8 DE MARÇO

'Dançar em público junto com outras mulheres é uma ação política forte e contundente'

Impulsionada pela atuadora Tânia Farias, a ação Dançando contra o Feminicídio aconteceu em diversas cidades

Brasil de Fato | Porto Alegre |
"Dançando contra o feminicídio é o desejo de colocar os nossos corpos, mas em uma condição de liberdade", afirma Tânia Farias - Foto: Jorge Leão

"A cada minuto, de cada semana
Nos roban amigas, nos matan hermanas
Destrozan sus cuerpos, los desaparecen
No olvide sus nombres, por favor, señor presidente (...)

Cantamos sin miedo, pedimos justicia
Gritamos por cada desaparecida
Que resuene fuerte: ¡Nos queremos vivas!
¡Que caiga con fuerza el feminicida!"

Corpos femininos flutuaram ao som de Canción Sin Miedo, de Vivir Quintana, em Porto Alegre, Maringá e diversas outras cidades brasileiras, na última quarta-feira (8), Dia Internacional da Mulher. Para além de marcar a data de luta, a ação Dançando contra o Feminicídio teve como intuito chamar atenção para as milhares de vidas perdidas, pelo simples fato de serem mulheres. Usando a dança, como instrumento revolucionário, a mobilização pioneira nascida em solo gaúcho, também serviu para lembrar da bailarina paranaense, Maria Glória Poltronieri Borges, a Magó, morta em 2020. 

"Celebramos nossas vidas em constante luta contra o patriarcado que oprime, estupra, tortura e mata. Nossas corpas não são públicas, não se toca aqui sem consentimento. E nós queremos nossas corpas livres e livres da violência do machismo e da misoginia estrutural em todas as suas formas e manifestações. Mover-se em constante pulsar, ousar dançar contra o patriarcado", destaca o manifesto do Dançando contra o Feminicídio. 

Conforme explica a atuadora Tânia Farias, do Ói Nóis Aqui Traveiz, idealizadora da ação, a ideia já vinha de muito tempo e calhou de dar vida em um 8 de Março. "Uma das coisas que o patriarcado não gosta é da potência que nós temos quando estamos gozando de liberdade. Os nossos corpos livres a nossa liberdade incomoda o patriarcado. E essa liberdade em um sentido amplo, em comunhão com esse corpo, liberdade de pensamento, liberdade que nós podemos decidir sobre nossas vidas", destaca.

E foi nas ruas que essa liberdade ganhou vida, como no caso de Maringá, Paraná, onde a irmã de Magó, Ana Poltronieri, dançou junto à Obra "Madeixas de Magó", em frente ao Teatro Reviver Magó. "A minha experiência dançando contra o feminicídio foi muito especial. Na verdade eu estava postergando essa dança, nessa obra. Eu achei uma excelente oportunidade de oferecer essa dança para Magó, essa mulher que foi vítima de feminicídio. Foi bom estar ali e rememorá-la, rememorar todas as mulheres que foram vítimas de feminicídio". Assim como a irmã, Ana também é artista da dança,    

Ela comenta que a praça onde foi feita a intervenção virou um local ícone. "As pessoas passam ali na frente e lembram que uma mulher foi assassinada, uma mulher perdeu sua vida vítima da cultura do estupro, da misoginia tão imperante em nosso país."

Tânia pontua que depois da morte da Magó o desejo de levar ação adiante ficou mais latente, "e escancarar que a nossa dança é contra o feminicídio, é contra a eliminação das mulheres." 


"O patriarcado quer muito os corpos doentes das mulheres. E estar na rua dançando contra o feminicídio, saudáveis, atentas e fortes e e em movimento é muito importante", destaca Ana / Foto: Jorge Leão

A dança como instrumento de luta

Ao falar da dança no contexto da violência contra as mulheres, Tânia destaca a frase da anarquista lituana, Emma Goldman: se não posso dançar não é minha a revolução. Ela ainda comenta que quando se experimenta a dança, ainda mais irmanada, tem uma potência enorme. "De estar com o outro e de estar consigo mesmo. De estar com um corpo que é pulsante, vibrante. Toda a repressão que tem em relação ao corpo da mulher, tantos anos que o conservadorismo ficou dizendo que o corpo da mulher não era um corpo que podia sentir prazer. Por isso estar em um espaço público dançando junto com outras mulheres é uma ação política forte e contundente", afirma, enfatizando que as mulheres das artes, da cultura, fazem política com os corpos.  

Para Ana, a dança é uma maneira de colocar "nosso corpo saudável, de colocar o nosso movimento para jogo, fazendo essa revolução, um corpo saudável. O patriarcado quer muito os corpos doentes das mulheres. E a gente estar na rua dançando contra o feminicídio, saudáveis, atentas e fortes e e em movimento... A gente está se mexendo para que a misoginia acabe, está se mexendo para dar mão para as irmãs, tirar elas de uma situação de violência, empoderar outras mulheres. E colocar a força da dança como uma revolução".

"Foi o primeiro dançando contra o feminicídio e acho que a gente tem que se encontrar mais, dançar mais, fazer essa rede nacional ao mesmo tempo, rememorando as vítimas de feminicídio e torcendo para que todas nós possamos voltar para casa no final do dia, sermos donas dos nossos próprios corpos", conclui Ana. 

Por fim, Tânia enfatiza que o Dançando contra o Feminicídio é o desejo de colocar os nossos corpos, mas em uma condição de liberdade. "Um corpo dançante, evidenciando que esse corpo é um corpo político." 

Para conhecer mais a ação foi criada a página corpa política onde tem vídeos de apresentações do Dançando contra o Feminicídio.


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Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Katia Marko