Março feminista

Latifúndio na Bahia é ocupado por 120 mulheres do MST

É a primeira ação da jornada de março do movimento, que tem como foco a luta das mulheres e a crítica ao agronegócio

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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A entrada na Fazenda Santa Maria acontece dois dias depois que o MST ocupou três fazendas da Suzano Papel e Celulose - MST-BA

Março, mês internacional de luta das mulheres, mal tinha começado quando, na madrugada desta quarta-feira (1), cerca de 120 mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocuparam a Fazenda Santa Maria, em Itaberaba (BA). A ação na região da Chapada Diamantina inaugurou a Jornada de Luta das Mulheres Sem Terra, que esse ano tem como tema a crítica ao agronegócio.

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"Ocupamos terras improdutivas para acabar tanto com a fome quanto com a violência estrutural que destrói nossas vidas e também o meio ambiente", afirma Simone Souza, dirigente estadual do MST na Bahia.

O latifúndio ocupado tem 1950 hectares e é da família Baleeiro, proprietária da antiga Empresa Estância Baleeiro Ltda, já sem registro vigente. Segundo o movimento, a área está arrendada e sem cumprir função social.

:: Contra monocultura de eucalipto, MST ocupa três áreas da Suzano Papel e Celulose ::

Retorno

A ação das mulheres é, na realidade, um retorno. Esse mesmo território já levou o nome de Acampamento Olga Benário. Ocupações e oito despejos - alguns violentos - marcaram as idas e vindas de centenas de famílias do MST nesta área entre 2015 e 2019.

"Desde 2019, vendo aquela terra a cada dia mais abandonada, servindo apenas para a destruição ambiental, restou nas famílias o desejo de voltar", descreve Simone. Sob o mote "O agronegócio lucra com a fome e a violência: por terra e democracia, mulheres em resistência", a jornada de 2023 começa com o intento de realizar o desejo.

"Nós, mulheres, vamos garantir àquelas famílias o retorno a essa terra, ao sonho de cultivá-la, torná-la fértil, produzir alimento saudável, gerar renda e emprego", destaca Simone.

Suzano Papel e Celulose ocupada e reintegração iminente

Em menos de três semanas, seis ocupações de latifúndios foram feitas pelo movimento na Bahia. A que teve maior repercussão foi a tomada simultânea, com 1500 pessoas, de três áreas da empresa Suzano Papel e Celulose S/A no extremo sul do estado. Acampados ali desde a última segunda-feira (27), os camponeses denunciam a degradação ambiental da monocultura de eucalipto na região.

Nesta terça-feira (1), o juiz Renan Souza Moreira do Tribunal de Justiça da Bahia determinou a reintegração de posse de uma das três fazendas ocupadas da Suzano, a que fica na cidade de Mucuri (BA). A decisão autoriza o uso da força policial e prevê multa de R$ 5 mil por dia caso os militantes ocupem áreas vizinhas da fazenda.

A concentração de terras por fazendeiros do agronegócio na Bahia, afirma o MST em nota, "contribui diretamente no aumento indiscriminado dos índices de desigualdades sociais, além de impactos ambientais irreversíveis, provocando um descontrole ambiental com chuvas torrenciais, enchentes, deslizamentos de terra, secas prolongadas e incêndios devastadores".

Também na madrugada do último dia 27, na cidade de Jacobina (BA), 150 famílias acamparam na Fazenda Limoeiro, antes abandonada. Alguns dias antes, em 18 de fevereiro, outras 200 famílias ocuparam o perímetro irrigado do Projeto Nilo Coelho, no município de Casa Nova (BA).

Segundo o movimento, a reivindicação é que as propriedades que não cumprem função social sejam imediatamente desapropriadas para fins de reforma agrária.

Edição: Nicolau Soares