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Ministros na Câmara: após baixaria contra Dino, oposição suaviza tom com Nísia Trindade

Ministra rebate alegações de "ideologia de gênero" e dribla estratégia da oposição para desgastar governo

Brasil de Fato | Lábrea (AM) |

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Nísia Trindade: "Essa discussão de gênero e raça não é nenhuma novidade. Vem desde a segunda guerra mundial" - Lula Marques/Agência Brasil

A ministra da Saúde Nísia Trindade foi nesta quarta-feira (12) à Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara para dar explicações sobre um programa que introduz medidas de combate a racismo, machismo e LGBTQfobia entre trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS). 

A autora da convocação, deputada Coronel Fernanda (PL-MT), acusou o ministério da Saúde de inserir “ideologia de gênero” nas relações de trabalho da saúde pública e foi seguida por parlamentares de direita, como Nikolas Ferreira (PL-MG), que engrossaram o discurso contra a iniciativa da pasta.

“Essa discussão de gênero e raça não é nenhuma novidade. Ela vem desde a Segunda Guerra Mundial. Como gênero e raça são marcadores de desigualdades sociais, em um governo comprometido com a redução da desigualdade é fundamental que haja políticas que contribuam nessa direção”, justificou Nísia Trindade.

O clima desta vez foi bem mais ameno do que o empregado no dia anterior, terça (11) contra o ministro Flávio Dino da Segurança Pública, que foi impedido de responder perguntas. A sessão foi marcada por interrupções, gritos e ofensas entre parlamentares. A confusão só teve fim com o encerramento precoce do depoimento de Dino. 

O convite para ministros se explicarem em comissões da Câmara faz parte da estratégia da oposição no Congresso. Como ocorreu com Flávio Dino, o plano é levantar temas com potencial de desgastar o governo federal junto ao eleitorado mais conservador. 

Nísia negou defesa do aborto em discurso de posse 

Questionada por uma maioria de mulheres, Nísia Trindade evitou embates diretos, mas manteve a defesa de políticas afirmativas no SUS e da inciativa que motivou sua convocação, o chamado Programa Nacional de Equidade de Gênero, Raça e Valorização das Trabalhadoras no SUS.  

Primeira mulher a comandar a pasta criada há 70 anos, a ministra da Saúde citou o próprio caso como evidência de machismo no setor. Uma das abordagens mais contundentes contra a ministra foi a de Nikolas Ferreira, autor de um discurso transfóbico feito no Dia da Mulher. O parlamentar acusou Nísia de defender o aborto em seu discurso de posse. 

“Em nenhum momento fiz isso”, rebateu Nísia. “O que defendi e defendo é o acolhimento a mulheres e meninas que estão em situações nas quais a lei ampara a prática do abordo”, prosseguiu a ministra. 

Em quase três horas e meia de uma sessão sem gritos nem xingamentos, a pauta que motivou a ida de Nísia à Câmara foi perdendo força. A despeito de reivindicações por melhorias na Saúde dos estados, o clima de respeito foi elogiado por deputadas governistas e da oposição. 

“Não sou esquerda e não sou PT, mas não precisa ser do PT ou ser esquerda para compreender muito bem esse programa [de combate ao racismo e machismo no SUS]. Pelo que eu li, a portaria se resume a respeito. Não é uma questão de ideologia de gênero. Essas palavras [ideologia de gênero] devem ser esquecidas”, pontuou Silvye Alves (União-GO).

Edição: Rodrigo Durão Coelho