EX-PRESIDENTE

Bolsonaro tenta agradar extrema-direita dos EUA com ataques à diplomacia de Lula na África

Declaração de ex-presidente tentou associar Lula a governos autoritários, diz professora de Relações Internacionais

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

Ouça o áudio:

Bolsonaro em igreja na Flórida, onde está vivendo desde o final de dezembro - Reprodução

Na última semana, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tentou voltar aos holofotes a partir de mais uma fala ofensiva, desta vez em um discurso nos Estados Unidos. Ao falar sobre a política externa brasileira, Bolsonaro afirmou que o governo atual tem se aproximado de ditaduras na América do Sul e fora dela. Além disso, desvalorizou os países africanos ao dizer que devemos buscar "países que podem nos oferecer alguma coisa".

"Quem está no governo atualmente, infelizmente, tem se aproximado de ditaduras na América do Sul e fora também. Agora vai fazer uma turnê pela África. Devemos sempre buscar, não desprezando os mais humildes, mas buscar países que podem nos oferecer alguma coisa", disse o ex-capitão.

Para Denilde Holzhacker, professora de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), o posicionamento de Bolsonaro mostra alinhamento com a política externa da extrema-direita dos Estados Unidos, onde ele está morando. "A frase do Bolsonaro reflete o discurso que ele vem fazendo de tentar agradar a extrema-direita nos Estados Unidos. Foi uma tentativa de associar o Lula a governos autoritários na América Latina e também africanos", disse a professora.

Leia também: 'Nossa luta contra a fome é inscansável', diz Lula ao recriar Consea, extinto por Bolsonaro

De acordo com a professora, a aproximação com países africanos é uma das prioridades do governo atual. "Existem oportunidades importantes para o Brasil nessa ampliação de laços econômicos, de cooperação. Foi um dos eixos centais da política externa do Lula nos anos 2000", avalia. "A África é uma região de potencial, com um mercado consumidor grande e jovem, e que, se superar seus problemas sociais, econômicos e políticos, pode ser, para os países que já têm um relacionamento, uma importante base."

No entanto, Denilde também ressaltou os desafios que o Brasil enfrenta para se aproximar dos países africanos, especialmente diante da expansão de outros países importantes, como Índia e China, que também passaram a ter investimentos nesses países. "O Brasil passou não apenas no governo Bolsonaro, mas desde o governo Dilma, um distanciamento das agendas e da presença brasileira na África", disse Denilde.

"É uma retomada de uma estratégia que o Brasil já fez e tem sido parte da nossa política externa. O Bolsonaro foi uma ruptura dessa lógica, e isso reforça a visão pouco estratégica com que ele pensa a política externa e as formas como o Brasil pode ganhar, especialmente em regiões como África ou América Latina", afirmou.

Denilde também destacou a importância de buscar laços de aproximação com os países de língua portuguesa, como já foi feito no passado. "Então, no conjunto da situação que o Lula está fazendo [a retomada da relação com países africanos] é uma retomada de uma estratégia que o Brasil já fez e tem sido parte da nossa política externa", disse.

Edição: Nicolau Soares