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PT festeja 43 anos do partido com volta ao poder e desafio de renovação

Políticos e militantes de base se reúnem em ato em Brasília (DF) para celebrar aniversário do partido

Brasil de Fato | Brasília (DF) |
Ato dos 43 anos do PT ocorreu em Brasília (DF) e reuniu milhares de filiados da sigla, desde militantes de base até dirigentes partidários e o presidente da República - Gustavo Bezerra/PT na Câmara

 

Foi entre confetes e gritos de “sem anistia” que militantes e políticos do Partido dos Trabalhadores (PT) festejaram, na noite de segunda-feira (13), o ato de 43 anos da sigla, comemorado em Brasília (DF) e com a presença de nomes ilustres da legenda. Entre eles, o presidente Lula (PT), a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), ministros e parlamentares, além de personagens de legendas aliadas.

A ocasião se traduziu em um resgate dos principais momentos históricos do partido. É o caso da eleição de Dilma como primeira mulher presidenta da República, em 2010; do golpe que depôs a petista do cargo, em 2016; da saída do Brasil do mapa da fome, em 2014; da primeira campanha de Lula na disputa pelo Planalto, em 1989; e da escolha de 16 deputados do PT para a Assembleia Nacional Constituinte de 1986, todos eventos lembrados pelos petistas durante a cerimônia.

“Quem fundou esse partido sabe o que a gente passou para poder fundar. Eu tenho esse partido em cada célula do meu corpo. Eu sei o quanto foi difícil a gente criar”, entoou Lula, que foi às lágrimas ao celebrar a jornada de mais de quatro décadas que ajudou a converter o PT no maior partido de esquerda da América Latina e em uma das organizações políticas de esquerda mais relevantes do mundo.


Comemoração de aniversário do PT teve Lula (PT) como participante mais ilustre, mas também reuniu dezenas de lideranças partidárias / Gustavo Bezerra/PT na Câmara

“Ao sair do Palácio do Planalto e do Alvorada, eu disse ‘nós voltaremos’, e nós voltamos. Nós devemos [isso] à força de várias organizações, de vários partidos, mas nós devemos sobretudo à força, à determinação e à coragem do Partido dos Trabalhadores”, resumiu Dilma.  

O agito empolgou o indígena Walter Powci Wai Wai, que é filiado ao partido e veio do Pará para Brasília com uma delegação de oito lideranças do povo Wai Wai especialmente para participar do ato. “É uma honra estar aqui. Nós viemos de muito longe, com recurso difícil, mas estamos aqui pra prestigiar este momento tão marcante. Eu sinto que agora o PT voltou mais forte”, ressalta.  

Este ano, a festividade se mistura com a expectativa dos 1,6 milhão de filiados diante da terceira gestão de Lula à frente do Planalto, que segue até dezembro de 2026. Foi esse o tom que norteou os discursos de diferentes pessoas com as quais o Brasil de Fato conversou durante o evento. “Eu estou muito feliz e esta aqui é uma demonstração do motivo pelo qual o PT é o maior partido da América Latina, da esquerda, e tem tantos filiados. Acho que temos tudo para fazer um bom governo adiante”, disse o senador neopetista Fabiano Contarato (ES), que saiu da Rede para compor os quadros do PT há pouco mais de um ano.

Para Nilson Alexandre, a festa de aniversário da sigla ganha um tempero a mais este ano não só por coincidir com o retorno do partido à cúpula do Executivo, mas especialmente por conta da libertação de Lula, que se deu em novembro de 2019 e viveu seu auge político com a eleição do ex-metalúrgico.

“É uma vitória muito grande para a gente e para o Lula, por tudo que ele passou e que nós passamos desde o impeachment da presidenta Dilma, que foi um golpe”, lembra Alexandre, que integra o Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras por Direitos (MTD) e milita no partido há cerca de duas décadas.  

A militante Tatiana Magalhães percebe o momento atual do PT como sinônimo de esperança. Ao lamentar o processo de criminalização vivido pelo partido na história recente, ela resgata o ano de 2018, quando o atual presidente da República foi parar na prisão. “Aquilo significou o fim de um projeto de sociedade em que a gente acredita.”


Tatiana Magalhães (ao centro) com as filhas, Nina e Maya, de 4 anos / Cristiane Sampaio/Brasil de Fato

Tatiana comenta que a história do partido se confunde com os principais fatos dos últimos anos no país e que os rumos do governo Lula trazem boas expectativas para aqueles que almejam para o Brasil uma rota distinta daquela que vinha sendo traçada nos últimos sete anos.

“A volta de Lula depois de tanta luta – nós participamos incessantemente pra que ele retornasse – representa vida, esperança, amor. Representa uma sociedade inclusiva, mais segura, mais justa, e é essa sociedade que eu quero para as minhas filhas”, afirmou a militante, que levou as gêmeas Nina e Maya, de 4 anos, para o evento.  

Desafios

Ao mesmo tempo em que olha pelo retrovisor para revisitar sua própria história e celebra a volta ao poder, o PT também se vê diante de desafios que povoam os pesadelos do partido já há algum tempo e que, nos próximos capítulos da jornada, podem seguir causando transtornos. Um dos principais deles é, de forma destacada, a necessidade de renovação dos quadros da sigla, assunto presente no discurso de todas as correntes da legenda em congressos, conferências e outros eventos partidários.  

A questão se manifestou de forma saliente na noite de comemoração dos 43 anos: o Brasil de Fato teve dificuldade de localizar, entre o público, integrantes da Juventude do PT, setorial do partido que reúne militantes com idade entre 16 e 29 anos. As pessoas que compareceram ao evento tinham média de idade mais alta, com destaque para a presença de homens e mulheres de meia-idade.

“Isso é o sintoma de uma dificuldade interna nossa de permitir que novos atores cresçam dentro da sigla e sejam estimulados na formação política a se tornarem lideranças, o que ajudaria a constituir novos quadros, e principalmente quadros mais jovens”, disse, em clima de confissão, um militante de 50 anos que não quis se identificar à reportagem.  

Outra associada afirma, também em off, que vê a sigla pouco aberta à pragmática necessária à renovação dos quadros. Hoje com 40 anos, ela tem 19 anos de filiação ao PT e diz sentir falta de métodos mais modernos de comunicação com a juventude. “Eu vejo o partido ainda muito preso a um formato de reuniões e discursos que não são muito atraentes para esse segmento. É um comportamento que não acompanha o perfil da juventude, que costuma ser mais dinâmica, por exemplo”, afirma.

Para a militante, a dificuldade vem de questões geracionais e precisaria ser observada com atenção pela sigla no futuro a curto prazo. “É porque, geralmente, que tem mais experiência continua dominando o partido e dando pouco espaço pros jovens, o que acaba afastando essas pessoas. Boa parte do PT ainda é de militantes que vieram das lutas de 1968, que, enfim, estão na luta há muito tempo. Isso é glorioso, mas também teria que deixar a juventude chegar mais. Acho que isso fica como um grande desafio pra ser observado agora, nesta fase atual”.

 

 

 

 

Edição: Vivian Virissimo