Inédito

Resultados parciais de eleições na Nigéria indicam derrota de partidos tradicionais

Para professor da UFABC, resultado mostra que o candidato Peter Obi pode "romper ciclo" político do país

São Paulo (SP) |
Homem se informa sobre as eleições Ikeja, na Nigéria - Pius Utomi Ekpei / AFP

Após os mais de 90 milhões de eleitores da Nigéria serem convocados a escolher o seu novo presidente e o Parlamento no sábado (25), a apuração continua, mas ainda não há um desfecho. Um resultado preliminar, todavia, chama a atenção: o candidato Peter Obi, do Partido Trabalhista, venceu em Lagos, a cidade mais populosa do país, derrotando o ex-governador da região Bola Tinubu, do partido Congresso de Todos os Progressistas.

Com uma campanha focada na população jovem, Obi teve 582 mil votos na região que foi governada Tinubu entre 1999 e 2007. O candidato do Congresso de Todos os Progressistas registrou 572 mil votos em Lagos. O resultado final ainda deve demorar dias, após relatos de atrasos na votação e filas que dificultaram o acesso ao voto.

Para que o novo presidente seja escolhido em apenas um turno, é preciso que o candidato consiga 25% dos votos em pelo menos 24 dos 36 estados do país. Se ninguém alcançar essa marca, um segundo turno será necessário. A posse está prevista para o dia 29 de maio de 2023.

Em entrevista ao Brasil de Fato, o professor de relações internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC), Mohammed Nadir, avalia que Obi conseguiu uma "vitória muito significativa" ao vencer Tinubu em seu bastião e que o candidato do Partido Trabalhista pode romper o domínio dos dois partidos que comandam a Nigéria desde 1999, quando houve o fim da ditadura militar: o Congresso de Todos os Progressistas e o Partido Democrático Popular, do presidenciável Atiku Abubakar.

"Significa uma mudança [a vitória de Obi em Lagos]. Pela primeira vez aquela divisão tradicional entre o Norte e Sul, entre os grandes partidos, digamos, que dominavam durante várias décadas, e portanto essa mudança, para além da polarização religiosa, étnica, caminha para um novo tipo de eleições", diz Nadir.

A população entre 18 e 34 anos do país representa 39,65% dos eleitores e é o maior grupo etário da eleição, seguido pelas seguintes faixas: 35 a 49 anos (35,75%), 50 a 69 anos (18,94%) e mais de 70 anos (5,66%). Os dados são da Comissão Eleitoral Nacional Independente. De acordo com previsão do Censo dos Estados Unidos, a Nigéria será o terceiro país mais populoso do mundo em 2045, atrás apenas da Índia e da China. 

Apesar de a Nigéria ser uma grande produtora de petróleo, informações contidas em um relatório do Banco Mundial indicam que 4 a cada 10 nigerianos vivem abaixo da linha de pobreza. Já dados estatísticos da própria Nigéria registram que 33,3% da população está desempregada.

O professor da UFABC afirma que a Nigéria, apesar de ser o país mais populoso da África e a maior economia do continente, é uma espécie de "gigante de pés de barro", uma vez que a maior parte de sua população não consegue acessar a riqueza proveniente de seus recursos.

A vitória parcial de Peter Obi indica, entretanto, que o candidato do Partido Trabalhista pode conseguir "capturar os corações e mentes de uma Nigéria jovem, educada e urbana".

Edição: Patrícia de Matos