsabilidade, afirmando que a crise de saúde que atinge os Yanomami é "muito antiga” e uma responsabilidade da “sociedade". O ex-ministro ainda  teve a oportunidade de repetir uma fake news já amplamente desmentida, de que determinado "percentual de Yanomami são fugitivos da Venezuela". 

Salles ocupou o Ministério do Meio Ambiente entre 2019 e 2021, quando deixou a pasta em meio a denúncias de facilitação de exportação de madeira ilegal. Seu nome ganhou destaque nas redes sociais nesta semana após surgir boatos de que seu nome seria indicado pelo PL para chefiar a Comissão de Meio Ambiente na Câmara dos Deputados. 

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No Twitter, usando a hashtag #SallesNão, o perfil do Observatório do Clima se pronunciou, classificando o ex-ministro do Meio Ambiente no governo Bolsonaro como "ecocida". O perfil listou uma série de motivos para que Salles não seja nomeado para o cargo, como a condenação em primeira instância por fraude ambiental em São Paulo e a perseguição a servidores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).  

O Observatório também cita o aparelhamento do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), a paralisação do Fundo Amazônia, o menor valor em multas ambientais em duas décadas durante sua gestão, investigação da PF por tráfico de madeira e mais oito crimes, 56 mil quilômetros quadrados de desmatamento na Amazônia e no Cerrado e a invasão, destruição e genocídio na Terra Indígena Yanomami. 

Edição: Rodrigo Durão Coelho