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O desafio de levar Torto Arado ao teatro: Aldri Anunciação tem bagagem e experiência à missão

Diretor e ator baiano tem a missão de adaptar obra premiada de Itamar Vieira Junior para os grandes palcos

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Aldri Anunciação, um dos criadores do projeto Melanina Digital, em ação na quinta edição do Festival Melanina Acentuada
Aldri Anunciação, um dos criadores do projeto Melanina Digital, em ação na quinta edição do Festival Melanina Acentuada - Foto: Shai Andrade / Reprodução Facebook

"Adaptar uma obra é sempre um trabalho cirúrgico”, define Aldri Anunciação, ator, diretor, escritor, apresentador de TV e, agora, o responsável por transformar Torto Arado em obra de teatro.

O livro premiado de Itamar Vieira Junior, disponível em 24 países e com mais de 700 exemplares vendidos ou distribuídos, terá sua versão nos palcos a partir do primeiro trimestre de 2024.

O tempo ainda é longo, mas Aldri Anunciação já está com o projeto em andamento. Segundo o diretor, o momento é de “convocar as personagens do livro”. 

“Eu to fazendo um convite para essa figuras que tão no Torto Arado para estarem presentes no palco. Nem todas estarão fisicamente, evidentemente, algumas apenas literalmente.”

O romance, publicado no Brasil pela editora Todavia, acompanha a história das irmãs Bibiana e Belonisia, no sertão da Bahia, tendo como elemento central o direito à terra, ao retratar um Brasil preso ao passado escravista.

As meninas são descendentes de quilombolas e crescem em uma comunidade de trabalhadores rurais, entre a rotina do campo, marcada pela servidão, e as tradições religiosas afro-brasileiras. Ainda na infância, um acidente com uma faca, narrado no primeiro capítulo, as torna intimamente ligadas. 

O livro, que traz influências de romances ambientados no Nordeste brasileiro, de romancistas como Rachel de Queiroz, Jorge Amado, José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, além do poeta João Cabral de Melo Neto, reúne acúmulos da trajetória de 15 anos de Itamar como servidor público do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), órgão responsável pela condução da reforma agrária no país, que encontra-se paralisada atualmente.

Aldri Anunciação é autor do livro Namíbia, não!, que no ano passado virou o filme Medida Provisória, dirigido por Lázaro Ramos. 

O encontro

A adaptação não chegou por acaso a Aldri Anunciação. Segundo o diretor, há uma identificação familiar percebida desde a primeira leitura que se confirmou novamente no ano passado.

“Na minha famílias somos em 15 irmãos e irmãs, alguns também eram roceiros de uma região próxima à Chapada da Diamantina, em Pedrão, perto de Lagoinha”, relata Anunciação comparando a atividade e o local em que as protagonistas do livro viviam.

Aldri Anunciação relata que  a identificação do livro foi confirmada pela mãe, que teve Torto Arado como última leitura antes de falecer. 

“Minha mãe, ao ler o livro, disse que se lembrou de seu Orfeu, o proprietário da terra em que minha família morava”, afirma Anunciação fazendo uma referência ao contexto que o livro se passa, no qual, as personagens principais também vivem em uma área que não pertence a elas, e sim a um proprietário que submete a família a condições que podem ser considerações como análogas à escravidão.

Itamar Vieira Junior

Segundo Aldri Anunciação, o roteiro da peça não será feito à quatro mãos, mas “é um privilégio ter o autor da obra original vivo”.

“É um artista vivo, isso é privilégio para qualquer projeto ter o autor da obra originária ao lado. Eu prevejo várias consultas, não é um trabalho a 4 mãos, mas ele vai fazer as anotações dele com certeza.”


Card Bem Viver / Brasil de Fato

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Edição: Lucas Weber