crise humanitária

Quatro garimpeiros morrem durante ação federal na Terra Indígena Yanomami

Ibama e PRF dizem ter sido recebidos a tiros; invasores persistem três meses após início da operação

Brasil de Fato | Lábrea (AM) |

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Operação contra garimpo já destruiu 18 aviões na Terra Indígena Yanomami - Fernando Frazão/Agência Brasil

Quatro garimpeiros morreram baleados neste domingo (3) durante uma operação do Ibama e da Polícia Rodoviária Federal (PRF) na Terra Indígena (TI) Yanomami, em Roraima. Segundo o governo federal, os agentes foram recebidos a tiros quando tentavam expulsar os invasores do território, que vive uma crise humanitária em função do garimpo ilegal. 

Esse é o quarto ataque contra agentes do órgão ambiental desde o início da retomada do território Yanomami, em 6 de fevereiro. A ação do Ibama e da PRF ocorreu no garimpo conhecido como "Ouro Mil" e resultou na apreensão de onze armas de grosso calibre. Entre elas, espingardas calibre 12, um fuzil e pistolas de uso restrito. 

"O ataque, ocorrido na região de Uiaiacás, é investigado pela Polícia Federal. Há indícios de que uma facção criminosa controla o garimpo em que houve o confronto", informou o Ibama. Os corpos dos garimpeiros chegaram a Boa Vista (RR) na noite de domingo (30).

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"Esta não é a primeira vez que agentes federais são recebidos a tiros por garimpeiros ilegais na Terra Indígena Yanomami. Recente histórico aponta para ocorrências em outros acampamentos clandestinos, como nas comunidades Maikohipi e Palimiú, sempre na tentativa de inibir o trabalho de desintrusão das terras demarcadas", divulgou a PRF. 

Governo enviou comitiva após morte de agente de saúde indígena

No sábado (29), um atentado de garimpeiros contra indígenas na região de Uxiu provocou a morte de Ilson Xirixana, de 36 anos, agente de saúde do Distrito Sanitário Indígena Yanomami. No episódio, outros três indígenas foram baleados e dois seguem internados. 

Após a morte do agente de saúde indígena, o governo federal anunciou o envio de uma comitiva à Roraima, com as ministras dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara; da Saúde, Nísia Trindade; e do Meio Ambiente, Marina Silva. O presidente Lula convocou uma reunião de emergência no domingo (3) e determinou o reforço de todas as ações na Terra Indígena Yanomami.

"A situação de invasores na Terra Indígena Yanomami vem de muitos anos e, mesmo com todos os esforços sendo realizados pelo governo federal, ainda faltam muitas ações coordenadas até a retirada de todos os invasores do território", declarou Guajajara. 

Organização indígena diz que integrantes de facção permanecem no território

A Urihi Associação Yanomami, uma das organizações que representam os indígenas, pediu proteção imediata às comunidades atingidas e afirmou que a população da TI Yanomami está sendo dizimada.

As reivindicações estão em uma carta encaminhada no sábado (29) pelo presidente da organização, Junior Yanomami, ao Ministério dos Povos Indígenas (MPI), Polícia Federal (PF), Funai e Ministério Público Federal (MPF). 

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Mesmo com a operação de expulsão dos garimpeiros, a Urihi afirma no documento que algumas regiões do território Yanomami ainda abrigam invasores, "sendo os mesmos integrantes de facção, o que fragiliza ainda mais a segurança da população". 

Operação contra garimpo destruiu equipamentos e apreendeu minério 

Segundo o Ministério do Meio Ambiente e da Mudança do Clima (MMA), desde o início do ano foram destruídos 327 acampamentos de garimpeiros, 18 aviões, dois helicópteros, centenas de motores e dezenas de balsas, barcos e tratores na Terra Indígena Yanomami. 

Também foram apreendidas 36 toneladas de cassiterita, 26 mil litros de combustível, além de equipamentos usados por criminosos. Imagens de satélite mostraram redução de cerca de 80% de áreas desmatadas para mineração entre fevereiro e abril deste ano, na comparação com o mesmo período do ano anterior. 

Edição: Thalita Pires