Coluna

Kaxassa, Sarjeta e Cachorrão

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Ele dirige o Cineclube Cauim, um cinema do centro da cidade que, em vez de fechar as portas, foi transformado num lugar em que milhares de pessoas da região, vão ver filmes de graça  - Unsplash
Nessa primeira vez, não esperava que minha palestra tivesse público, mas tinha, lotou a sala

Uma vez uma amiga ia se mudar para Ribeirão Preto e não conhecia ninguém lá, queria indicações. Quando se muda de cidade, lugares bons para se fazer amizade são a escola e o trabalho. Aposentado não tem nada disso e só tem a vizinhança para se relacionar. E vizinhos numa cidade grande, não são muito sociáveis. 

Respondi que conhecia muita gente boa lá, que ela poderia procurar e certamente iria se enturmar. Entre esses amigos, com certeza seria bem recebida e logo estaria ambientada ali. Pensei num monte deles, mas resolvi brincar começando a citar os com apelidos mais divertidos. 

Falei: “Vou te dar os telefones deles... O Kaxassa, o Sarjeta, o Cachorrão...”. Ela fez cara de espanto e dispensou minhas apresentações. Perdeu uma boa chance de fazer bons amigos lá. 

O Kaxassa, por exemplo, é um agitador cultural muito bom e pra lá de amigável. Ele dirige o Cineclube Cauim, um cinema enorme do centro da cidade que, em vez de fechar as portas, como os outros, foi transformado num lugar em que milhares e milhares de pessoas da região, crianças e adultos, vão ver filmes de graça. 

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Entre os amigos que ia citar e ela não deu tempo, tem o Sérgio Lago, que foi secretário da Cultura do Município e coordenou durante uns anos a Feira do Livro de Ribeirão Preto, uma feira enorme. Um dia recebi um telefonema do Sérgio perguntando se eu topava fazer um lançamento de livro e uma palestra na feira. 

Viagem de graça, hospedagem num hotel quatro estrelas, almoço e janta em alguns restaurantes a escolher, e um cachê... Vixe! Coisa rara! Claro que topei. E parece que gostaram, porque continuaram me chamando alguns anos mais. 

Nessa primeira vez não esperava que minha palestra tivesse público, mas tinha, lotou a sala. Isso num sábado, às 10 horas da manhã. Fiquei admirado.

E quando terminou a palestra fui avisado pelo Kaxassa que eu seria levado a uma casa que era sede de um grupo de amigos boêmios e culturalmente atuantes. 

Ali, haveria um almoço em minha homenagem. Uma feijoada. Feijoada em minha homenagem?! Nunca mereci isso, mas teve. 

E quem sentou ao meu lado para conversar bebericando até sair a feijoada? O Sócrates, grande ídolo do futebol. Ele era amigão do Kaxassa. Eu era fã do Sócrates e aumentou minha admiração pelo Kaxassa. E a minha amiga perdeu a chance de conhecer essa turma!

 

*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

Edição: Daniel Lamir