Honduras

Sete anos depois, nem todos os mandantes do assassinato de Berta Cáceres foram punidos

Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras cobra justiça pela morte da ativista

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Berta Cáceres foi morta em 2016 após ser alvo de ameaças por atuar na defesa de povos originários e do meio ambiente - ©Luis Acosta / AFP

Sete anos após o assassinato da líder ambientalista Berta Cáceres, o Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras (COPINH) diz que a punição ainda não chegou a todos os autores intelectuais do crime.  

Cáceres era coordenadora do COPINH e se opôs à construção projeto hidrelétrico Agua Zarca, no Rio Gualcarque, considerado um lugar sagrado para os povos indígenas Lenca. Na madrugada de 3 de março de 2016, ela foi morta em casa, na cidade de La Esperanza, no sudoeste de Honduras. Homens armados invadiram local e executaram a liderança a tiros.  

A ativista emergiu como uma importante líder nacional do movimento de refundação hondurenho, após o golpe de estado no país em 2009. Antes de ser morta, ela foi vítima de ameaças, intimidação, criminalização e atos de violência física por membros das forças de segurança do país e pessoas ligadas com empresas privadas.

Pela atuação e luta, Berta ganhou reconhecimento internacional. Em 2015, ela recebeu o Prêmio Ambiental Goldman e incluída na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo, elaborada pela revista Time. Sua execução causou comoção mundial

Em 2018, sete homens foram condenados por serem coautores materiais do assassinato. A conclusão do judiciário hondurenho foi que a DESA, empresa responsável pelo projeto hidrelétrico Agua Zarca, ordenou o assassinato devido aos atrasos e prejuízos econômicos causados pelos protestos dos ambientalistas.  

Três anos depois, David Castillo, gerente da DESA, também foi considerado culpado como coautor intelectual do assassinato. Já em 2022, o ex-soldado Roberto Castillo foi condenado a 22 anos e seis meses de prisão pelo mesmo motivo. 

No entanto, o Conselho aponta que a autoria intelectual do crime ainda não foi totalmente esclarecida e que ainda é preciso punir alguns  mandantes do crime. Em nota publicada nessa quinta-feira (2) o COPINH e a família de Berta afirmam que a falta de punição ameaça quem permanece na luta pelos direitos das comunidades indígenas e camponesas em Honduras.

"Reiteramos que a impunidade dos autores intelectuais, que continuam fazendo negócios às custas do povo hondurenho, é uma mensagem que promove o assassinato de outros defensores dos direitos humanos e do meio ambiente. Como ocorre nos territórios de Honduras e especialmente no norte do país, em Aguán."

O texto cita os empresários e proprietários da DESA, "mais um ano em que exigimos que os criminosos Jacobo (Atala Zablah), José Eduardo (Atala Zablah), Pedro Atala Zablah,  juntamente com Daniel Atala Midence, mandantes deste crime, sejam levados à justiça para pagar pelos seus crimes."

Ainda de acordo com o posicionamento, buscar justiça em nome de Berta Cáceres "implica necessariamente no desmantelamento do injusto sistema extrativista dos recursos das comunidades indígenas e camponesas". Um sistema "de morte, sustentado por e pelos interesses de grupos empresariais e bancários sem escrúpulos que sangraram e sangram o povo hondurenho."

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho