Queima de arquivo?

Suposto aliado do presidente do Equador é encontrado morto após ser ligado a caso de corrupção

Empresário Rubén Chérres foi encontrado com marcas de tortura; caso envolve processo de impeachment contra Lasso

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Guillermo Lasso, presidente do Equador, durante evento do governo - Gerardo Menoscal / AFP

O empresário equatoriano Rubén Chérres, um dos implicados em uma suposta rede de corrupção em empresas públicas que levou ao julgamento do impeachment contra o presidente conservador Guillermo Lasso, foi encontrado morto em 31 de março, juntamente com outras três pessoas, todas com sinais de tortura. Os cadáveres das vítimas foram encontrados em uma casa na cidade de Punta Blanca, província de Santa Elena, que Chérres havia alugado em janeiro.

A Polícia Nacional informou que as identidades das vítimas foram confirmadas após análise das impressões digitais. Enquanto isso, a Promotoria informou que encontrou o cadáver do segurança fora da casa e o de Chérres e os outros dentro da casa, com golpes e ferimentos de bala.

O Ministro do Interior, Juan Zapata, confirmou que os quatro mostravam sinais de tortura. Ele relatou que, segundo um relatório forense preliminar, as vítimas foram assassinadas na noite de quinta-feira ou nas primeiras horas de sexta-feira. Zapata também relatou que a polícia havia destacado uma equipe especializada para encontrar os responsáveis pelos assassinatos e as razões por trás deles.

Chérres, 69 anos, era um fugitivo da justiça. Seu nome veio à tona em janeiro, quando o jornal digital La Posta publicou uma série de documentos e gravações de áudio que revelaram uma suposta estrutura criminosa para a nomeação de cargos e contratos públicos em troca de dinheiro em empresas estatais, ligando Chérres a vários funcionários do governo, como Hernán Luque, ex-presidente da Empresa Coordenadora das Empresas Públicas (EMCO), bem como ao cunhado do presidente Lasso, Danilo Carrera. Também foram revelados supostos vínculos de Chérres com os membros da máfia albanesa e com o tráfico de drogas.

De acordo com a investigação do La Posta, Chérres, Luque e Carrera gerenciaram nomeações para altos cargos dentro de empresas públicas e ministérios, e decidiram quais empresas privadas trabalham com o Estado em troca de subornos. A reportagem também revelou que a máfia albanesa havia escolhido o Equador como um ponto estratégico para as operações de tráfico de drogas, e detalhou que desde que Chérres, Luque e Carrera possuíam influência sobre instituições-chave, como o Serviço de Alfândega e o Ministério de Energia, eles ajudaram os membros da máfia a se disfarçar sob as fachadas dos grandes empresários e a lavar bens e promover o tráfico de armas e de pessoas no país. A reportagem afirma que Chérres e seus associados contribuíram com pelo menos US$ 1,5 milhão para a campanha presidencial do Lasso em 2021.

Após a publicação dos primeiros arquivos de áudio, Lasso ordenou à Polícia Nacional e ao Ministério do Interior que localizassem Chérres e Luque. A publicação também levou o Ministério Público a iniciar sua própria investigação sobre o caso chamado Encuentro ou caso El Gran Padrino. A Procuradoria havia emitido mandados de prisão contra eles em 21 de janeiro. Luque continua a ser um fugitivo da justiça. De acordo com Zapata, ele fugiu do Equador e está alegadamente na Argentina.

O caso, que causou agitação no Equador durante os últimos três meses, também desencadeou o processo de impeachment contra Lasso. Na semana passada, em 29 de março, o Tribunal Constitucional aprovou o pedido dos legisladores da oposição de impedir politicamente Lasso pelo crime de desvio de fundos públicos. Em 31 de março, o Conselho Legislativo de Administração (CAL) da Assembleia Nacional do Equador também aprovou o início do processo de impeachment e ordenou à Comissão de Auditoria que levasse o processo adiante.

A Comissão de Auditoria tem um período de 30 dias para realizar todos os mecanismos constitucionais necessários, incluindo ouvir argumentos contra e em defesa do presidente, antes de apresentar seu relatório final ao plenário da Assembleia Nacional para uma decisão sobre o impeachment. A fim de impugnar e destituir o presidente, é necessário que dois terços dos legisladores (92 votos de um total de 137 membros do parlamento) votem a favor de sua destituição.

Lasso rejeitou o impeachment, bem como a existência de uma estrutura ou rede de corrupção em seu governo e empresas públicas de energia. Seu cunhado Carrera também negou as acusações contra ele. Entretanto, o assassinato de Chérres, que ocorreu dias logo após a aprovação do processo de impeachment contra Lasso, enfraquece sua posição e pode resultar em sua saída.

* Tradução: Pilar Troya.