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Carnaval de Olinda: segurança e infraestrutura preocupam durante folia

Festa começa oficialmente nesta quinta, com um cortejo do Homem da Meia-Noite, a Mulher do Dia e o Menino da Tarde

Brasil de Fato | Recife (PE) |

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Dias de folia não conseguem esconder problemas estruturais do Sítio Histórico de Olinda. - Prefeitura de Olinda

Um dos maiores carnavais de rua do Brasil acontece em Olinda. Isso não é novidade. O que também não é novo são os problemas enfrentados pelos moradores, turistas e trabalhadores durante os dias de folia. A segurança e a falta de infraestrutura são os principais pontos levantados por quem frequenta a cidade durante o Carnaval. 

A festa começa oficialmente nesta quinta (16), com um cortejo especial do Homem da Meia-Noite, a Mulher do Dia e o Menino da Tarde. Os tradicionais calungas saem, às 18h, do Palácio dos Governadores, sede da Prefeitura de Olinda, e seguem até a apoteose na Praça do Carmo, onde estará montado o palco Erasto Vasconcelos. De acordo com a Prefeitura de Olinda, são esperados cerca de quatro milhões de pessoas durante os seis dias.

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No site da Prefeitura de Olinda, o prefeito Professor Lupércio (Solidariede), afirmou que a cidade está preparada para receber a multidão: “Por aqui passarão mais de quatro milhões de pessoas e está tudo dentro de nossa expectativa e com toda organização para um evento tão grandioso. Estamos preparados para fazer um Carnaval que vai entrar para a história do Brasil”. 

Segurança pública

Morador do Sítio Histórico de Olinda há mais de 40 anos, Carlos Marinho compartilha a realidade de quem vive no local. Ele integra um coletivo de moradores do bairro que, durante 2022, realizou alguns protestos denunciando a insegurança sofrida por quem vive na região. 

“Fizemos um movimento por causa da falta de segurança que sentíamos no Sítio Histórico e ainda sentimos. Esse é um problema extremamente complexo e que deverá se agravar agora durante o Carnaval”, reforça o morador.

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Carlos observa que a Polícia Militar de Pernambuco até tem agido, “mas eu não acredito que possa conter uma avalanche de pessoas como essa. Teria que repensar tudo aqui no bairro, o próprio tamanho do Carnaval. Já presenciei vários arrastões”.

No último domingo (12), durante o bloco "Virgens de Bairro Novo", cenas de violência foram gravadas pela população. As imagens mostram homens correndo pelas ruas após o que teria sido uma briga entre grupos. 

Questionada pela reportagem sobre os casos cotidianos de falta de segurança e a atuação durante a Festa de Momo, a Prefeitura Municipal de Olinda respondeu que “mantém um constante diálogo com as forças de segurança, prezando sempre pelo bem-estar da população. A Gestão Municipal atua na troca do parque de iluminação do Sítio Histórico por lâmpadas de LED e com pontos de bloqueio fixos para troca de vasilhames de vidro por plástico, além do trabalho educativo nos bares e com os ambulantes cadastrados para as prévias”.

A nota também afirma que “a Prefeitura solicita à Secretaria de Defesa Social, órgão do Governo do Estado, responsável pela segurança pública, aumento do efetivo da Polícia Militar para todo o período festivo”. O pedido de resposta à Polícia Militar não teve retorno até o fechamento desta matéria. 

Nesta quarta-feira (15), a Prefeitura também divulgou os esquemas especiais de serviços durante o Carnaval. De acordo com o órgão, a cidade vai dispor de uma unidade móvel estacionada na Praça Monsenhor Fabrício, em frente à Prefeitura, com monitoramento de câmeras e interação com o efetivo da Guarda Municipal a pé. 

No local também funcionará o Ponto de Recolhimento de Perdidos e Achados e encaminhamento para a sede da Secretaria de Segurança Cidadã (SSC), onde serão catalogados e inseridos em link no site do Carnaval de Olinda 2023, hospedado no site da Prefeitura de Olinda.

De acordo com a gestão, a Guarda Civil Municipal atuará de forma integrada com efetivo da Polícia Militar e demais órgãos da gestão municipal e estadual, com vistas a aumentar a segurança de todos. 

Infraestrutura

Durante os mais de 40 anos morando em Olinda, Carlos Marinho já viveu muita coisa e faz algumas considerações. “Em primeiro lugar o Sítio Histórico de Olinda sofre de um problema grave que é a superlotação nesse período. Além disso, tem o apartheid social. Os donos das casas têm suas calçadas exploradas, o pessoal sobe, vem de todos os lugares e isso torna o ambiente tóxico e disputável”, discorre. 


Ambulantes precisam acampar para garantir ponto de comercialização nas ruas do Sítio Histórico. / Carlos Marinho

Ele não acredita que a região tenha capacidade para receber os quatros milhões de pessoas esperados. “Em Olinda falta água, não tem hidrômetro, não tem rota de fuga, não tem absolutamente nada pensado nesse sentido. Sem banheiro público suficiente, no fim das contas, as pessoas vão urinar e defecar no SH, agravando essa disputa entre morador, invasor, turista etc. É um assunto complexo”, reflete.

De acordo com a prefeitura, estão instalados 155 banheiros químicos distribuídos por 14 pontos diferentes: Ao lado dos Correios; Fortim do Queijo; Rua Porto Seguro; Praça do Carmo; Ribeira (no beco em frente ao mercado); Largo do Amparo (ao lado da Igreja do Amparo); Alto da Sé (na subida da ladeira); 10 de novembro (descida da prefeitura); Praça Laura Nigro; Rua Pedro Monteiro; Travessa João Alfredo; Rua 13 de Maio; Avenida Liberdade (casarão ao lado da Focca) e Biblioteca Municipal.

Diante de tudo o que foi exposto, Carlos não fica em casa durante o carnaval. “Eu fecho minha casa, boto tapumes e vou para o interior. Fica difícil você morar no Sítio Histórico nesses dias de carnaval e até a partir de setembro, quando começam as prévias com sons nas alturas, insegurança, correria, arrastões, pequenos e médios furtos, tudo isso é muito complicado”, lamenta. 

Descarga elétrica

Durante a prévia do Clube Carnavalesco Elefante de Olinda, ocorrida no sábado (04), a deputada estadual Rosa Amorim (PT) e uma amiga foram atingidas por uma descarga elétrica, possivelmente vinda de um poste de iluminação, que arremessou as duas no chão. Estava chovendo quando o grupo chegou na altura do Carmo, momento no qual as mulheres sofreram o choque. 

Após o ocorrido, a deputada alertou as pessoas por meio das redes sociais e protocolou pedido de vistoria para a prefeitura de Olinda e para a Neoenergia. A Neoenergia afirmou que se tratava de um poste de responsabilidade da prefeitura, que os postes de sua responsabilidade foram inspecionados e não apresentaram vazamento de corrente. 

A previsão de chuva para os dias de folia foi uma das preocupações da deputada. Em resposta à nossa reportagem, a Prefeitura de Olinda informou que “a área pontuada foi vistoriada e nada foi constatado. Os turistas podem ficar tranquilos de brincar em Olinda em dias de chuva”. 
 

Fonte: BdF Pernambuco

Edição: Vanessa Gonzaga