Articulação

Rede Futuro: nova articulação de esquerda sugere contraposição ao Foro de São Paulo

Entidade terá evento fundacional no fim de semana e não contará com representantes de Venezuela, Cuba e Nicarágua

|
Partidos ligados ao presidente chileno Gabriel Boric e ao colombiano Gustavo Petro estão entre os principais articuladores da Rede Futuro - Presidência da Colômbia

A esquerda sul-americana terá uma nova entidade para defender as demandas do setor: se trata da Rede Futuro, que será fundada oficialmente neste fim de semana, durante o encontro Construir Futuro, que ocorrerá em Santiago do Chile entre os dias 7 e 9 de abril.

Continua após publicidade

A nova plataforma surgiu principalmente por iniciativa de lideranças de diferentes países, incluindo figuras da Frente Ampla chilena [coalizão do presidente Gabriel Boric] do Pacto Histórico colombiano [aliança do presidente Gustavo Petro] e do PSOL, no caso do Brasil.

Contudo, nem todos os países terão representantes na nova articulação, e mesmo nesses países não haverá representantes de todos os setores de esquerda. Partidos de esquerda da Venezuela [como o PSUV, fundado por Hugo Chávez e base de sustentação de Nicolás Maduro] não estarão presentes no evento deste fim de semana.

Os setores da esquerda chilena ligados à nova plataforma [incluindo os partidos Revolução Democrática e Convergência Social, ambos da Frente Ampla e da base de sustentação do governo de Gabriel Boric] são abertamente críticos não só do chavismo venezuelano como também dos atuais governos de Cuba e da Nicarágua, em âmbito latino-americano [ausências menos chamativas, devido ao fato de que tampouco participarão representantes de outros países da América Central e do Caribe].

Esse contraste gera incertezas sobre como se encaixará esta nova articulação em um cenário onde a esquerda latino-americana já conta com duas entidades representativas: o Foro de São Paulo e o Grupo de Puebla, que convivem com certa harmonia.

:: Nova onda progressista da América Latina é 'mais frágil', diz Rafael Correa ::

Nesse cenário, a Rede Futuro poderia soar como um contraponto especialmente com relação ao Foro de São Paulo, que não conta com a participação dos partidos chilenos que impulsionaram a nova entidade.

PT e PSOL na Rede Futuro

Entre as figuras brasileiras que participarão do evento inaugural da Rede Futuro estão membros do PSOL e do PT. Ainda assim, há certa disparidade, já que o PSOL estará representado pelos deputados Guilherme Boulos (SP) e Célia Xakriabá (MG), além do seu presidente, Juliano Medeiros (SP), enquanto o PT terá uma única participante, a deputada federal Ana Pimentel (MG).

Apesar de ter uma deputada que fará parte do evento inaugural da Rede Futuro, o PT é muito mais presente no Foro de São Paulo, entidade da qual o partido forma parte institucionalmente.

O historiador Valter Pomar, membro do Diretório Nacional do PT, é um contumaz participante do Foro de São Paulo, e assegura que não há nenhuma disposição deste em promover qualquer disputa ou concorrência dentro da esquerda regional.

“Nosso inimigo é outro, é a direita, é o neoliberalismo, é o imperialismo. Faz parte da democracia você fazer as atividades que quer, convidando quem você quiser convidar. Cada um escolhe seus amigos e seus inimigos. Agora, convenhamos: é fácil excluir Cuba de um seminário, difícil é pensar a libertação da América Latina e Caribe sem a participação e a experiência dos cubanos”, comentou o historiador, enfatizando que sua opinião é em caráter pessoal, e não em nome do PT ou do Foro de São Paulo.

O presidente do PSOL, Juliano Medeiros é um dos que viajará ao Chile neste fim de semana para prestigiar o encontro fundacional da Rede Futuro.

A Opera Mundi, ele contou que as conversas para a criação de uma nova plataforma vinham sendo promovidas desde antes da pandemia do novo coronavírus, mas ganhou mais força após a eleição de Petro na Colômbia. Também evitou polemizar sobre um possível contraponto com o Foro de São Paulo.

“Esta é uma rede de lideranças, não é propriamente uma articulação de partidos, como o Foro de São Paulo. Essa rede não tem como propósito se contrapor ao que já existe, mas ir além. A esquerda latino-americana é plural. A ideia é termos um espaço para fortalecer uma agenda de renovação das ideias socialistas e democráticas”, comentou o político paulista.

Segundo Medeiros, “a Rede Futuro pretende trabalhar para fortalecer as lutas sociais, a democracia, a renovação das agendas de esquerda para a região e combate o neoliberalismo e a extrema-direita (…) não há veto a ter membros de nenhum país da região, desde que compartilhe dos nossos princípios”.

Por sua parte, Pomar acrescentou que a presença de figuras destacadas do PSOL na Rede Futuro “não interfere na relação dos nossos partidos com o governo Lula”, e acrescenta que “da nossa parte [do PT], gostaríamos que o PSOL participasse do Foro de São Paulo”.

Além dos líderes políticos brasileiros, chilenos e colombianos, também se espera grande participação de representantes da Frente de Todos [que reúne diferentes setores do peronismo na Argentina e é a base de apoio do presidente Alberto Fernández], da Frente Ampla do Uruguai e de partidos progressistas da Bolívia, Peru e Equador.