depoimento

Ex-chefe de operações da PM-DF diz que foi impedido de desmontar acampamento golpista

Jorge Naime, que está preso acusado de omissão no 8 de janeiro, prestou depoimento em CPI da Câmara do DF nesta quinta

Brasil de Fato | Rio de Janeiro (RJ) |

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Naime prestou depoimento nesta quinta-feira (16) - Reprodução/YouTube TV Câmara Distrital

O coronel da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) Jorge Naime, ex-comandante do Departamento Operacional da corporação, afirmou que tentou "várias vezes" desmontar o acampamento golpista junto ao Quartel General do Exército em Brasília, mas foi impedido por integrantes do Exército. Ele citou especificamente o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo de Jair Bolsonaro (PL).

"Fui colocado para fora", disse Naime em depoimento nesta quinta-feira à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) sobre os atos antidemocráticos. Os acampamentos golpistas à porta dos quartéis, especialmente o que estava em Brasília, se tornaram "incubadoras" do terrorismo golpista de 8 de janeiro.

"Eu fui acessar a área onde toda a população estava acessando, eu estava fardado, com viatura caracterizada e um patrulheiro do meu lado. Fui abordado por um soldado do Exército, que botou a mão no meu peito, me proibiu de entrar, chamou uma guarnição do GSI", contou Naime à CPI.

"Vieram mais ou menos uns 15 [agentes] do GSI, aí a população [pessoas que estavam no acampamento] veio correndo atrás deles. Começou um sargento a falar comigo, numa forma totalmente fora do conceito militar, apontando dedo na minha cara, me mandando sair. A população começou a me xingar, me chamar de vários nomes, e fui colocado para fora", prosseguiu.

Naime, que está preso desde o último dia 7 de fevereiro por suspeita de omissão nos atos golpistas, disse que estava de férias quando os ataques à Praça dos Três Poderes aconteceram, e que o período de descanso, inicialmente marcado para 2022, tinha sido adiado para depois de "grandes eventos", como as eleições e a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ainda de acordo com o coronel da PM, a Polícia Federal garantiu que as manifestações previstas para o dia 8 de janeiro teriam "ânimos tranquilos e baixa adesão".

Contato com 'ET'

Durante o depoimento, que durou cerca de quatro horas, Naime relatou que os serviços de inteligência da PM colocaram agentes infiltrados no acampamento golpista da capital federal. O coronel disse ainda ter ido ao acampamento em diferentes ocasiões - segundo ele, sempre fardado, exercendo seu trabalho, e contou ter conhecido figuras pitorescas. 

"Aquele pessoal dos acampamentos vivia em um mundo paralelo. Conversei com algumas pessoas, escutei relatos que falei 'não é possível que essa pessoa está falando isso'. Teve um que me abordou um dia lá, falou pra mim que era um extraterrestre. Que estava ali infiltrado, e que assim que o exército tomasse, os extraterrestres iam ajudar o exército a tomar o poder", relatou.

Ainda de acordo com o ex-chefe do Departamento de Operações da PMDF, havia nos acampamentos uma "máfia do Pix": supostas lideranças do grupo solicitavam transferências diárias sob alegação de manter as estruturas de pé. Isso teria gerado, inclusive, discussões no próprio dia 8 de janeiro, quando um grupo que defendia a permanência no acampamento teria sido acusado por outros golpistas de querer ficar ali para receber mais dinheiro.

"A gente tinha informações de que estava acontecendo comércio de tendas. As pessoas montavam tendas ali, deixavam vazias, e alugavam para ambulantes durante o dia vender as coisas, aluguel de R$ 500, R$ 600", complementou.

Edição: Thalita Pires