Contra o patriarcado

Guterres alerta contra misoginia e desrespeito aos direitos das mulheres

Secretário-geral da ONU diz que igualdade de gênero está em ritmo lento e progressos obtidos estão sendo perdidos

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"O patriarcado contra-ataca, mas responderemos. Estou aqui para dizer alto e claro: as Nações Unidas estão com as mulheres e meninas em todos os lugares", afirmou Guterres - Giorgia Prates

No ritmo atual serão necessários 300 anos para que seja alcançada a igualdade entre homens e mulheres, alertou nesta segunda-feira (6) o secretário-geral da ONU, António Guterres, em alusão ao Dia Internacional da Mulher, celebrado na quarta (8).

"Os progressos obtidos em décadas estão se evaporando diante de nossos olhos", afirmou na abertura da 67ª sessão da Comissão sobre a Condição Jurídica e Social da Mulher, que prosseguirá até 17 de março.

"A desinformação e a desinformação misógina florescem nas plataformas das redes sociais. A chamada trolagem de gênero visa especificamente silenciar as mulheres e removê-las da vida pública. As histórias podem ser falsas, mas o dano causado é muito real", declarou Guterres.

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Um dos focos do seu discurso foi a situação no Afeganistão, onde o regime talibã tem deteriorado os direitos das mulheres, com restrições como a segregação por sexo em lugares públicos, a imposição do véu ou a obrigação de serem acompanhadas por um familiar do sexo masculino em viagens longas, além de proibir meninas de estudar.

"No Afeganistão, mulheres e meninas foram apagadas da vida pública. Em muitos lugares, os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres estão sendo revertidos. Em alguns países, as meninas que vão à escola correm o risco de serem sequestradas e agredidas. Em outros, a polícia ataca mulheres vulneráveis que jurou proteger", relatou.

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Ele destacou que a pandemia de covid-19 e as guerras no mundo, da Ucrânia ao Sahel, afetaram em primeiro lugar as mulheres e as meninas.

Tecnologia e inovação

Em seu discurso de abertura da sessão, que este ano abordará as diferenças de gênero nos âmbitos da tecnologia e da inovação, o secretário-geral da ONU também enfatizou que mulheres e meninas estão ficando para trás na corrida tecnológica.

"Três bilhões de pessoas ainda não estão conectadas à internet, e a maioria delas são mulheres e meninas em países em desenvolvimento. E nos países menos desenvolvidos, apenas 19% das mulheres estão online", denunciou.

Recorrendo a mais dados, Guterres apontou também que as meninas e mulheres representam apenas um terço dos estudantes de ciências, tecnologia, engenharia e matemática e alertou que a disparidade de gênero é ainda maior no setor da inteligência artificial, onde "apenas um em cada cinco trabalhadores é uma mulher".

O patriarcado contra-ataca

"Séculos de patriarcado, discriminação e estereótipos nocivos criaram uma enorme lacuna de gênero na ciência e na tecnologia. A inteligência artificial está moldando nossos mundos futuros. Esperamos que não o faça com um viés de gênero", acrescentou.

"Sem a perspicácia e a criatividade de metade do mundo, a ciência e a tecnologia realizarão apenas a metade de seu potencial", advertiu Guterres.

Ele fez um apelo urgente para empoderar as mulheres e melhorar a situação delas nos âmbitos trabalhista e educativo e aumentar seu nível de renda. Além disso, pediu aos líderes políticos que promovam a plena participação de mulheres e meninas na liderança científica e tecnológica.

"O patriarcado contra-ataca, mas responderemos. Estou aqui para dizer alto e claro: as Nações Unidas estão com as mulheres e meninas em todos os lugares", afirmou Guterres, assegurando que a ONU jamais renunciará à luta pelos direitos fundamentais.

as/rk (Efe, Lusa, AFP)