COMÉRCIO EXTERIOR

Brasil e China: 'Parcerias são de grande impacto econômico', diz especialista

Para professor da UFFRJ, busca por desdolarização está se tornando cada vez mais real, apesar de obstáculos

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Lula fechou 15 acordos comerciais com a China. - Ricardo Stuckert/Presidência da República

Nesta sexta-feira (14) os presidentes Lula e Xi Jinping, da China, se reuniram no grande Palácio do Povo, em Pequim, e assinaram 15 acordos comerciais e de parceria entre Brasil e China. Entre os principais pactos, estão o acordo para a construção conjunta de um satélite, para a coprodução televisiva, para uma parceria entre a agência de notícias Xinhua e a Empresa Brasil de Comunicação (EBC), e um protocolo que deve ser seguido pelos frigoríficos brasileiros que exportam carne bovina para a China. 

O Ministério da Fazenda tem expectativa de que os acordos totalizem cerca de R$ 50 bilhões em investimentos. Em discurso Lula afirmou que espera que a relação entre Brasil e China não seja meramente comercial. Para fazer um balanço da visita do presidente Lula ao país asiático o Central do Brasil conversou com Pablo Ibañez, professor de geopolítica da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). 

Na visão de Ibañez, o encontro entre os presidentes mostra que a China vem demonstrando dar uma importância muito grande ao Brasil. “Em 2021 a China já dava 208% de seus investimentos ao Brasil sobretudo na área de energia e tecnologia da informação e agora veio a aprofundar ainda mais isso, com uma parceria que vai muito além da parte econômica, mas da parte política também.”

O Brasil é um parceiro estratégico para China e em diversas áreas, aponta o professor. “Ele é tradicionalmente um parceiro da área comercial, agrícola, da área mineral, mas cada vez mais da área de energia e esse evento em particular o que ele tem demonstrado é que o Brasil está se transformando num parceiro extremamente importante na área de tecnologia de informação e de comunicação”, diz. “Lula fez uma fala deixando bem claro que vai dar continuidade aos acordos da Huawei. Esses acordos vão desde a área aeroespacial até a área de agricultura”, complementa.

Apesar dos novos acordos, Pablo relembra que a posição do Brasil em relação ao comércio com os Estados Unidos e com a China sempre foi muito desigual, uma vez que o Brasil vende commodities e compra tecnologia. “A gente se posiciona de maneira muito desigual e sofremos também bastante com a questão dos subsídios agrícolas e de uma série de mecanismos que esse grupo de países acabam colocando pra gente em relação às nossas exportações.” 

Nesse sentido, a passagem de Lula pela China está sendo muito incisiva, segundo ele. “Inclusive no sentido de deixar claro que o Brasil tem novos parceiros que essas parcerias não são pequenas, são de grande impacto econômico, tecnológico, inovador e que os países do Ocidente vão precisar rever suas estratégias caso queiram que o Brasil continue como país que tenha ou aumente as suas parcerias.”

Nos últimos 20 anos o Brasil aumentou seu comércio com a China em quase 6 mil por cento e com a Europa e os Estados Unidos basicamente 300%, se contar os dois juntos, disse Ibañez. “E agora com esse recado com parcerias mais caras de desenvolvimento tecnológico em áreas sensíveis, acho que é um momento bem disruptivo e que os países do ocidente vão precisar estar atentos no maior na maior potência regional aqui da América Latina.”

Com relação a sugestão de Lula de os Brics usarem moedas próprias nas transações comerciais, Pablo avalia que a corrida pela desdolarização já é real, ainda que não seja tão impactante quanto os países do sul global gostariam que fosse. “O dólar quer queira, quer não tem uma garantia, todo mundo tem dólar, então se eu tiver dólar eu tenho facilidade de troca comercial. Mas a perspectiva é de que está se tornando cada vez mais real.”

Além disso, o professor lembrou que todos os países do Brics estão descontentes com as sanções unilaterais, que não apenas foram aplicadas à Rússia no ano passado, mas as aplicadas a diversos países. “Há uma pressão interna desses países dos Brics e de alguns países fora do ocidente para que esse tipo de mecanismo não seja mais utilizado e a utilização de moedas locais facilitariam bastante porque os acordos passam a ter essa possibilidade”, afirma. “Mas do ponto de vista prático ainda há uma dificuldade muito grande de conseguir colocar isso de uma forma corriqueira.”

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Edição: Rodrigo Durão Coelho